A indefinição sobre a mudança de controle acionário da Aracruz Celulose não alterou o andamento dos projetos da empresa no Estado, garantiu ontem (20/08) o diretor-presidente da Aracruz Celulose, Carlos Aguiar, durante reunião-almoço da Federasul.
O executivo disse que dentro de 90 dias, a Arainvest Participações, do Grupo Safra, se posicionará sobre a venda dos 28% de ações à Votorantim Celulose e Papel (VCP), que já detém outros 28% de ações comprados dos herdeiros do norueguês Erling Lorentzen, um dos fundadores da empresa. Se o negócio for efetivado, a VCP fica com 56% do capital votante da Aracruz, passando a responder por uma produção total de 4,6 milhões de toneladas de celulose por ano.
Carlos Aguiar confirmou a construção do porto em Rio Grande do Norte, "pelo menos enquanto não houver a fusão", e sobre o qual levantou a possibilidade de ser um dos mais eficientes, e disse que o projeto da nova unidade em Guaíba "está à pleno vapor", com cerca de 250 trabalhadores no canteiro de obras.
"Uma das razões da minha vinda ao Estado foi justamente a compra de equipamentos para a nova unidade. Já adquirimos 70%, num gasto estimando de US$ 1,5 bilhão", afirmou. Com o início da operação em 2011, a fábrica em Guaíba prevê elevar sua produção de 450 mil toneladas/ano para 1,25 milhão de toneladas/ano.
Em sua palestra sobre a contribuição das florestas plantadas para o crescimento do Rio Grande do Sul, que contou com a presença de deputados estaduais, federais e prefeituráveis, o executivo se queixou da legislação estadual, "muito restritiva", segundo ele, e destacou que as atividades geradas pelo projeto Aracruz com a expansão da fábrica em Guaíba, baseada em um investimento de US$ 2,6 bilhões, representarão 1,6% do PIB do Estado e a geração de 13 mil empregos entre 2010 e 2016.
Aguiar mostrou um panorama amplo do setor florestal no mundo e no país. Segundo o executivo, por ter uma vocação natural para a formação de clusters como a indústria química, de automação industrial e logística, a silvicultura terá um papel expressivo no desenvolvimento do Rio Grande do Sul, em especial na Metade Sul.
De acordo com o presidente, o desenvolvimento do setor, que tem registrado uma demanda mundial que cresce em média 2% ao ano, está deparando com tendências que o levam a buscar o aumento da base de florestas plantadas. "O alto potencial florestal do hemisfério sul, onde o Brasil tem condições propícias de cultivo, pode incentivar, por exemplo, o investimento em áreas como a de seqüestro de carbono", explica.
Hoje, a participação do Brasil é de 3% no comércio do setor florestal no mundo, cerca de US$ 290 bilhões. O crescimento das plantações de eucalipto é dez vezes maior que em outros países. "Tanto o Brasil quanto o Rio Grande do Sul têm espaço para desenvolver novas plantações. Enquanto países de dimensões pequenas, como o Japão, que têm até 26,47% de sua extensão em florestas plantadas, o Brasil conta apenas com 0,65% da sua área", explica o executivo. A área brasileira dedicada à silvicultura é de 5,5 milhões de hectares, frente aos 89 milhões de hectares de florestas naturais. No Estado, são 365,6 mil hectares, constituídos de pinus e eucaliptos.
Aguiar também ressalta que a produção brasileira de celulose de fibra curta passou, de 1995 a 2006, de 4,03 para 9,26 milhões de toneladas, e nos dias de hoje ocupa a sexta posição no ranking da produção mundial de celulose. "Esse crescimento, no entanto, tornou o país líder mundial na produção de celulose de eucalipto, em uma área total de 3,54 milhões de hectares, onde o Rio Grande do Sul contribui com 184,2 mil", afirmou. As plantações de pinus chegam a 181,3 mil ha no Estado. Na produção de papel, o país está em 11º lugar.
Ao final da palestra, empresários e demais presentes brindaram com champagne os 150 anos da Associação Comercial de Porto Alegre (ACPA).
Indefinição
Desde 2003, quando três dos maiores grupos do setor – Aracruz, VCP e Stora Enso – apresentaram seus projetos, o Rio Grande do Sul vive na expectativa de US$ 4,5 bilhões de investimentos que seriam necessários para construir as três fábricas de celulose e plantar cerca de um milhão de hectares de eucalipto, para garantir a matéria-prima.
Até agora, o único que avançou de acordo com as previsões foi o projeto da Aracruz, que partiu da antiga Riocell em Guaíba e já iniciou a construção, no mesmo sítio, da nova unidade.
A VCP por enquanto limitou-se a comprar terras e produzir mudas para o plantio dos eucaliptos. Já tem cerca de 100 mil hectares adquiridos, boa parte já plantados, mas a fábrica ainda não tem projeto preciso. Nem o local está definido. Sabe-se que será na Zona Sul, provavelmente em Rio Grande.
(Por Cleber Dioni, Ambiente JÁ, 21/08/2008)