A produção brasileira de etanol de cana somará 65,3 bilhões de litros em 2020, quase o triplo dos 22,8 bilhões de litros atuais. Esse crescimento será conseqüência da colheita de volume superior a 1 bilhão de toneladas de cana, mais que o dobro das atuais 490 milhões de toneladas. As projeções da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) demonstram o dinamismo da área sucroalcooleira, mas não resolvem uma dúvida do pequeno investidor: vale a pena aplicar em ações do setor? “A adoção do etanol como combustível renovável não tem volta”, resume o consultor José Ronaldo Rezende, sócio da
PricewaterhouseCoopers (PWC). O especialista em agronegócio reconhece que o álcool não será o substituto definitivo do petróleo, mas que terá espaço garantido – e considerável – no mercado brasileiro. O grande desafio que permanece é conquistar mercado internacional e garantir ao etanol tratamento de commodity, como a soja, uma matéria-prima com liquidez global e mercado dinâmico. “Ainda não tivemos capacidade de abrir o mercado internacional”, diz Rezende.
A dependência do mercado interno fez com que a redução de preços do açúcar e do etanol hidratado em 2008 tivesse forte impacto sobre as companhias abertas do setor. Cosan, São Martinho e Açúcar Guarani tiveram prejuízo. A maior delas, Cosan, apresentou prejuízo de R$ 47,8 milhões entre maio de 2007 e abril de 2008, depois de obter lucro líquido de R$ 357,3 milhões no ano fiscal anterior. A Unibanco Corretora avalia que as margens da companhia devem continuar apertadas em 2009.
Também no início de agosto, o Grupo São Martinho apresentou a meta de triplicar sua produção de cana-de-açúcar até 2020, orientada por um novo plano estratégico. O diretor financeiro e de Relações com Investidores, João Carvalho do Val, prometeu gestão totalmente profissionalizada, ao apresentar o novo executivo-chefe da empresa, Fabio Venturelli. Num setor ainda dominado pela gestão familiar, a viabilidade do planejamento e o profissionalismo da gestão da São Martinho serão colocados à prova nos próximos anos. O setor tem altíssimo potencial – mas ainda precisa demonstrar aos investidores comprometimento com as melhores práticas sociais, ambientais e de governança corporativa.
Produção em Crescimento
Da safra 2006/2007 para a safra 2007/2008
Cosan: 11,5%, para 40,3 milhões de toneladas de cana
Guarani: 55%, para 12,69 milhões de toneladas de cana
São Martinho: 10,2%, para 10,22 milhões de toneladas de cana
(Por Wellington Bahnemann e Tatiana Freitas, AE, 17/08/2008)