Depois das hidrelétricas, o Estado de Rondônia se esforça para concretizar dois projetos: a construção do gasoduto Urucu-Porto Velho, capaz de viabilizar um novo pólo gás-químico, e a criação de uma Zona de Processamento de Exportação (ZPE) voltada ao fornecimento de produtos manufaturados para o mercado andino. "Ao contrário do que afirmam no Sul, não estamos depredando o meio ambiente e buscamos o desenvolvimento com sustentabilidade. Mas é preciso que nos dêem os meios para isso", diz Euzébio Guareschi, presidente da Fiero, a federação das indústrias do Estado.
O projeto do gasoduto, diz-se em Porto Velho, enfrenta um amplo leque de resistências: do Ministério de Minas e Energia, da Petrobras (por estar sobrecarregada com investimentos em outras áreas, como a exploração da camada pré-sal), do governo do Amazonas (para supostamente não dividir as reservas de gás de Urucu, que fornecerá o insumo também para a indústria de Manaus). Governo estadual, prefeitura, empresários e toda a bancada de parlamentares do Estado têm se mobilizado pela inclusão do empreendimento no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). "Há viabilidade técnica e econômica. A questão agora é política", afirma Valdir Raupp (RO), líder do PMDB no Senado.
O investimento estimado para a construção do gasoduto é de R$ 1,7 bilhão. Seriam 2,3 milhões de metros cúbicos por dia, dos quais 80% destinados à produção de energia e 20% à indústria. Na visão do governo e dos empresários locais, o projeto atrairia fábricas de polímeros, plásticos, tintas, fertilizantes e cerâmicas, que hoje não têm como expandir-se no Sudeste e no Sul, devido à falta de gás.
O insumo também serviria para abastecer duas usinas termelétricas, atualmente movidas a óleo diesel, que geram cerca de 500 megawatts (MW) e devem ser desativadas quando o Estado for conectado ao sistema interligado nacional. As duas térmicas podem produzir energia a gás, combustível menos poluente. "Na situação energética do país, não faz sentido desperdiçar um único megawatt", diz o superintendente do Instituto Euvaldo Lodi, Valdemar Camata. Ele diz que há gás suficiente em Urucu para abastecer Manaus e Porto Velho por 30 anos.
Localizada no Amazonas, a reserva tem mais de 80 bilhões de m3. Já existe um duto pronto até Coari (AM) e a Petrobras constrói uma extensão para levá-lo a Manaus. O investimento é de R$ 1,58 bilhão e a inauguração está prevista para o fim de 2008. Ele deve operar com ociosidade, pois a estatal pretende transportar 5,5 milhões de m3/dia para uma capacidade de 10 milhões de m3/dia.
(Valor Online, 19/08/2008)