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tecnologias limpas
2008-08-20

Primeiro foi a sua mãe pedindo que você apagasse as luzes. Depois veio o tijolo no reservatório do vaso sanitário para poupar água, as lâmpadas fluorescentes de longa duração e os créditos de carbono para aliviar a sua consciência durante aqueles vôos intercontinentais poluidores.

Em breve você poderá acrescentar a ida à discoteca a essa lista de truques verdes. Uma nova tecnologia desenvolvida pelo laboratório de inovações ambientais Enviu aproveitará a grande quantidade de energia dispendida pelos dançarinos na pista de dança. E a sua estréia está próxima. Em 2 de setembro, Iggy Pop estará se apresentando no Club Watt, em Roterdã, na Holanda. E as pessoas que estiverem na pista de dança farão a sua parte para manter as luzes piscando e os sons graves trovejando nos alto-falantes.

"Ao dançar, você gera energia com o abalo do chão", explicou a "Spiegel Online" Stef van Dongen, diretor de inovações ambientais do laboratório Enviu. "O que fazemos, de forma bem resumida, é capturar o movimento dos dançarinos e transformá-lo em energia".

O clube será um dos primeiros do mundo a aproveitar a energia gasta pelos dançarinos na pista. Isto faz parte de um esforço maior por parte do Sustainable Dance Club (Clube de Dança Sustentável, ou SDC), uma empresa subsidiária do Enviu, no sentido de introduzir tecnologia ambiental em uma indústria que tradicionalmente é uma consumidora voraz de eletricidade. A sua discoteca devora até 150 vezes mais energia que uma habitação normal. O Club Watt pretende poupar 30% deste consumo.

"Você precisa fazer mais"
Parte dessa economia será derivada de uma tecnologia conhecida como indução eletromagnética. O sistema, desenvolvido pelo SDC juntamente com cientistas da Universidade Técnica de Delft e arquitetos de uma firma holandesa chamada Döll, envolve uma rede de molas e ímãs que convertem mecanicamente o movimento vertical dos dançarinos em direção ao solo em energia elétrica.

É claro que o Club Watt não quer que a sua pista de dança seja muito elástica, já que os dançarinos poderiam desequilibrar-se. Mas o assoalho cederá cerca de um centímetro, o suficiente para a geração de 5 a 10 watts de eletricidade por dançarino. O SDC estima que o eco-clube precisará de cerca de 2.000 pessoas movimentando-se ao mesmo tempo para manter as suas instalações iluminadas.

A medida não se deve apenas ao altruísmo ecológico. Ainda que os ambientalistas sejam mais bem conhecidos como ascetas amantes das árvores do que pelo hedonismo de discotecas, os holandeses - assim como a maioria dos europeus nos dias de hoje - estão ansiosos para fazer a sua parte pelo meio ambiente. Uma pesquisa conduzida pelo SDC no ano passado revelou que 66% dos freqüentadores das discotecas holandesas estariam dispostos a pagar mais caro pela entrada em uma "discoteca verde". O laboratório Enviu - que também está ajudando o Porto de Roterdã, o maior da Europa, a reduzir as suas emissões - agiu acertadamente ao começar pela capital holandesa dos clubes noturnos. Mais de 10 mil pessoas freqüentam a vida noturna da cidade todos os finais de semana.

E o Club Watt é apenas o começo. O conceito de Clube de Dança Sustentável estabeleceu também uma série de regras às quais os clubes precisam aderir caso queiram obter o rótulo SDC. Por exemplo, para atender aos padrões do SDC, um clube tem que reduzir o seu consumo de energia em pelo menos 30% e a sua produção de resíduos em 50%.

"Um clube deseja um telhado ecológico, de forma que talvez coloquemos painéis solares sobre ele, plantemos alguma coisa ou instalemos pequenas turbinas eólicas", diz van Dongen. "Fazer alguma coisa é melhor do que não fazer nada, mas para receber o rótulo de "clube de dança sustentável" você precisa fazer mais".

No Club Watt, por exemplo, o salão de dança é apenas uma das novidades energéticas que estão sendo introduzidas. Luzes de LED serão usadas, bem como energia eólica e solar. O vinho será servido em torneiras para reduzir o desperdício de garrafas, e os drinques serão entregues em grandes compartimentos reutilizáveis. Até mesmo roupas perdidas serão reutilizadas - como isolamento. A água da chuva coletada em funis do telhado será usada no sistema de água e esgoto do clube.

