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eucalipto no pampa
2008-08-25

Em vez de indexar o arrendamento para implantação de florestas à cotação da madeira, a Aracruz atrelou-o ao preço do gado, tentativa de se integrar à economia do interior gaúcho. Reportagem de hoje mostra como investimentos no setor geram renda e mudam a história de fazendeiros e de moradores do meio rural.

Terras valorizadas
Felipe Nobre irá investir parte do dinheiro da venda de 250 hectares para uma florestadora na construção de um prédio. Erasmo Chiapetta irá aplicar o valor do arrendamento de 400 hectares para a Aracruz na melhoria de campos de pecuária. Por meio de compra de terras, arrendamento ou parcerias, as empresas florestais que se instalam na Metade Sul chacoalham a economia da região.

Aracruz, Stora Enso e VCP devem adquirir cerca de 300 mil hectares no Estado, injetando pelo menos R$ 1,2 bilhão no bolso de produtores. Empresas de outros setores (a maioria moveleiras) como a Granflor, a chilena Masisa ou a Fibraplac investem numa base florestal de 80 mil hectares, a maior parte na Região Sul.

Os investimentos já ajudaram a valorizar as terras no Rio Grande do Sul. De acordo com Renato Rostirolla, gerente regional florestal da Aracruz, a cotação do hectare subiu entre 50% e 70% nos últimos três anos, por conta da alta do preço dos grãos e do boi e da atividade florestal.

Há dois anos, o veterinário Felipe Nobre vendeu, por cerca de R$ 750 mil, pedaço de um campo herdado. Parte do faturado serviu para a compra de um apartamento, e a outra fatia deve ser investida na obra de imóvel em São Gabriel.

- Muita gente vendeu campo e construiu prédios. Há um processo de desenvolvimento urbano por causa dos investimentos florestais - atesta Erasmo Chiapetta, que arrendou parte de suas terras.

O valor pago anualmente para Chiapetta pela Aracruz é indexado em quilos de boi gordo, e não em metros cúbicos de madeira, forma de a empresa se integrar à cultura e à economia da região. Chiapetta deve receber 36,7 mil quilos de boi gordo (cerca de R$ 108 mil) - o dobro do que o arrendamento para pecuária renderia, calcula.

Edson Cardoso, de Piratini, plantou nove hectares de eucalipto com venda garantida da madeira para a VCP. Para isso, fez um financiamento de R$ 21,2 mil, a vencer na entrega do produto.

- Com um mato como esse, o produtor deve retirar, limpo, de renda, R$ 5,4 mil por hectare. Vale a pena, desde que não elimine alternativas. E que o mato seja consorciado com outras formas de obter renda, como apicultura - afirma o biólogo da Emater Cairo Furtado, da região de Pelotas.

Enquanto o dinheiro da madeira não vem, Edson orgulha-se do mato denso que cultivou, hoje também um abrigo para os 20 ovinos e 10 bovinos mantidos em campos contíguos.

Ele é da turma
A picape ladeia o mato de eucalipto, as árvores formando uma parede vazada rente ao veículo. Na parte traseira do carro, um adesivo anuncia: "Galera do Zocalipio". Ao volante, o produtor rural Nadir Noguez enche a boca para elogiar a própria floresta.

- Mas tá ficando lindo! Olha, ficam retinhas (as linhas de árvore)! Parece (o rastro de uma) bala!

Os 80 hectares de eucalipto, com venda de madeira garantida para a VCP, foram a salvação da lavoura para Noguez. A história, ele conta ao descer da picape e adentrar o mato. Debaixo das árvores, já com mais de 15 metros de altura, o sol desaparece, e é como se alguém tivesse ligado o ar-condicionado. Ao lado da mulher, Ledanir, o produtor lembra do drama de 2005, quando teve prejuízo de R$ 1 milhão após a seca destruir os 600 hectares de soja cultivados em terras próprias e arrendadas.

Desiludido com a agricultura, dívida no banco, o lavoureiro e pecuarista, dono de 350 hectares em Piratini, viu no florestamento uma alternativa. Sem dinheiro e aproveitando que a garantia do financiamento não incidia sobre a terra, mas sim sobre a madeira cortada, pegou empréstimo de R$ 190 mil, a maior parte já liberada, e deu início ao plantio.

Em 2005 mesmo, preparou o solo e enterrou as mudas. Mas a história do ano anterior se repetiu, e o drama da seca voltou a se abater sobre o Rio Grande do Sul. Para salvar o mato, Noguez, a mulher, o filho, Nede Vitor, e mais sete funcionários travaram uma batalha corpo-a-corpo contra São Pedro. O grupo passou os dias do verão 2005/2006 subindo e descendo morro para regar as plantas ¿ molharam, uma a uma, as 133 mil mudas de eucalipto. Quando, mais tarde, o mato foi tomado por ervas daninhas, trocaram a mangueira pela enxada.

