A comunidade quilombola de Linharinho, em Conceição da Barra, norte do Estado, está online. Na sexta-feira (15) ganhou uma antena Gesac, do serviço de inclusão digital do governo federal. A comunidade é das mais impactadas na área ambiental e social pela ocupação da Aracruz Celulose, alcooleiras e fazendeiros. Agora, pode denunciar as ameaças que sofre via internet.
Os quilombolas desta comunidade comemoram. Em comunicado nesta segunda-feira (17), o presidente da Associação Pró Desenvolvimento do Linharinho, Vermindo dos Santos, comunica a novidade aos “companheiros e companheiras”.
No seu informe diz: “Acabamos de ser contemplados com uma antena Gesac no nosso quilombo Linharinho. É uma grande alegria para nós compartilhar nossas notícias para o mundo. Sabemos também que podemos contar com as informações de vocês. A inclusão digital é importante para nós dos quilombos, para que a sociedade veja que não somos inferiores e temos a capacidade de revolucionar este Brasil”.
Acrescenta: “Os computadores chegam para contribuir com uma comunicação franca. A comunidade vibra com profunda emoção a construção do ponto de presença e a instalação do orelhão. Nossos jovens que já não tinham nenhuma expectativa de viver no quilombo hoje, agora vão pensar diferente”.
Para finalizar: “Queremos agradecer a todos que acreditam que essa realidade pode mudar, que reconhecem nossos direitos e apóiam a nossa luta”. Assina pela comunidade e deixa o e-mail quilombolinharinho@gmail.com.
As antenas Gesac são fornecidas pelo Departamento de Serviços de Inclusão Digital da Secretaria de Telecomunicações do Ministério das Comunicações. O endereço do programa é http://www.idbrasil.gov.br. Contatos com o Gesac são feitos pelo gesac@df.idbrasil.org.br. Sua assistência técnica atende no telefone 0800-979 7878.
A ligação de Linharinho com o mundo já permitiu denúncias das violências que a comunidade sofre. Liderança nacional quilombola, Jô Brandão, em comunicado fala da euforia dos moradores. Diz que a “alegria maior mesmo é poder enviar as primeiras notícias direto da comunidade, para que os que puderem, espalhem o que está acontecendo nesta terra”.
E lista muitos destes problemas que testemunhou em visita à comunidade. Afirma: “Às 14 horas de hoje, d. Miúda foi descansar um pouco e imaginem que em menos de 15 minutos foi acordada com os apitos de um carro na sua porta. Era ninguém menos que um oficial de Justiça buscando encontrar o presidente da associação quilombola, e aos berros intimidando a mesma para que recebesse uma intimação sobre uma acusação que os quilombolas devem pagar 70 mil reais sobre o que não conseguimos descobrir no pouco espaço de tempo e um dialógo desigual, duas mulheres e um brutamontes com a capa da ordem da Justiça”.
Segue o relato: “Mas é nunca que Yansã e Nanã deixariam suas filhas desamparadas. D. Miúda não recebeu o papel porque além do nome da associação errado não estava nominado o presidente. Foi esse nosso argumento. Lá se foi o ‘bicho insano’ procurar na casa de outras lideranças quilombolas na certeza de encontrar quem assinasse no susto o maldito documento”.
E que: “... É minha gente, só vendo. Se não bastasse o racismo da sociedade e as ameaças do MPC – Movimento Paz no Campo, os quilombolas vivem também o drama da construção do gasoduto Catu-Linhares (obra do PAC) que atravessa todo o território quilombola do Sapê do Norte e parte das escavações estão sendo feitas no terreiro das casas da comunidade quilombola São Jorge. Sem consulta, sem respeito aos direitos, sem audiência pública, sem nada”.
Mais: “Também pudera! Com tanto silêncio por parte do governo, os senhores e capatazes gritam: quem vai falar por eles? Quem são esses quilombolas pra terem direitos? Que tal reunirmos nove municípios e construirmos uma grande obra para limpar nossas cidades? Claro, vamos construir um grande aterro sanitário e onde vai ser? Na comunidade quilombola de São Jorge assim realizamos também uma “limpeza étnica” mais eficiente, já que o veneno da Aracruz Celulose só conseguiu matar três crianças”.
Na seqüência diz Jô Brandão: “Pensando nas mil e uma ocorrências diárias vou andando meio atordoada pela visão da área atrás das casas do Linharinho. Do outro lado do rio, vejo uns brotos de eucaliptos da Aracruz envenenados para morrerem, enquanto escuto a explicação dos moradores que é porque o Iema (Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos) vai ampliar a área do parque estadual de Itaúnas e a Aracruz que ‘zela’ pela sua ‘responsabilidade social e ambiental’ concederá as terras para a recuperação da mata nativa”.
Para explicar: “Acontece que a área da qual estou falando é a mesma que a comunidade do Linharinho retomou naquele tempo, lembram? Na esperança de ter um espaço para plantar o que comer, porque por mais inteligentes que sejam, não conseguiram inventar nenhuma receita alimentícia à base de eucalipto”.
