O cacique macuxi Djacir Melquior da Silva, conhecido em sua tribo como Kuarã, deu entrevista na tarde desta segunda-feira (18/08) ao programa Mundo Político, da TV Assembléia de Minas Gerais. Kuarã veio de Roraima a Belo Horizonte para debater, na Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa (AL-MG), a luta indígena pela demarcação da reserva Raposa Serra do Sol, criada por decreto do presidente Lula em 2005. O Plenário do Supremo Tribunal Federal julga, no próximo dia 27, instrumento de agravo que contesta a demarcação contínua da reserva.
Segundo o cacique, os autores do agravo são arrozeiros que invadiram a reserva, destruindo a natureza, e matando índios. Indagado pelo jornalista Carlo Menezes, Kuarã disse confiar que os ministros apliquem o que estabelece a Constituição em defesa dos direitos indígenas. Não confirmou se haverá retaliações por parte das tribos se o Supremo julgar contra eles, mas denunciou que os arrozeiros fizeram uma manifestação hasteando a bandeira da Venezuela, bloqueando pontes e impedindo a aproximação da Polícia Federal com bombas caseiras.
A reserva Raposa Serra do Sol cobre 1,7 milhão de hectares no Norte e do Nordeste de Roraima, abrangendo partes dos municípios de Pacaraima, Normandia e Uiramutá, até as fronteiras de Venezuela e Guiana. Corresponde a 7% do território de Roraima, e se destina a abrigar 18.992 índios de cinco tribos. A mais numerosa é a dos macuxis, etnia mais aculturada. Há também indígenas das tribos uapixanas, patamunas, engaricós e tauarepangs. Nos 34 anos em que lutam pela criação de sua reserva, 21 índios já foram assassinados.
Macunaíma e o rio Uraricoera
Quase metade do território oeste roraimense constitui a reserva ianomâmi, a mais preservada da América do contato com os brancos. Ao Norte de Boa Vista, a capital, corre o rio Uraricoera, celebrizado no romance Macunaíma, de Mário de Andrade.
"Nossos antepassados aceitaram o mel dos não-índios e deixaram que entrassem em nossas terras. Aí vieram os garimpeiros e depois os arrozeiros, destruindo tudo. Macunaíma deixou muitos lugares sagrados, onde não se pode pescar, caçar, plantar, nem morar perto. Queremos respeito a nossas tradições", disse o cacique Kuarã.
Carlo Menezes perguntou ao cacique sobre o papel das ongs que atuam na região, acusadas de agir no interesse estrangeiro de pesquisar metais preciosos e urânio. Kuarã respondeu que os missionários apenas pregam o Evangelho, e não ficam muito tempo na região, sendo substituídos frequentemente. O cacique não vê problema quanto à exploração do subsolo, que pertence à União. Os índios querem apenas a superfície. "Anapta analam" (nossa terra, nossa mãe), concluiu.
O programa Mundo Político com o cacique macuxi, exibido na noite desta segunda-feira, será reprisado na terça (19) às 8 horas e às 12h30; na sexta-feira (22) às 22h30, no sábado (23) às 17h30 e no domingo (24) às 22h30.
(Ascom AL-MG, 18/08/2008)