Ambientalista hedonista - uma contradição?
O Club Watt não é o primeiro ecoclube a surgir. Definindo-se como o "primeiro clube noturno ecológico do mundo", o Clube Surya foi inaugurado em Londres em 10 de julho servindo bebidas alcoólicas orgânicas e contando com um bar construído com telefones celulares usados e outras instalações ecológicas, incluindo uma pequena pista de dança geradora de eletricidade. O seu proprietário, um corretor imobiliário milionário que se autodenomina Doutor Earth, usa todos os tipos de ternos brancos e tem a cabeça raspada, em homenagem a "Austin Powers". Mas o Doutor Earth, cujo nome verdadeiro é Andrew Charalambous, provocou certa animosidade entre os ecologistas - incluindo os de Roterdã.

Charalambous conversou com o SDC antes de dar andamento ao seu projeto. "Todos são livres para abrir um ecoclube ou discoteca. O problema é que Charalambous estava utilizando o nosso conceito, e não tivemos uma segunda conversa com ele", disse a "Spiegel Online" Vera Verkooijen, porta-voz da SDC. O Club Watt é o primeiro clube que atenderá as metas do SDC para redução de energia e resíduos, acrescentou ela.

O tipo de ambientalismo apregoado pelo Doutor Earth também provocou alvoroço em outras pessoas. O Clube Surya isenta do pagamento do cover aqueles que vão ao clube de bicicleta, caminhando ou usando transporte público. Mas Charalambous ficou espantado ao receber pessoas que vieram do Brasil para a abertura. Ele diz que pretende doar o lucro obtido com o Club Surya e o seu próximo projeto, uma ilha de festas na Grécia, para uma organização ambientalista não governamental chamada Friends of the Earth.

Porém, o grupo não está interessado. "Dizer às pessoas que elas podem salvar o mundo indo de avião para festas em uma ilha é um golpe ecológico", criticou em uma declaração oficial a diretora de finanças do Friends of the Earth, Ruth Ruderham.

O Friends of the Earth está fazendo uma campanha para que Charalambous pare de usar os seus logos no seu website e nos seus materiais de promoção - exatamente a atitude que Charalambous considera incompatível com um tipo de ambientalismo sexy e comercializável. "Acabou a época de dar sermões às pessoas", diz ele. "Isso é coisa da velha guarda, do Greenpeace e coisas do gênero".

Jovem e verde
A nova guarda tem uma aparência diferente. Toda uma gama de produtos movidos a força humana - iPods, videogames e televisores - está no mercado nos dias de hoje. Lucien Gambarota, um inventor italiano, ajudou a projetar equipamentos de academia de ginástica que capturam a energia humana para alimentar lâmpadas e televisores para a academia California Fitness. O estúdio investiu US$ 15 mil em 13 máquinas.

O problema, no entanto, é que mesmo que as máquinas sejam utilizadas dez horas por dia, elas só geram cerca de US$ 183 em eletricidade por ano. O próprio Gambarota é o primeiro a reconhecer as limitações.

"A energia humana está em uma escala totalmente diferente em relação às energias solar e eólica, devido às quantidades modestas produzidas e ao fato óbvio de que os seres humanos não são capazes de malhar 24 horas por dia", disse Gambarota a "Spiegel Online". Ele afirma, entretanto, que o aproveitamento da energia humana é "mais um posicionamento".

É um ponto de vista com o qual os integrantes do SDC podem concordar. Acabaram-se os dias do ambientalismo pesado baseado nas sandálias Birkenstock e em pratos insossos a base de tofu.

"Achamos que as pessoas de 21 a 35 anos de idade, o grupo no qual nos focamos, são os próximos tomadores de decisões", diz van Dongen, que tem 32 anos. "Assim sendo, se desejarmos uma mudança rápida, temos que nos concentrar nessas pessoas".

E que forma melhor de fazer com que a juventude se envolva do que atraí-las para um clube? Mas ainda não jogue fora o tofu. O Club Watt ainda está trabalhando para resolver alguns problemas antes da inauguração. Um dos planos, a coleta do suor dos dançarinos para operar os vasos sanitários revelou-se nada prático: seriam necessários dois dias de dança energética para possibilitar uma única descarga.

(Por Rachel Nolan, Der Spiegel, UOL, 19/08/2008)


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