Parte de agricultores já se diz disposta a deixar terra indígena se STF decidir pela homologação contínua
Dentro da Raposa/Serra do Sol (nordeste de RR), a Folha encontrou opiniões divergentes entre os habitantes não-índios sobre sua permanência ou retirada da terra indígena.
No dia 27, o STF (Supremo Tribunal Federal) vai decidir se mantém a homologação da Raposa/Serra do Sol de forma contínua, o que resultaria na retirada de quem não é índio, ou em "ilhas" nas quais os não-índios -cinco rizicultores, seus empregados e pequenos agricultores- poderiam residir.
Na Vila Surumu, centro da disputa entre índios e fazendeiros, parte dos pequenos agricultores acha que o melhor é aceitar a indenização e deixar a área. Outros dizem que não abandonam a terra indígena "nem mortos". Quando a reserva foi homologada, em 2005, 284 famílias de não-índios viviam na área. O governo federal já indenizou 205 famílias, gastando cerca de R$ 11,9 milhões. Mais 53 aguardam indenização. Outros 26 se recusam a receber o dinheiro -nesse grupo estão os rizicultores.
Na Vila Surumu (226 km ao norte de Boa Vista), cujo acesso é por uma vicinal (estrada de terra) da BR-174, que liga o Brasil a Venezuela, vivem menos de dez famílias de não-índios. Antônia Rodrigues dos Santos, 55, cearense, não aceita dinheiro para sair da terra.
Ela disse que vive na terra indígena há 38 anos. Casada com o vaqueiro Manoel Ferreira dos Santos, 54, só conseguiu um naco de terra há cerca de seis anos, quando se mudou para a Vila Surumu. Antes, ela e o marido viviam nas fazendas de gado como empregados.
Em sua pequena propriedade, Antônia tira o sustento da criação de galinhas, porcos e cabras. Desconfiada ao falar do assunto, ela não diz como adquiriu o imóvel. "Nós temos que lutar até o fim. O direito deles [índios] é o nosso também. Não aceito dinheiro", diz.
A índia macuxi Ilda Maria Albuquerque, 67, teme ser obrigada a deixar a área por ser casada com o vaqueiro José Costa Albuquerque, 78. Segundo a Funai, casais mistos podem permanecer na Raposa.
Mas os casais não parecem ter essa informação. Ilda prefere receber a indenização e deixar a área de conflito. "Queremos R$ 30 mil, mas a Funai ofereceu R$ 25 mil."
(Por Kátia Brasil, Agência da Folha, Folha Online, 25/08/2008)