Os 47 sambaquis espalhados por todas as regiões de Joinville têm uma extensa lista de ameaças, que vai do acúmulo de lixo e entulho, passando por construções não-autorizadas, até a caça de tatu, comum na zona rural. "Essa caça ilegal é feita a enxadadas. Chega a tirar montes inteiros dos sambaquis", conta o geólogo Heloi Labatut de Oliveira, do Museu do Sambaqui de Joinville.
Outro obstáculo para a preservação dos sambaquis (sítios arqueológicos protegidos pelo governo federal) é a falta de mapas que indiquem onde eles começam e onde acabam. Para ajudar no estudo dos casqueiros, a equipe técnica do museu toca, desde julho, um projeto de mapeamento e medição da área de cada um.
Sambaquis são áreas em que os povos pré-coloniais deixaram vestígios de sua passagem. O morador que joga lixo ou constrói sobre essas áreas (sem passar antes por um processo de salvamento arqueológico) está sujeito à multa do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) ou notificação da Secretaria Municipal de Infra-estrutura (Seinfra).
O primeiro passo para o mapeamento é a delimitação dos sítios, que terá a ajuda de ferramentas computadorizadas (entre elas, um GPS topográfico de alta precisão).
Os técnicos escavam a área a cada dez metros para verificar a presença de conchas. A equipe também pesquisa entre os moradores a história do local e pede sugestões do que fazer para preservar as áreas. Até agora, a maioria sugere que o sítio seja cercado ou vire um praça ou área de lazer.
A pesquisa vai render material didático para ser distribuído nas escolas, além de catálogos informativos. Alterações como cercas ou iluminação especial podem ser alvo de um futuro projeto.
Depois de mapear, os técnicos vão instalar placas informativas, com dados sobre cada sambaqui e orientações de como conservar a área. Os dois sambaquis do bairro Guanabara já foram mapeados. Agora, a equipe trabalha no Espinheiros, na zona Leste, onde há sete casqueiros, cinco deles na ilha de Espinheiros. Os dois sambaquis do bairro perto da área urbana sofrem com a degradação. Um deles - o Espinheiros 1 - sumiu, aterrado pelos donos de terrenos.
O Espinheiros 2 acumula lixo e também teve parte aterrada. Sob uma camada de terra de mais de um metro, a equipe do museu tem encontrado conchas que indicam a presença do sítio.
O geógrafo Oliveira diz que a equipe pode pedir licença aos donos de terrenos para escavar a área cercada por muros. "Os moradores estão aqui há muitos anos e sabem a história do local. Vamos fazer um relatório para explicar a situação de cada sambaqui".
O documento será entregue ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O trabalho deve seguir até janeiro, começando pelos sambaquis das áreas urbanas, seguindo pelos da zona rural ocupada e, por último, os de mata. O projeto tem investimento de cerca de R$ 223 mil.
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A Notícia, 22/08/2008)