O setor de mineração, geralmente associado a danos ambientais, pode tornar seus relatórios de sustentabilidade um meio de comunicação realmente eficaz para tornar públicas suas ações. Em dissertação de mestrado defendida na Escola Politécnica (Poli) da USP, a engenheira Fabiana Perez aponta os critérios que devem ser seguidos na elaboração dos relatórios, para que todas as partes interessadas - empregados, fornecedores, clientes, comunidade, governo e ONGs - vejam com mais credibilidade as ações da empresa para minimizar os impactos ambientais e sociais de suas atividades.
Fabiana analisou 35 relatórios de cinco grandes empresas mundiais de mineração, entre elas, uma brasileira, entre os anos de 1997 e 2006. Na pesquisa, ela constatou que as empresas, além de apresentarem informações financeiras, sua visão e política de sustentabilidade, devem detalhar os impactos sociais, ambientais e econômicos de suas atividades, sejam eles positivos ou negativos. “É uma tendência mundial. A consultoria Sustainability, por exemplo, acredita que a confiança nos negócios e nos mercados será mais forte onde houver altos níveis de transparência e responsabilidade corporativa”, afirma.
Assim, mesmo que alguma empresa tenha relatado uma situação desfavorável ou a ausência de uma boa prática, o reconhecimento dessa deficiência e a existência de planos para saná-la contaram pontos na avaliação da pesquisa. Ao contrário, declarações genéricas como “nós protegemos o meio ambiente”, sem apresentar fatos ou dados, perderam pontuação.
Sobre esse aspecto, a pesquisadora acredita ser muito importante que a empresa identifique e consulte as partes interessadas para determinar quais impactos são significativos e merecem esse detalhamento. Nos relatórios, deve haver ainda um equilíbrio entre informação qualitativa e quantitativa, mostrando o quanto a empresa melhorou seu desempenho econômico, ambiental e social e como integra esses aspectos ao sistema de gestão da sustentabilidade.
Comunidades
A pesquisa mosta que entre as informações analisadas também constam trabalhos com as comunidades, como ações de capacitação e desenvolvimento de fornecedores locais. “Os exemplos são muitos, mas é preciso aperfeiçoar a avaliação da eficácia desses programas", pondera Fabiana. "A maioria dos relatórios tem o parecer de uma auditoria de terceira parte (third party assurance), mas o escopo dessa verificação não alcança todos os dados”.
De acordo com a engenheira, o saldo positivo do estudo é que a cada ano as empresas aumentam a quantidade de tópicos apresentados, com identificação mais ampla dos seus impactos e divulgando ações diversas, alinhadas com as recomendações de consultorias, de pesquisadores e de diretrizes internacionais para elaboração de relatórios.
“Entre as oportunidades de melhoria identificadas estão o relato dos métodos e bases de cálculo das informações apresentadas; comparação do desempenho com anos anteriores e a avaliação da chamada ‘materialidade’ do relatório, quando a empresa garante que as informações são suficientes e relevantes para que as partes interessadas façam seus julgamentos e tomem decisões”, explica. "Mesmo assim, as empresas devem priorizar os temas para evitar relatórios muito extensos, que acabam prejudicando a compreensão global de seus esforços.
Segundo o coordenador da pesquisa, o professor Luis Enrique Sánchez, do Departamento de Engenharia de Minas e de Petróleo da Poli, algumas pesquisas e trabalhos acadêmicos já começam a estudar a relação entre o valor da empresa e uma adequada prestação de contas. "Uma pesquisa do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), de 2005, mostra que as empresas que agem com responsabilidade social alcançam melhores retornos para seus acionistas", aponta.
"As empresas mais avançadas também perceberam que é mais fácil conseguir autorizações para novos projetos - a chamada ‘licença social para operar’ - quando elas podem provar que trabalharam bem em outros locais, ou seja, quando são capazes de demonstrar resultados concretos de desempenho ambiental, que é uma das funções dos relatórios de sustentabilidade”, conclui o professor.
(Agência USP de Notícias, com informações da Assessoria de Comunicação e Imprensa do Departamento de Engenharia de Minas e de Petróleo da Poli, 15/08/2008)