O mercado mundial de produtos geneticamente modificados é daqueles raros casos em que a exceção se torna regra, e vice-versa. Diante da dificuldade de encontrar não-transgênicos, compradores importantes, em especial os europeus, pagam prêmios de mais de 10% por grãos convencionais. De olho nesse “novo” nicho comercial, os processadores brasileiros de soja capazes de garantir o uso de sementes livres de alterações vão se agrupar em uma associação específica. A idéia, apresentada pelo vice-presidente do conselho de administração da Caramuru Alimentos, César Borges de Souza, conta com o apoio de empresas como Incopa e Maggi.
As três empresas, somadas, compram por ano o equivalente a 5 milhões de toneladas de soja não-transgênica para exportação e processamento. “As grandes indústrias de alimentos tentam propagar a idéia de que não existem mais produtos livres de transgênicos. Mas somos o único país do mundo onde é possível comprá-los, em grandes volumes e com garantia de rastreabilidade”, afirma Souza. “Um dos objetivos da associação será, portanto, falar aos consumidores sobre esse potencial brasileiro.”
A organização de produtores de soja não-transgênica também dará mais representatividade à Caramuru no mercado local. Há alguns anos a empresa deixou de fazer parte da Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove), embora esteja entre as dez maiores processadoras de soja do País e seja uma das quatro maiores produtoras de óleo. O grupo tampouco faz parte da Moratória da Soja, um documento no qual as empresas signatárias assumem o compromisso de não comprar o grão produzido em áreas desmatadas.
Embora Souza evite polêmicas com os concorrentes, o fato é que a Caramuru avaliou não ter motivos para se unir a empresas constantemente atacadas pelas entidades de defesa do meio ambiente. A política de compra de produtos livres de organismos geneticamente modificados, mantida há quase dez anos, garantiu ao grupo uma boa relação com o Greenpeace e outras ONGs.
Uma das poucas esmagadoras de soja brasileiras a se manterem entre as grandes em um setor dominado por grupos multinacionais, como Bunge, Cargill e ADM, a Caramuru deverá processar, até o fim de 2008, 1,8 milhão de toneladas de soja produzida sem sementes transgênicas. O volume manteve-se estável em relação ao ano passado, mas o faturamento deverá subir mais de 30% e ultrapassar 1 bilhão de reais, com o aumento do preço da commodity. Da produção total, 55% são exportados na forma de grão, farelo e itens industrializados.
No mercado nacional, o óleo de soja, que chega às gôndolas com a marca Sinhá, é o carro-chefe das vendas da empresa. Além disso, é uma das únicas grandes marcas no mercado nacional não obrigadas, por lei, a exibir na embalagem a letra T, que indica a possibilidade de uso de soja geneticamente modificada.
(Por André Siqueira, Carta Capital, 15/08/2008)