Muitas áreas costeiras dos oceanos do mundo estão ficando destituídas de oxigênio em um ritmo alarmante. Segundo pesquisadores, vários trechos do fundo dos mares perderam tanto oxigênio que mal conseguem sustentar a vida marinha. Segundo os cientistas, a causa principal disso são os nutrientes ricos em nitrogênio, provenientes de fertilizantes, que, após serem carregados pelos rios, vão parar nas águas costeiras.
Um estudo que será publicado nesta sexta-feira (15/08) no periódico "Science" anuncia que o número dessas "zonas mortas" marinhas em todo o mundo dobrou a cada dez anos a partir da década de 1960. Atualmente cerca de 400 áreas costeiras têm águas de fundo perpétua ou periodicamente destituídas de oxigênio, e em muitas delas a área atingida ou a intensidade do problema estão aumentando. Somadas, essas zonas equivalem a uma área maior do que o Estado norte-americano do Oregon (que tem 254.806 quilômetros quadrados).
"Nos últimos 40 ou 50 anos a atividade humana degradou a qualidade da água", disse em uma entrevista Robert J. Diaz, o principal responsável pelo estudo. De acordo com Diaz, que é professor do Instituto de Ciência Marinha de Virgínia, na Faculdade William and Mary, esta tendência não pressagia nada de bom para muitas áreas de pesca. "As zonas mortas tendem a ocorrer em áreas que, historicamente, são regiões de pesca da maior qualidade".
Embora o tamanho das zonas mortas seja relativamente pequeno quando comparado à superfície total dos oceanos, os cientistas afirmam que elas representam uma porção significativa das águas oceânicas nas quais habitam espécies de peixes e mariscos de valor comercial. Periodicamente, os níveis reduzidos de oxigênio dizimam peixes e crustáceos em zonas mortas no fundo das águas de locais como o Golfo do México, a Baía de Chesapeake e o Mar Báltico, fazendo com que as únicas formas de vida restantes neles sejam os micróbios.
Alguns lugares nos quais as zonas mortas aumentaram nos últimos anos são a costa da China e o Mar de Kattegat, no qual a pesca de lagostas da Noruega entrou em colapso. Essas zonas também surgiram inesperadamente em trechos na costa da Carolina do Sul e do Noroeste da América do Norte.
Neste verão a zona morta no Golfo do México cobre um trecho que é quase do tamanho do Estado de Massachusetts (cuja área é de 27.337 quilômetros quadrados). A área desta zona morta mais do que dobrou nos últimos 20 anos.
"Existem grandes áreas do golfo nas quais não é possível capturar um só camarão", diz Nancy N. Rabalais, diretora-executiva do Consócio Marinho da Universidade da Louisiana, que estuda a zona morta naquela região há mais de duas décadas. "É uma espécie de batalha perdida".
Os cientistas afirmam que a criação das zonas mortas é provocada, em grande parte, por um processo que começa quando o nitrogênio proveniente de adubos e esgotos estimula o crescimento de plâncton fotossintético na superfície das águas costeiras. À medida que estes organismos morrem e depositam-se no fundo do mar, eles são decompostos por micróbios que consumem grandes quantidades de oxigênio. E, quando o nível de oxigênio cai, a maioria dos animais que vivem no fundo é incapaz de sobreviver.
"A resposta dos organismos das nossas áreas costeiras é migrar ou morrer", afirma Diaz. "A adaptação à água com baixos níveis de oxigênio é uma coisa que precisa fazer parte da nossa história evolucionária. Não é algo que pode ser desenvolvido em um período de 40 ou 50 anos".
Muitas zonas mortas são cíclicas, reaparecendo todos os anos nos meses de verão. Mas, com o passar do tempo, elas podem acabar inteiramente com espécies que nela habitam. Elas também impediram a recuperação de espécies que estão sob proteção após terem sido dizimadas pela pesca excessiva, como o bacalhau do Mar Báltico.
Os níveis reduzidos de oxigênio também matam vermes anelídeos e outras fontes de alimento para peixes e crustáceos. "Depois que as zonas mortas surgem, é muito difícil reverter a situação", afirma Donald F. Boesch, presidente do Centro de Ciência Ambiental da Universidade de Maryland. "Elas têm um grande impacto sobre a capacidade de renovação das populações de peixes".
Boesch, que como Rabalais não participou do estudo, afirma que "a proliferação global" das zonas mortas, que costumavam ser um problema mais comum no mundo desenvolvido, tem sido alimentada pela industrialização, pela mudança de hábitos alimentares e pelo crescimento populacional, que implicaram em maior uso de fertilizantes e em mais lixo despejado nos cursos d'água.
"As zonas mortas representam uma séria ameaça para os ecossistemas litorâneos", adverte James N. Galloway, professor de ciência ambiental da Universidade de Virgínia. "Mas o desafio é descobrir como gerenciar o uso de fertilizantes sem comprometer a capacidade de alimentar a população mundial".
Robert W. Howarth, professor de ecologia e biologia ambiental da Universidade Cornell, diz que existem métodos para reduzir o despejo de material rico em nitrogênio nos cursos d'água, incluindo a plantação de centeio ou trigo de inverno, ao invés de deixar os campos abandonados após a colheita de outono. Tal plantio faria com que grande parte dos fertilizantes fosse absorvida pelas culturas de inverno, em vez de ser carregada para rios e lagos pelas chuvas da primavera.
(Por Bina Venkataraman, The New York Times, UOL, 15/08/2008)