Algumas vezes a notícia salta à frente do jornalista, invertendo a constante busca pela informação. Poucos metros a minha frente, no embarque de Brasília para o Rio de Janeiro, seguia um senhor de colete. A princípio eu estava distraído e não me dei conta de que era o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, que há menos de três meses substituiu a ministra Marina Silva. De imediato me veio à cabeça: "ou faço uma entrevista com ele, ou rasgo o diploma". Bom, não tenho ainda vontade de deixar de ser jornalista, portanto, conversei com o ministro durante meia hora a 10 mil metros de altura. Mesmo assim, uma conversa muito "pá no chão". Foi a primeira vez que estive pessoalmente com o novo ministro e não sabia bem como ele receberia um pedido de entrevista nas alturas. No entanto, a receptividade foi boa e com muita simpatia. Nossa conversa começou sobre a dureza das exigências de contrapartidas para a realização de grandes projetos de infra-estrutura. "As empresas devem se responsabilizar pelos impactos que provocam. Além disso, o País tem uma série de parques que precisam de recursos para a manutenção", disse. Para ele as empresas têm uma grande capacidade de ação e devem estar comprometidas com resultados sustentáveis. "Um exemplo disso é a imposição de exigências para a exportação de produtos madeireiros e minerais da Amazônia, as certificações e os pactos que estão sendo firmados, como o da soja, que prevê a não comercialização de soja plantada em áreas de desmatamento recente".
A posição de Minc sobre as exigências de compensações é que elas são duras e vieram para ficar. “Daqui para a frente vamos exigir cada vez mais”, disse. Mesmo sendo acusado por alguns setores da Amazônia de não conhecer a região, Minc falou sobre temas atuais da realidade da região, como a Reserva Raposa do Sol. Segundo o ministro não há sentido em mudar uma decisão já tomada, de fazer a demarcação em área contínua. “Não quero entrar para a história como o ministro que fez nossos netos conhecer índios em museus, como já é com os maias e astecas”, disse. “Meia dúzia de fazendeiros não pode ser mais importante do que um povo que precisa espaço para manter suas tradições”. Ele disse que pela primeira vez desde o descobrimento a população de índios está crescendo no Brasil, o que significa precisar de mais terras para caça, pesca e produção de seus alimentos.
Para o Ministério do Meio Ambiente uma das questões vitais da Amazônia é a regularização fundiária. Por isso está trabalhando em um plano para acelerar o processo de regularização de posse e titulação. “Um processo que normalmente demoraria 10 anos vai ser feito em um ano ou menos”, garantiu o ministro. Segundo ele não há como atuar de forma efetiva se não se tem idéia de quem é responsável pelas terras. Minc acredita que nos próximos dois anos vai conseguir avançar muito nesta questão. “A ministra Marina conseguiu diversas vitórias em sua gestão, e creio que saiu para que a questão ambiental se colocasse de uma forma diferente”, disse Minc. Ele disse que não aceitaria o cargo se a ex-ministra e atual senadora Marina Silva não houvesse saído espontaneamente. “O presidente Lula me consultou seis meses antes e não aceitei”, disse. “Mesmo as exigências que fiz antes de assumir o Ministério, que muitos consideraram um certo estrelismo, foram para garantir espaço para a pasta do Meio Ambiente no governo”, disse. “Conseguimos recuperar o controle do Fundo Amazônia, que estava indo para o ministro Mangabeira Unger”, disse, explicando que o presidente Lula entregou a ele o controle do fundo por dois anos.
Minc também se manifestou a favor da construção de uma ferrovia para ligar Manaus a Porto Velho, mas ressaltou que existe o obstáculo do custo. Segundo ele uma rodovia custa cinco vezes menos, o que a coloca em um patamar Mais próximo da realização do que a ferrovia. “Manaus precisa se integrar à rede de transporte do Sul/Sudeste”, disse. Ele concorda que a ferrovia tem menor impacto ambiental sobre a floresta e vai defender esta alternativa. Mas não me pareceu que o ministro acredita na viabilidade desta idéia. Outro ponto importante foi em relação à interlocução com as organizações que atuam na Amazônia. Segundo ele entidades como o Imazon e o GTA (Grupo de Trabalho Amazônico) estão atuando em conjunto com o MMA em diversas frentes. “Não á dificuldade de interlocução, disse, apenas o início de uma gestão, o que é normal”. Outro ponto importante é que o ministro tem a noção de que tem pouco tempo de governo pela frente. “Em dois anos e meio tenho de ter apresentado resultados”, disse. Por isso está montando uma equipe de especialistas já provados em cargos públicos e capazes de realizar as transformações de gestão que Minc considera necessárias. Um exemplo disso foi a indicação de Roberto Messias Franco para o Ibama. Messias já esteve no Programa de Meio Ambiente da ONU, além de ter sido secretário de Meio Ambiente de Minas Gerais e de já ter ocupado outros cargos importantes. “É um nome ministerial”, diz Minc.
Para o Instituto Chico Mendes o processo de escolha foi ainda mais focado na competência, uma comissão informal, que tinha entre seus membros a ex-ministra Marina e o ex-secretário de Meio Ambiente de São Paulo, Fábio Feldmann, foi a forma como Minc chegou ao nome de Rômulo Mello, que antes ocupava a diretoria de biodiversidade da instituição. “Não tenho tempo para errar”, disse. O ministro tocou em outros pontos importantes de sua gestão e vamos apresentar nos próximos dias a entrevista completa.
(Por Dal Marcondes
, blog pessoal, 18/08/2008)