O interesse comum para que o etanol possa ser comercializado como uma commodity - produtos primários negociados no mercado internacional pela bolsa de valores- vem sendo discutido entre o ministro de Minas e Energia, Edson Lobão, e o subsecretário de Energia dos Estados Unidos, Jeffrey Kupfer.
Em reunião com Kupfer no dia 5 de agosto, Lobão lembrou que, assim como o Brasil, os Estados Unidos pretendem manter uma política cada vez mais intensa na produção de biocombustíveis.
Os norte-americanos deverão produzir cerca de 34 bilhões de litros de etanol a base de milho este ano. Já a produção brasileira deve chegar a 23 bilhões de litros, extraídos de cana-de-açúcar. Kupfer ressaltou que os dois países têm interesse em tornar o etanol uma commodity. No entanto, o subsecretário não sinalizou a possibilidade de o governo americano reduzir ou eliminar as tarifas para importação do etanol brasileiro.
Os esforços para tornar o etanol uma commodity trarão grandes benefícios para os empresários do ramo. Isso porque a medida impulsiona um imenso e lucrativo mercado: o da retificação, padronização e certificação. Algo muito parecido com o que compreende hoje o mercado das refinarias de petróleo.
Como explica o engenheiro agrônomo Horácio Martins de Carvalho, “para o etanol ser incorporado como mistura no combustível dos diversos países do globo, é preciso que esteja padronizado”, explica.
Bom para poucos. Péssimo para muitos. Horácio Martins aponta que comercialização do etanol como commodity irá exacerbar ainda mais os problemas relacionados à atual estrutura agrária brasileira como a pobreza no campo, a concentração da propriedade, a produção de alimentos e os crimes contra os direitos humanos e trabalhistas.
A intenção é permitir que o etanol seja um produto negociável na Bolsa de Futuros. “Mas para isso, é preciso expandir ainda mais a monocultura da cana, pois o Brasil não pode dizer que vai ofertar 20 milhões de litros em dois anos e não produzir isso. O problema do mercado de futuros é exatamente este: não se pode romper com ele. Nossa estrutura agrária acaba sendo refém desse mercado, como já acontece com a soja, a pecuária, o cacau e outros”, pondera o engenheiro.
Dessa forma, o impacto no preço da terra será grande, pois como explica Horácio, o campo tenderá cada vez mais a ser usado para as plantações de maior rentabilidade, ou seja, as destinadas à exportação, afetando as produções para consumo interno. “Pro capitalismo tanto faz. Ele não está preocupado . Para ele se falta feijão no Brasil, importa-se da África. Até mesmo porque a produção de alimentos no mundo já está concentrada nas mãos de grandes grupos empresariais que produzem em várias partes do mundo. Ou seja, eles importam e eles vendem”, explica.
(MST, 22/08/2008)