Para os moradores das grandes cidades, essa é uma realidade longínqua, mas o fato é que, hoje no Brasil, mais de dois milhões de famílias vivem sem acesso à energia elétrica. Desconhecem os confortos simples proporcionados por geladeiras e aparelhos de TV; conseguem iluminação escassa à noite, por intermédio de velas e lampiões.
Como não há lucro financeiro em levar energia elétrica pelos meios tradicionais aos rincões ermos do norte brasileiro, por exemplo, a tendência seria que essas populações continuassem sob tal privação. Mas uma tecnologia hoje em teste no Acre vem mostrando que a solução para áreas isoladas pode estar na geração distribuída com produção em micro-escala, e a partir do uso de fontes locais e renováveis.
Essa é a base conceitual de um “bio-micro-gerador de energia elétrica”, inédito no país e no mundo, que tem a capacidade de gerar e acumular energia elétrica enquanto se faz o cozimento diário de alimentos.
A inovação tecnológica, pesquisada e desenvolvida pelo engenheiro mecânico Ronaldo Sato, está hoje em uso por 27 famílias, moradoras da Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre, estado que lidera a exclusão elétrica no Brasil . Para implantação desse projeto-piloto, foi feito um convênio de cooperação técnico-cientifica envolvendo o governo do Acre.
A Damp Electric, empresa do Grupo BMG, sediada em Minas Gerais, adquiriu os direitos de uso e exploração exclusiva da patente do fogão, após o que ele recebeu a denominação comercial de BMG LUX®.
A empresa instalou em sua planta industrial, na cidade mineira de Sabará, a primeira unidade de produção do BMG LUX, que, além da fabricação de chassis e montagem final do produto, se constitui num centro de recebimento, triagem, controle e almoxarifado de componentes provenientes de uma rede de fornecedores pré-qualificados. E também contratou uma equipe de especialistas, liderada pelo próprio Ronaldo Sato – hoje diretor da Damp - para desenvolver um programa de inovação e aperfeiçoamento continuado do
produto.
“O bio-micro-gerador BMG LUX, além de gerar e acumular eletricidade para acender quatro lâmpadas e ligar um aparelho de TV e utensílios de baixo consumo em uma residência, promove a integração nacional, a cidadania, o acesso ao conforto, informação e entretenimento dos cidadãos isolados e agrega outros benefícios, igualmente inovadores e importantes, que o tornam um produto único e diferenciado, de grande alcance humanitário, ecológico e social”, disse Ronaldo Sato a AmbienteBrasil.
Segundo ele, o consumo de lenha pelos BMG LUX é insignificante e, graças à tecnologia, chega-se a 25% em sua redução, comparativamente aos fogões tradicionais, haja vista a queima eficiente proporcionada pelo novo equipamento.
“As famílias na Amazônia usam gravetos, galhos secos e, na época de chuvas, caem muitas arvores que são aproveitadas”, registra Sato, antecipando que um avanço nessa questão está sendo trabalhado a partir de experiências com a queima de briquete de pó de serra, palha de arroz e casca de coco no BMG LUX.
Um benefício adicional do também chamado “fogão ecológico” é que ele incorpora um novo formato para inibir a circulação da fuligem nos ambientes internos e externos da casa, de modo a retê-la entre suas chapas. “A inalação da fuligem pelas famílias que se utilizam de fogões artesanais é classificada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a oitava causa de mortes no mundo, superando a malária e a AIDS”, diz Ronaldo Sato.
Ele antecipou a AmbienteBrasil que o Grupo BMG está instalando uma montadora na capital acreana, Rio Branco, com inauguração prevista para os próximos meses. A idéia é produzir inicialmente 500 unidades/mês e aumentar a capacidade gradualmente.
Além disso, segundo o engenheiro mecânico, já existem tratativas com vários países visando não só exportar a tecnologia, mas instalar neles montadoras “para gerar empregos e aproveitar todos os recursos localmente”.http://noticias.ambientebrasil.com.br/noticia/?id=40118
(Por Mônica Pinto
/ AmbienteBrasil, 19/08/2008)