As usinas de açúcar e álcool da região centro-sul fecharam ontem a venda de 548 MW médios de energia a serem oferecidos no mercado brasileiro em 2009 e 2010. Esse é o maior volume de energia de bagaço de cana já negociado no país. Cada usina vendeu energia por 15 anos.
O primeiro leilão de reservas para as térmicas que usam biomassa como combustível (principalmente bagaço de cana) teve a participação de 44 usinas, mas apenas 31 unidades ofertaram a produção de energia. Segundo a CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), o valor médio por megawatt/hora foi de R$ 58,84, um deságio de 3,54% em relação ao preço inicial de R$ 61.
Esse é o valor da energia que será pago pelo consumidor na conta de luz, como encargo. O usineiro receberá, além desse valor, um adicional que será obtido a partir da venda da energia no mercado à vista. A novidade desse modelo é que será a câmara a vendedora da energia produzida, e não o usineiro, que recebe por ofertar a energia ao sistema elétrico. Dessa forma, a estimativa da EPE (Empresa de Pesquisa Energética) e da CCEE é a de que o valor final recebido pelos usineiros pode variar de R$ 148,69 (considerado o preço mais baixo negociado no leilão) a R$ 156,76 (valor mais alto que um usineiro receberá no primeiro leilão).
Para o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann -que acompanhou o resultado do leilão na sede da CCEE, em São Paulo-, a modalidade desenhada para atrair as usinas de açúcar e álcool para o setor elétrico cumpre o objetivo de obter a modicidade tarifária e beneficia o consumidor.
"O preço médio do ponto de vista do consumidor no leilão de reserva foi de R$ 58,84. Só para ter uma comparação, a energia vendida pelo consórcio da usina de Jirau foi de R$ 71,40", disse Zimmermann.
O governo também considerou positivo o fato de o leilão ter agregado ao sistema elétrico da região centro-sul uma capacidade instalada de 2.379 MW, embora a energia assegurada (o que foi vendido e será injetado no sistema) tenha ficado apenas em 548 MW médios.
A estimativa do governo é que metade da energia firme que poderia ser vendida no leilão ficou de fora. Maurício Tolmasquim, presidente da EPE, disse que a relação não foi baixa. Já que agora a outra metade poderá ser negociada pelos usineiros no mercado livre, as empresas que podem fazer contratos diretos com os geradores, afirma Tolmasquim.
Embora o consumidor tenha que pagar um encargo na conta de luz, o resultado final pode ser positivo, isso porque o uso da bioeletricidade das usinas de açúcar e álcool deverá substituir a geração das térmicas a óleo combustível ou gás natural, ambas mais caras.
Neste ano a estratégia do governo de preservar os níveis dos reservatórios do Sudeste fez ampliar a geração térmica com gás e óleo. A perspectiva é que esse custo deva entrar na conta de luz em 2009. Além disso, a geração nas usinas de açúcar ocorre entre maio e novembro, exatamente no período de estiagem, quando o nível dos reservatórios baixam.
Para Mateus Andrade, diretor da comercializadora de energia Delta, o resultado do leilão ampliará a segurança do sistema elétrico nacional, além de deflagrar um novo movimento de investimentos no setor sucroalcooleiro.
Sobre o preço, Andrade avalia que o deságio foi modesto, o que demonstrou que o preço definido pelo governo não foi alto. "O preço do leilão viabiliza alguns projetos, mas a elevação desse valor pode atrair ainda mais usinas para a venda de energia nos leilões futuros", afirmou. O governo não tem previsão de novos leilões de reserva para biomassa.
Leilões
A Brenco, comandada pelo ex-presidente da Petrobras Henri Philippe Reichstul, foi o grupo que mais vendeu energia no primeiro leilão. Dos 548 MW médios negociados, 108 MW médios foram ofertados pela companhia.
A empresa também foi a responsável pela oferta de energia com maior deságio: R$ 52,69 por MWh, 13,62% abaixo do preço inicial. A Brenco vendeu energia de quatro usinas.
(Por Agnaldo Britol, Folha de S. Paulo, 15/08/2008)