Vista por autoridades brasileiras como exemplo do que fazer com as riquezas do petróleo, a Noruega vê o Brasil como modelo do que fazer no combate ao desflorestamento. O governo norueguês se dispõe a pagar para apoiar e acompanhar a experiência brasileira, e pensa em exportar esse conhecimento a outros países de floresta tropical. Quem afirma isso são o primeiro-ministro da Noruega, Jens Stoltenberg, e o ministro de Meio Ambiente do país, Erik Solheim. Eles viajam em setembro ao Brasil para apoiar o recém-criado Fundo de Preservação da Amazônia.
"Nos impressionou o que o Brasil tem feito em biocombustíveis e com a preservação da floresta", diz o primeiro-ministro Jens Stoltenberg. "Vocês estão muito além de qualquer outro país nesse tema", confirma o ministro Solheim. "Há experiências positivas que podemos usar no Congo, em Papua-Nova Guiné e em outros países da América Latina."
Os noruegueses sabem do aumento recente da taxa de desmatamento e das ameaças à floresta, mas Solheim argumenta que não existe em nenhum outro lugar do mundo um mecanismo tão sofisticado de acompanhamento em tempo real, por satélites e relatórios periódicos, do que acontece nas áreas de mata tropical. A criação do fundo de proteção da Amazônia, discutido nos últimos meses entre autoridades brasileiras e norueguesas, também impressiona o governo de lá.
"É, de longe, o melhor fundo do mundo. Estive na Indonésia, Papua-Nova Guiné, Congo e outros países com florestas tropicais, não há nada similar", relata Solheim. "Logicamente, esse fundo evoluirá, esperamos aprender com a experiência", comenta ele. A continuidade do financiamento estará vinculada ao sucesso na redução do desmatamento no Brasil, avisa o primeiro-ministro Stoltenberg.
Embora haja ministros na coalizão governista norueguesa que temem apoiar agricultores na floresta, governo e organizações não-governamentais do país concordam que o combate ao desmatamento no Brasil deve incluir apoio monetário a atividades econômicas alternativas para as populações amazônicas. "Já passamos da fase de projetos-piloto, localizados", comenta o secretário-geral da ONG Amigos da Terra na Noruega, Jan Odegard. "Com o dinheiro destinado pela Noruega para enfrentar a mudança de clima, temos de financiar políticas nacionais contra o desmatamento", diz ele, que vê o Brasil como possível "modelo para o mundo".
"Vocês precisam de incentivos para que as pessoas que moram nas áreas de floresta tropical ganhem mais evitando cortar a madeira do que com o desflorestamento", diz o Solheim. "A maioria dessa população é pobre, que quer sustentar a família, dar educação às crianças, então é muito compreensível que tenha de haver incentivos a eles".
Para o ele, o Brasil, mesmo com "problemas", avançou impressionantemente nos mecanismos de policiamento e repressão à derrubada das matas. "É importante ter iniciativas positivas ao lado da fiscalização", endossa o coordenador da Amigos da Terra para a Amazônia, Torkjell Leira, que critica apenas o pequeno número de representantes da sociedade civil no conselho gestor do fundo brasileiro, dominado pelo governo.
O ministro brasileiro do Meio Ambiente, Carlos Minc, já declarou que o Brasil receberá US$ 100 milhões, dos cerca de US$ 600 milhões anuais que a Noruega pretende destinar, por cinco anos, a projetos de redução das emissões de carbono, mas o primeiro-ministro Jens Stoltenberg afirma que a quantia a ser doada ao país ainda é segredo, a ser revelado durante a visita ao Brasil, em setembro.
A Noruega planeja usar parte do dinheiro em projetos da União Européia e do Banco Mundial para proteção de florestas em países tropicais, onde, segundo as autoridades norueguesas, a tecnologia e serviços brasileiros poderão ser usados, com financiamento nórdico.
O apoio da Noruega a projetos de meio ambiente é defendido pelo país como uma maneira de compensar a contribuição negativa, para o meio ambiente, da indústria de petróleo - principal atividade econômica, responsável por 24% do Produto Interno bruto e 50% das exportações norueguesas.
(Por Sergio Leo, Valor Online, 25/08/2008)