Renato de Jesus conhece de cor e salteado cada recanto da reserva natural de Linhares, no norte do Espírito Santo, onde ele trabalha há 31 anos. Neste labirinto de 220 km2 de vegetação tropical, ele começa a visita apresentando o rei desta área, perto do seu escritório instalado numa casa de toras de madeira envernizadas: o pequi vinagreiro, cujo tronco de 14 metros de circunferência corresponde aos 513 anos de idade que os especialistas atribuem a esta árvore fruteira. Ela já estava ali quando os portugueses desembarcaram no ano de 1500.
Neste perímetro preservado, que pertence à grande companhia de mineração brasileira Vale do Rio Doce, Renato de Jesus, o gerente do Centro Tecnológico da Biodiversidade, tornou-se um especialista na recuperação das áreas deterioradas pelo homem, e, acima de tudo, das áreas de mineração que foram exploradas pela Vale do Rio Doce. "Não existe terreno que não possa ser recuperado; o que existe são locais que foram mais destruídos do que outros, e, portanto, mais caros de recuperar. É onde a vegetação demora mais para renascer", garante o gerente, que diz ter perdido a conta das áreas que voltaram a ficar verdes por efeito do trabalho da sua equipe.
O tempo de recuperação depende da atividade de cada mina. Num antigo terreno de extração de bauxita, o engenheiro florestal calcula que são necessários 50 anos para que a natureza volte a ficar mais ou menos parecida com o que ela era anteriormente. Atualmente, os responsáveis da preservação do meio ambiente são chamados a intervirem logo no começo de um programa de exploração. Este será o caso na Nova Caledônia, onde a Vale do Rio Doce se prepara para extrair níquel.
A equipe baseada em Linhares desenvolveu um método que se repete a cada intervenção: os especialistas aplanam as irregularidades da topografia que foi destruída, restabelecem as vias de drenagem das águas de chuva, e então replantam a vegetação. As plantas e as árvores que produzem as essências características da região serão privilegiadas, mas, antes disso, será preciso nutrir o solo que foi empobrecido, de maneira a aumentar sua fertilidade.
Grande viveiro
Uma técnica que foi elaborada com a ajuda de biólogos permite ganhar tempo e evita ter de recorrer a toneladas de adubo composto. Assim, o fato de plantar espécies leguminosas, como mudas de feijão, ou pés de acácias permite "fixar" o nitrogênio, enquanto certas bactérias ou parasitas ajudam a "fixar" o fósforo. O ecossistema recomeça então a funcionar. No espaço de três décadas, a Vale do Rio Doce plantou 80 milhões de mudas de árvore.
Com isso, a reserva abriga um grande viveiro, o mais importante da América Latina uma vez que ele produz anualmente 55 milhões de mudas, de 800 espécies diferentes. "Nós contamos com a ajuda de 'mateiros'; são pessoas que nasceram aqui e que conhecem todas as plantas", explica a bióloga Alice Mondin. "E são eles que trazem de volta dos sub-bosques as sementes que são necessárias para o viveiro". Essas sementes se transformam posteriormente em mudas, bem alinhadas, às centenas, dependendo da luz e da umidade das quais elas precisam.
Nem todas elas são provenientes da mata atlântica vizinha. Elas podem ser trazidas da Amazônia ou de outros lugares. O perímetro reservado para as palmeiras comporta 252 espécies diferentes. Além disso, o Centro Tecnológico atende não apenas as encomendas da companhia como também àqueles feitos por empresa terceiras. Os diques e os cais do porto de Tubarão, na orla oceânica que fica perto dali, passaram a ser abrigados por um cinturão verde, composto por 8 milhões de árvores, oriundas de 350 espécies.
"É importante valorizar os ecossistemas e o papel da vegetação, pois esta pode filtrar a água dos solos, e ainda reduzir os níveis de ruído nas cidades", argumenta Renato de Jesus. Em Linhares, a presença da floresta tropical gerou um microclima. Com isso, chove com maior freqüência na reserva do que nos campos cultivados que a cercam.
Muito procurado, o Centro de Tecnologia em Biodiversidade divulga seus programas de conservação e de recuperação dos recursos naturais. Ele é visitado por 30.000 pessoas a cada ano. Dentre estas há universitários, cientistas, e, de modo mais recente, agricultores, preocupados em desenvolverem a exploração sustentável das suas lavouras.
(Por Annie Gasnier, Le Monde, UOL, 15/08/2008)