A ampliação da participação acionária da Votorantim Celulose e Papel (VCP) não interferirá nos investimentos da Aracruz na expansão de sua unidade industrial em Guaíba. De acordo com o diretor-presidente da Aracruz, Carlos Aguiar, uma negociação entre ambas, a princípio, não mudará o cronograma das obras. "Neste momento, não há mudança alguma nas obras, e a ampliação em Guaíba segue o ritmo normal", explicou Aguiar na reunião-almoço semanal Tá na Mesa, da Federasul. No início de agosto, a VCP divulgou a aquisição de 28% do capital votante da Aracruz por R$ 2,71 bilhões. Com isto, a empresa aumenta sua participação no controle para 56%.
O empreendimento em Guaíba, com investimentos de R$ 4,9 bilhões para quase quadruplicar a capacidade de produção da fábrica, já resultou na consolidação de 70% dos contratos para a obra. A estimativa é de que a unidade atinja 1,8 milhão de toneladas de celulose branqueada de eucalipto a partir de 2010. Atualmente, cerca de 300 homens trabalham na terraplanagem do local da construção. Em três meses, o projeto avançará para a colocação de infra-estrutura e em seguida virá o estaqueamento.
Para Aguiar, a melhor alternativa de negócios entre as companhias seria uma fusão. A junção de ambas empresas, hoje consideradas pequenas em relação a gigantes do mercado mundial, originaria uma companhia com maior poder de produção e negociação com clientes e fornecedores. "Uma fusão seria desejável para originar uma companhia com mais condições de navegar no mercado mundial, como vimos ocorrer com a Ambev e a Vale em seus setores", opinou.
A redução na quantidade de clientes do setor de papel e celulose no mundo tem forçado as empresas a se juntarem para ganhar mais poder na negociação de preços. Desta forma, a onda de consolidação é uma tendência internacional. Nos últimos 27 anos, o número de grandes fabricantes do setor nos Estados Unidos e no Canadá caiu de 130 para 80.
Quanto à possibilidade de uma fusão brecar o investimento planejado pela VCP em uma fábrica no Rio Grande do Sul, Aguiar explica que tudo dependerá do mercado. "Se a demanda continuar alta na China e a crise nos Estados Unidos já tiver passado de seu pior momento, a demanda continuará alta, e provavelmente será oportuna a instalação da unidade planejada pela VCP, imagino que entre dois ou três anos", projeta.
Em caso de uma fusão entre as duas companhias, a fábrica expandida da Aracruz poderá trabalhar com a madeira já plantada pela VCP na Metade Sul do Estado, um pouco mais velha do que a madeira cultivada pela Aracruz. Sobre o plantio de árvores, Aguiar reclamou da legislação ambiental gaúcha, que obriga que, para cada hectare de floresta comercial plantada, seja preservado um hectare de mata nativa no Estado. "Isso torna os negócios no Estado menos atraente. Em São Paulo, por exemplo, o aproveitamento comercial da área é de 70%", comparou.
(Jornal do Comércio, 21/08/2008)