O presidente da Aracruz, Carlos Aguiar, esteve em Porto Alegre na quarta-feira (20/08) e tratou de
reafirmar as intenções da empresa no Estado.
Segundo ele, o negócio com a VCP “em nada afeta o projeto de ampliação
da unidade de Guaíba”. De fato, o projeto já em andamento e licenciado
pela Fepam, não parece realmente correr riscos. Mas e o projeto de sua
co-irmã Stora Enso, que adquiriu terras em faixa de fronteira?
Uma combinação de interesses poderia deixar o Rio Grande do Sul com apenas duas
fábricas das três previstas.
Já é especulado, mas não admitido, que a Votorantim Celulose e Papel
(VCP), atual mandatária da Aracruz, possa “ceder” o seu projeto no
Estado para a Stora Enso. Em troca comandaria sozinha a Veracel,
fábrica de celulose tocada em conjunto por Aracruz e Stora.
A
Stora Enso ficaria “livre” do problema da faixa de fronteira. E a VCP
manteria sua bandeira no Estado por meio da unidade Aracruz de Guaíba.
Para
o presidente da Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor),
Roque Justen, se a tese for confirmada no futuro pode ser uma boa,
sendo que a Stora Enso está distanciada das demais pelo prazo em razão
das complicações na fronteira. Roque Justen foi um dos
participantes do 10º Congresso Florestal Estadual e 1º Seminário
Mercosul da Cadeira Madeira, realizado de 19 a 21 de agosto em Nova
Prata.
Ele ressalta que sempre pensou
na Stora Enso como um projeto complementar, já que é uma gigante na
fabricação de papel. E para o Rio Grande do Sul seria interessante que
permanecesse. “Não tenho confirmação alguma das empresas, mas nesses
casos (fusões) seria algo comum, afinal são empresas do mesmo ramo com
projetos semelhantes”, comenta.
Atuação SócioambientalApesar dos rumores que a empresa poderia desistir do projeto no Rio Grande do Sul, o vice-presidente da Stora Enso na América Latina, Otávio Pontes foi firme ao discordar. “Estamos no Brasil para ficar por muitas décadas e, por isso, temos que pensar em fontes de fibra sustentável, nas mudanças climáticas, no desempenho social em novas áreas de atuação e no relacionamento pró-ativo com a sociedade”, destacou durante o 10º Congresso Florestal Estadual e 1º Seminário Mercosul da Cadeira Madeira, que se encerra hoje (22/08) em Nova Prata, na Serra Gaúcha.
A Stora Enso tem base na Escandinávia, e é líder mundial na produção de papel e celulose, gerando o dobro de tudo o que é produzido no Brasil. Apesar do atraso no cronograma inicial, a empresa já tem 12.800 hectares de florestas plantas no Rio Grande do Sul, com previsão de chegar a 20 mil hectares até o final deste ano.
A Constituição Federal diz que empresas estrangeiras devem obter assentimento do Conselho de Defesa nacional para adquirir terras em faixa de fronteira. Na tentativa de regularizar a situação a Stora Enso abriu duas empresas nacionais para adquirir terras no Estado. A polêmica, se a solução encontrada é legal ou não, está na Justiça.
A empresa ainda
reclama de uma suposta má-fé do Incra, responsável por encaminhar as análises das compras de terras ao Conselho de Defesa Nacional.
Por sua vez, a superintendência do Incra no Estado alega que a Stora Enso se comprometeu em 2005, a solicitar o assentimento antes da compra de terras, mas que até abril do ano passado havia apresentado 36 processos referentes a 17 mil hectares, enquanto na imprensa divulgava-se 96 imóveis em 46 mil hectares.
Madeira CertificadaSegundo Pontes, 61% da madeira global utilizada pela Stora Enso possui certificação e o aumento do percentual é um esforço contínuo da empresa. “Só não é cem por cento certificada, pois na Europa boa parte da aquisição da madeira é de pequenas propriedades que não investem na certificação”, disse o executivo.
Conforme ele, todo projeto analisado pela empresa prevê aspectos econômicos sim, mas também aspectos sociais e ambientais. “O licenciamento nos exige um exemplar desempenho ambiental, conduta ética dos negócios, bem-estar dos funcionários. E também saber enfrentar os conflitos de uma atividade ligada à terra”, completou Pontes.
(Por Carlos Matsubara, Ambiente JÁ, 22/08/2008)