Falta de pesquisas prejudica orientação dos consumidores, afirma especialista
sacolas e embalagens plásticas
plástico biodegradável
polímeros
2008-08-19
O desencontro de informações torna difícil a escolha para o consumidor. Usar ou não usar sacolas de plástico? Usá-las moderadamente? Adotar as oxibiodegradáveis? Cada parte – representantes da indústria petroquímica e defensores dos oxibiodegradáveis – tem seus argumentos e contra-argumentos. O fato é que Plastivida e RES Brasil não abrem diálogo entre si e não sentam à mesma mesa.
A RES alega que as resinas de polietileno tradicionais recebem aditivos como antioxidantes e protetores contra radiação ultravioleta responsáveis pela resistência, elasticidade e outras propriedades das tradicionais sacolas. "Isto sem falar nas tintas de impressão de logotipos. Sem incorporar essas substâncias, as sacolas se degradariam em dez anos", afirma Eduardo van Roost, diretor-superintendente da empresa.
Já o Instituto Plastivida contra-argumenta que o problema dos oxibiodegradáveis é a utilização de substâncias contendo Cobalto, Manganês e Ferro, que ao mesmo tempo em que causam a fragmentação das sacolas, levam a danos ambientais para o solo. "A oxibiodegradação impede que se coletem os resíduos e representa um risco maior para o ambiente", afirma Francisco de Assis Esmeraldo Filho, presidente do Plastivida. Para ele, esta solução "é o mesmo que varrer o problema para debaixo do tapete". "O que acontece, na realidade, é uma oxifragmentação. O resíduo desaparece do olhar, mas não significa que não esteja no ambiente", acrescenta. Esmeraldo afirma também nunca ter visto nenhum laudo de garantia do uso da tecnologia de oxibiodegradação. "Eu gostaria muito de ver esses laudos, como o do FDA [Food and Drug Administration, dos Estados Unidos], diz.
Os defensores do uso de oixibiodegradáveis afirmam que a indústria do plástico resiste a esta tecnologia porque as sacolas representam em torno de 40% dos negócios do setor. Esmeraldo rebate esta informação atestando que, das 5,5 milhões de toneladas anuais de resinas produzidas para o setor, 220 mil (4%) são consumidas pela indústria de embalagens, conforme dados da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (ABIEF). "Para nós, seria a melhor coisa do mundo se funcionasse. Suponhamos o que reciclamos hoje. São 560 mil toneladas de plásticos. Se todo este material fosse submetido a oxibiodegradação, poderíamos vender mais, pois não seria um problema para o ambiente. Isto nos daria um lucro de R$ 3 bilhões. Por que abriríamos mão disto? Abrimos mão porque sabemos que esta tecnologia traz problemas futuros, um passivo ambiental que queremos evitar", observa Esmeraldo.
Para a ONG Funverde, contudo, a idéia da redução da quantidade de sacolas em circulação é equivocada porque, por outro lado, aumentará o peso unitário de cada sacola. "Teríamos plástico mais resistente jogado no ambiente", pondera Ana Domingues, da Funverde. O diretor da RES Brasil afirma que "esta confusão em torno do oxibiodegradável só existe no Brasil" e que "em diversos outros países não há restrições".
Pesquisa escassa
O doutor em Ciência do Solo e em Ciências dos Materiais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Telmo Francisco Manfron Ojeda, afirma que faltam estudos nesta área. "Não há, no mundo, nenhum trabalho que tenha constatado qualquer tipo de ecotoxicidade dos oxibiodegradáveis no solo", informa. Além disto, os custos em pesquisa, nesta área, são altos. "Cada ensaio de uma série com três níveis tróficos, utilizando algas unicelulares, peixes e microcrustáceos [que são bioindicadores] custa em torno de R$ 9 mil", observa.
Ojeda é consultor e está desde 2003 realizando estudos com compostos bio, oxibio e hidrobiogegradáveis. Ele explica que os biodegradáveis são compostos produzidos a partir de celulose e amido, por exemplo, e levam cerca de três meses para se degradar. Nessa categoria inclui-se também o polihidroxibutirato (PHB), produzido a partir da cana-de-açúcar.
Já os hidrobiodegradáveis incluem o poliácido lático (PLA), obtido a partir de milho, e o policaprolactona (PCL), de origem petroquímica, além de poliésteres alifático-arométicos, igualmente de gênese petroquímica, como o polibutileno adipato tereftalato (PBAT). Estes passam por hidrólise antes de se biodegradar. Finalmente, existem os oxibiodegradáveis, que precisam se oxidar antes de se biodegradar.
Ojeda esclarece que cobalto, manganês e ferro, utilizados na fórmula dos oxibiodegradáveis, são metais de transição e não metais pesados. "O cobalto está presente em enzimas de plantas para fixação do nitrogênio. Nosso solo pode conter entre 100 e 500 partes por milhão de cobalto", diz. A falta de pesquisas sobre degradabilidade de plásticos no Brasil e da divulgação pública das mesmas é um ponto fraco desta discussão e resulta em prejuízos para o consumidor.
(Por Cláudia Viegas, Ambiente JÁ, 18/08/2008)