- Às seis da manhã, eles já estavam na lavoura, e só saíam às 10 da noite - testemunha o biólogo da Emater Cairo Furtado, assistente do projeto.

Se deram trabalho, as dificuldades, por outro lado, serviram para garantir um know-how ímpar a Noguez. Tanto que, no ano passado, o produtor começou a prestar serviços de preparação de solo para empresas de atividades florestais.

Em 2007, faturou cerca de R$ 200 mil aprontando a terra para receber mudas em fazendas de terceiros. Este ano, deve ter receita de R$ 300 mil com o serviço. Os dois tratores que o produtor tinha quando começou já são cinco hoje.

As dívidas da soja não existem mais. Dos tempos de sojicultor, resta a colheitadeira, que há dois anos repousa em um galpão.

- Já me propuseram fazer 700 hectares de milho agora. Mas por que eu vou deixar o certo pelo duvidoso? Fazendo prestação de serviço eu não preciso ficar rezando para São Pedro - diz.

A safra do bolicho
Vila da Palma é uma comunidade rural com uma população que não chega a cem habitantes, a 50 quilômetros do centro de São Gabriel. Um lugar pacato, não fossem as explosões de dinamite que fazem os tetos de zinco dos casebres do povoado tremerem. Partem da mina de calcário mantida pela Votorantim na região.

A mineradora instalou-se no local na década de 50, a atividade teve seu auge três décadas depois e 80 casas foram erguidas para abrigar parte dos empregados, que já foram 280. Dessas, apenas seis estão ocupadas.

Há aproximadamente três meses, as coisas mudaram na Vila da Palma. Caminhões de adubos, tratores, automóveis e ônibus começaram a circular. Sem contar cinco novos moradores que alugaram uma casa. Tudo em razão de uma floresta de eucalipto que a Aracruz está plantando em fazenda comprada na área.

O movimento causou uma revolução na rotina de Sérgio e Lúcia Rodrigues, donos de um pequeno bolicho na Vila da Palma - armazém que vende os secos e molhados básicos, incluindo fumo de rolo e aguardente.

A pedido dos trabalhadores ligados ao eucalipto, os bolicheiros começaram a fazer viandas de almoço e a preparar café e bolo. As vendas duplicaram. Resta saber se a bonança irá durar, uma vez que o eucalipto precisa de mão-de-obra intensiva nos primeiros dois anos e no corte, no sétimo ano. Para que haja atividade constante, seria preciso plantio de novas áreas. Por enquanto, Sérgio e Lúcia não escondem a esperança de que o desenvolvimento na região não seja tão breve como a dinamite detonada na mina.

Surfista campeiro
O administrador de empresas Flávio Herter não era o que se pode chamar de homem do campo. Carreira na indústria automotiva, sócio de uma conversora de Gás Natural Veicular em Porto Alegre, praticante de surfe e de jiu-jitsu, dos três irmãos era o menos ligado nas terras da família, em Pedras Altas.

Até tomar conhecimento da parceria proposta pela VCP. Empreendedor, interessou-se pelo plantio de eucalipto para a empresa e, em 2005, assumiu a implantação do mato em 80 hectares da fazenda. Acompanhou de perto a preparação do solo e o plantio. Para surpresa dos irmãos, passou a ser presença constante na estância.

- Eles não acreditavam. Diziam:  "O Flávio na fazenda, pegando frio? O Flávio pega é onda" - lembra.

Nas lides campeiras, em meio às plantações, o neofazendeiro não se conformava com os métodos de combate à formiga, praga para o eucalipto.

- Eu olhava aquilo e pensava: que ineficiente colocar o pessoal a caminhar o dia todo para colocar formicida. Tem de ter um jeito melhor!

E ele foi atrás desse novo jeito. Primeiro, tentou a cavalo, os peões da estância montados com aplicadores nas costas. Para garantir que as aplicações fossem feitas em linhas de quatro metros de distância uma da outra, esticou cordas entre um e outro trabalhador. Não funcionou. No segundo ano, tentou o trator. Nova frustração. Até que veio a idéia: triciclos ou quadriciclos.

Chegar ao equipamento final levou três anos de peregrinação por oficinas. A máquina é um quadriciclo com um aplicador que despeja veneno conforme a distância estabelecida, com auxílio de um GPS, que torna a ação precisa e ainda gera mapas.

Em 2007, Herter fundou a Combate Serviços Florestais, investimento de R$ 300 mil, e vendeu a conversora de GNV. Com frota de três quadriciclos, a empresa fechou contrato com a VCP para aplicar formicida em 9 mil hectares. Enquanto negocia contratos, Herter vive pelos campos gaúchos. Só não larga o jiu-jitsu e o surfe, no verão, no litoral gaúcho.

(Zero Hora, 25/08/2008)


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