Quando tanto se cita a falta de emprego no País, ainda que os índices estejam melhorando com a abertura de milhares de postos de trabalho formais mês a mês, existe um setor que atua quase que na informalidade mas merece atenção, cuidados e diretrizes. Trata-se da reciclagem do lixo residencial, comercial e industrial, o qual normalmente é separado, recolhido e levado até as centrais por catadores avulsos que usam ou carrinhos tracionados por eles mesmos ou com carroças, o caso peculiar de Porto Alegre.
Aliás, aqui temos até lei que prevê, em oito anos, a substituição das carroças por outro tipo de transporte ou o encaminhamento dos seus proprietários para novas atividades. No entanto, se há setor que merece, por vários motivos, ser bem aproveitado esse é o da reciclagem. O Brasil está bem colocado no trabalho, mas agora a situação ainda é melhor. É que o Brasil reciclou 96,5% das embalagens de lata consumidas em 2007, mantendo-se na liderança mundial, pelo sétimo ano consecutivo.
Os dados são da Associação Brasileira do Alumínio e da Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade. Segundo dados das entidades, foram recicladas no ano passado 160,6 mil toneladas de sucata de latas, o que corresponde a 11,9 bilhões de unidades, 32,6 milhões por dia ou 1,4 milhão por hora. São números mais do que animadores. Trata-se do maior resultado registrado pelo índice, desde que ele passou a ser calculado em 1990, e mantém o Brasil na liderança mundial pelo sétimo ano consecutivo, em reciclagem de latas de alumínio. Até então o recorde havia sido alcançado em 2005, quando o nosso País atingiu a marca de 96,2%. Em 2007, o volume de latas coletado foi 15,5% maior que o do ano anterior, acompanhando as vendas, que cresceram 13% no mesmo período. Todos sabemos das vantagens econômicas e ambientais que advêm da reciclagem de latas de alumínio.
O setor, na reciclagem de latas para bebidas, movimentou em 2007 R$ 1,8 bilhão, sendo que somente a etapa de coleta, que compreende a compra de latas usadas, injetou R$ 523 milhões na economia nacional, o equivalente à geração de emprego e renda para 180 mil pessoas. Isso é espetacular, pelos mais diversos e ponderáveis motivos. Além dos benefícios sociais e econômicos, a reciclagem de latas de alumínio também favorece o meio ambiente. O processo de reciclagem de latinhas libera somente 5% das emissões de gás de efeito estufa quando comparado com a produção de alumínio primário. Ao substituirmos uma quantidade equivalente de alumínio primário, a reciclagem de 160,6 mil toneladas de latinhas proporcionou uma economia de 2.329 GWh/ano de energia elétrica ao País, o suficiente para abastecer, por um ano inteiro, uma cidade com mais de um milhão de habitantes, como Campinas, São Paulo.
Estamos em meio a um período de mudanças tecnológicas e, se for o caso, a próxima administração municipal deverá iniciar negociações com vistas à instalação em algum bairro da Capital de equipamentos industriais específicos para a reciclagem de latas e de todo o tipo de resíduos que possam ser novamente aproveitados. Isso gerará mais e mais ocupação para trabalhadores que ainda estão na informalidade. Com isso e com o novo modelo do Simples Nacional talvez seja possível enquadrar milhares de pessoas no mercado formal, com previdência e FGTS. A reciclagem é atividade correta que traz inúmeros benefícios e não pode mais ficar à margem de políticas perenes em Porto Alegre.
(Jornal do Comércio, 25/08/2008)