E: “Uma coisa é suspeita se vão ceder a área será que essa terra não é publica? E se for, por quê o Idaf (Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf) não regulariza por direito aos quilombolas? Bom, sei que vocês já estão tontos também, mas saibam que isso é fichinha...porque nessa terra tudo é possível se for para acabar com os quilombolas”.
Ela ainda relata os “incontáveis processos jurídicos contra indígenas e quilombolas, cada um mais mirabolante que o outro. Imaginem que cerca de 40 quilombolas foram condenados a pagar pena construindo creche e posto de saúde em suas comunidades no município de Conceição da Barra - ES com material cedido pela prefeitura local, lembrando que o prefeito é candidato à reeleição e estamos em pleno período eleitoral”.
Via internet a liderança quilombola conta muitas outras histórias, como a de que “agora mesmo é que piorou, porque o Iema liberou a retirada de areia dentro do terrritório do Linharinho sem nenhum estudo de impacto e nem considerou a existência da comunidade. Sendo que é areia para comercialização, fica a pergunta: Qual o tamanho da erosão provocada no futuro? Ou será que já estão é cavando um buraco para enterrar os quilombolas do Linharinho? A coisa aqui está feia, pro lado que correr é problema. Os quilombolas estão ‘imprensados’. É, mas como diz o povo de terreiro, ‘nós inverga mas não quebra!’ Vamos continuar sonhando e resistindo.
- Afinal herdeir@s de Negro Rugério num é preto largado!...”.
O Gesac - As perguntas mais freqüentes sobre o sistema são respondidas pelo Ministério das Comunicações, como segue.
Para esclarecer possíveis dúvidas sobre o programa GESAC, colocamos no ar essa seção de perguntas freqüentes. Caso você não consiga esclarecer suas dúvidas, tiver algum comentário ou ainda alguma informação a acrescentar, acesse o nosso Fale Conosco.
Quantas horas cada pessoa pode usar a internet? O acesso à internet através das antenas do GESAC está disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana. Assim, recomendamos o uso intensivo destes recursos disponíveis para a comunidade. A comunidade deve determinar o período de acesso por pessoa, podendo, por exemplo, basear-se nos dois critérios ilustrativos abaixo:
- Pela quantidade de pessoas interessadas em acessar a internet. Evidentemente, um grande interesse das pessoas da localidade fará com que haja necessidade de limitar o tempo individual de uso e de uma escala que poderá ser organizada pelos membros da comunidade. Mas atenção: recomenda-se que esse tempo não seja diminuído excessivamente. Um tempo pequeno de uso pode ser considerado de 1 hora. - Outro critério que pode ser usado é priorizar o uso para serviços e projetos supervisionados de cidadania, colocando em segundo plano o uso para entretenimento (jogos, bate-papo, etc.).
O turno da noite pode usar internet? Pode sim. O acesso não deve estar restrito apenas para os usuários do período diurno, já que vários colegas da comunidade trabalham no período diurno e só podem usar o serviço na parte da noite.
Como o Gesac poderá atender um laboratório de informática? O Programa Gesac provê acesso à Internet via satélite , além de uma cesta de serviços de rede para inclusão digital, incluindo suporte técnico através de telefone 0800 e capacitações em TIC"s, nos locais que já possuem Telecentros Comunitários.
Estes Telecentros Comunitários são denominados Pontos de Presença GESAC e fazem parte de uma rede solidária que hoje já conta com mais de 3.200 unidades, através de parcerias formalizadas com diversas entidades em todo o território nacional.O Telecentro é aberto à comunidade, não podendo ser cobrado nenhuma taxa para o uso dos serviços de conexão Internet via satélite.
São solicitados ao parceiro, além da disponibilização do local para instalação do Telecentro, os equipamentos do laboratório de informática (mínimo de cinco computadores), a equipe para gestão, bem como a garantia provimento dos custos de manutenção local.
O Ministério das Comunicações vem priorizando o atendimento aos Municípios que ainda não foram contemplados com Pontos de Presença GESAC, notadamente aqueles que não tem oferta de Internet Banda Larga na região.
Para análise dos pedidos, é preciso que sejam fornecidas informações adicionais sobre a comunidade a ser beneficiada e das condições locais, através do endereço:Departamento de Serviços de Inclusão Digital/Secretaria de Telecomunicações/Ministério das Comunicações - Esplanada dos Ministérios , Bloco R, sala 725, CEP 70044-900.
(A.D.M.S)
A comunidade pode usar a internet no horário das aulas? Em princípio sim. Mas isto pode depender da estrutura do local e deve ser combinado uma política de uso com a direção da escola. O governo está pagando o serviço 24 horas/7 dias por semana. Logo, a idéia é aproveitarmos ao máximo os recursos disponíveis. Várias idéias podem ser adotadas para facilirar a utilização, podendo a escola separar algumas máquina para acesso da comunidade e o restante para os alunos, por exemplo.
(Por Ubervalter Coimbra,
Século Diário, 19/08/2008)