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sustentabilidade e capitalismo gestão ambiental marketing verde
2008-08-20
De ameaça à oportunidade de negócio. É assim que um crescente número de empresas reage à perspectiva de que atividades humanas contribuem para as mudanças climáticas. Indo além de medidas pontuais para minimizá-las, algumas companhias apostam em processos e produtos sustentáveis que ajudem a mitigar o aquecimento global.  

É o caso do Portfólio Ambiental Siemens, seleção de produtos e soluções da multinacional que permitem quantificar a redução das emissões de gases-estufa. Presente nas áreas de infra-estrutura, energia e equipamentos médicos, a Siemens apoiou-se num estudo da PricewaterhouseCoopers para montar a carteira, que contém desde diodos emissores de luz (LEDs) que reduzem o consumo de eletricidade e sensores que coletam e monitoram indicadores da qualidade do ar, até equipamentos para a cogeração de energia com bagaço de cana, desenvolvidos no Brasil, onde a empresa tem sete unidades fabris.  

Segundo o diretor de gestão da qualidade e gestão ambiental, Perícles de Oliveira, o portfólio sustentável gerou 23% da receita mundial da Siemens em 2007, ou 17 bilhões de euros, propiciando a redução da emissão de 114 milhões de toneladas de CO2 para clientes. Para 2011, a meta é chegar a 25 bilhões de euros e ajudar a abater 275 milhões/ton de CO2.  

Parte de 6,5% do faturamento mundial, investidos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), contribui para a análise do ciclo de vida, usada na concepção de plantas industriais, produtos e serviços. Ela ajuda a escolher materiais, processos e logística, além de prever impactos socioambientais no uso e o pós-consumo. Atende pela sigla inglesa PLM o gerenciamento do ciclo de vida de produto, plataforma que a Siemens desenvolve para integrar numa única base de dados todas as informações desse ciclo, para otimizar resultados.  

A rápida evolução tecnológica, que acelera a obsolescência de processos e produtos, e a expansão dos eletroeletrônicos nos diferentes segmentos socioeconômicos representam um desafio grande para o setor. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), as vendas de computadores no Brasil beiraram 10 milhões de unidades em 2007, compondo uma base instalada de 36 milhões de PCs, dos quais 19 milhões para o mercado corporativo. A previsão é que o Brasil chegue à quarta colocação em vendas em 2008, atrás dos EUA, China, Japão, caso se consolide a estimativa de 13 milhões de unidades comercializadas em 2008, feita pelo IDC.  

Some-se a isso a estimativa de venda de 48 milhões de aparelhos celulares no mesmo ano - há cerca de 140 milhões de aparelhos em operação no Brasil, e 3,3 bilhões no mundo, segundo a Abinee e GSA Informa - além da comercialização de 10 milhões de televisores, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros).  

O outro lado dessa moeda é o destino desses itens quando ganham o status de lixo eletrônico. Após 17 anos, voltou a tramitar na Câmara dos Deputados o projeto de lei para criar uma Política Nacional de Resíduos Sólidos. Ele introduz a responsabilidade pós-consumo dos fabricantes e a logística reversa, conjunto de ações que inclui a coleta e redirecionamento do que se descarta, se possível com a reinserção no processo produtivo.  

Desde 2002, a HP usa a logística reversa no Brasil para coletar produtos e suprimentos de sua marca. Começou com pilhas e baterias, que são encaminhadas para um centro de reprocessamento nos EUA. Depois vieram os cartuchos e toners e hoje a empresa também aceita equipamentos de sua marca. Além disso, criou um programa de sustentabilidade ambiental em 2007, para engajar funcionários e colaboradores nas estratégias ambientais e sociais a seus negócios.  

Para Kami Saidi, diretor de operações para o Mercosul da HP Brasil, esses procedimentos são apenas a etapa final de um processo que começa com o design para o meio ambiente (DFE), isto é, a concepção de produtos, processos ou instalações em três perspectivas: eficiência energética para a fabricação e uso; opção por materiais que gerem menos impactos e mais valor no fim de vida, e desenho para a desmontagem, prevendo a identificação e reciclagem dos componentes.  

Como exemplo de concepção de produtos mais sustentáveis, Saidi cita o sistema de impressão frente-verso em todas as impressoras a laser da marca, que diminui o consumo de papel e de energia. Mas ele avisa: nem sempre é fácil eliminar matérias-primas tóxicas ou reduzir a variedade de materiais. Hoje, exemplifica, mais de mil tipos de plásticos entram na linha de produção da HP. A diminuição depende de pesquisas, para encontrar substitutivos à altura.  

Com 60% participação no segmento das impressoras, a empresa eliminou o isopor das embalagens, para dar lugar à mais ecológica polpa de celulose, que aproveita papéis usados em testes de impressão na produção. "Viabilizamos indústrias de polpa, por transportarmos mais de 3 milhões de impressoras no Brasil." O redesenho das embalagens também reduziu o peso, de 374 gramas para 134, com ganhos no transporte.  

A HP, diz ele, está implantando 55 centros de serviços no país que serão elos da logística reversa. A empresa desenvolveu o HP Smart Bin, que usa a tecnologia de radiofreqüência (RFID) para transmitir dados por ondas de rádio sobre as baterias, cartuchos de tinta e, futuramente, toners, depositados nos coletores. Com isso, ao atingir determinado peso, automaticamente o material é retirado e o coletor, substituído.  

Nelson Pereira dos Reis, vice-presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), diz que as indústrias do setor incentivam o desenvolvimento de materiais de menos impacto ambiental e mais eficiência energética. É o caso do uso de etanol, matéria-prima renovável, na produção resinas plásticas, até então dependente do petróleo. É crescente também a transformação de rejeitos industriais em matéria-prima de outras indústrias e o uso de bolsas de resíduos, como a da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), muito procurada por pequenas e médias indústrias.  

Empresas de menor porte têm menos recursos para avançar na gestão ambiental, avalia Geórgia Cunha, vice-presidente da Fundação Espaço Eco. Estabelecida em 2005 em São Bernardo do Campo (SP), com um aporte de R$ 4 milhões da Basf, a ser pago até 2009, e parceria com a GTZ, agência do governo alemão para a cooperação internacional, a fundação tem um programa de capacitação direcionado para esse público.  

Mas a análise de ecoeficiência é seu forte. Trata-se de uma metodologia criada pela Basf na Alemanha em 1996, para comparar diferentes opções para produtos e processos, na perspectiva da análise do ciclo de vida. Os resultados aparecem em planilhas em forma de cubos, para destacar os parâmetros ambientais, sociais e econômicos.  

(Por Silvia Czapski, Valor Online, 20/08/2008)

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