Os projetos de créditos de carbono desenvolvidos no Brasil poderão contar, a partir de agora, com um selo "premium" de sustentabilidade. Referência no mercado global, o Gold Standard apresenta três vantagens competitivas frente aos papéis negociados no mercado de carbono: valor financeiro maior, risco menor ao investidor e a garantia de que as questões ambientais sejam de fato respeitadas.
O selo já está estampado em pouco mais de 90 projetos internacionais - das Bahamas à Índia - com foco na eficiência energética e energia renovável. De acordo com Caitlin Sparks, diretora de marketing da Global Standard, cada crédito comercializado com o selo vale entre 10% a 20% a mais no mercado internacional. "O selo é sinal de amadurecimento do mercado, que hoje procura papéis mais confiáveis", diz a executiva, que esteve recentemente em São Paulo para ministrar dois workshops sobre como obter a certificação em projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), do Protocolo de Kyoto. "É uma vantagem porque agrega valor ao projeto e ainda garante que o ambiente está sendo beneficiado", afirma.
Segundo a executiva, além dos cerca de 90 projetos registrados que já têm o selo, 75 estão a caminho de obtê-lo e outros 200 apresentaram interesse no produto.
Diferentemente dos créditos de carbono convencionais, os projetos Gold Standard miram o desenvolvimento sustentável, que vai além do aspecto estritamente ambiental. Isso quer dizer que devem atender critérios sociais (gerar empregos, por exemplo) e econômicos (como a introdução de tecnologias limpas que incentivem um novo mercado). Todos são escrutinados por um conselho técnico e ONGs parceiras, e os projetos passam ainda pela avaliação de uma terceira entidade independente para garantir sua integridade.
Com sede em Basiléia, na Suíça, a Gold Standard é uma organização sem fins lucrativos criada em 2004 por um grupo de ambientalistas que questionaram o "direito de emitir gases-estufa" dos países ricos, determinado por Kyoto. Com o protocolo, surgiram mecanismos que permitem a esses países financiar projetos para a redução de emissões desses gases em países em desenvolvimento, como o Brasil, um mercado de compra e venda do "direito de emissão" - os créditos de carbono. Não satisfeitos, os ambientalistas desenvolveram o selo de melhores práticas.
Apesar do pouco tempo em ação, o selo ganhou fôlego e angariou empresas como Nike, Cargill, JP Morgan, Merril Lynch e Bank of America. Conta com quatro escritórios - Basiléia (sede), Genebra, Roma e San Francisco - e representações na China, Índia, África do Sul e agora o Brasil. Será representado aqui pelo consultor Shigueo Watanabe, uma referência em créditos de carbono no país.
Segundo Caitlin, o foco nos projetos de eficiência energética e energia renovável se explica porque fornece reduções de emissões reais e de longo prazo. Além disso, permitem a transferência de tecnologias e satisfazem os critérios de desenvolvimento sustentável, formando as bases para o crescimento e a redução da pobreza.
Primeiro selo a chegar ao mercado brasileiro de créditos de carbono, o Gold Standard é considerado uma referência de integridade no mercado de carbono. No exterior há também outras opões de certificações, como VCS e Green-e.
(Por Bettina Barros,
Valor Online, 22/08/2008)