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crueldade com animais primatas em extinção comércio de peles
2008-08-15

Na ilha de Bioko, na África Ocidental, primatas raros estão sendo abatidos para sustentar o comércio de carne de caça. Ao documentar, em janeiro deste ano, a sua rara biodiversidade, um time de fotógrafos e conservacionistas constatou que as florestas da ilha estão saudáveis, mas não há garantia de que sua fauna extraordinária vá sobreviver.

Em 1551, um estranho animal macho foi exibido ao público na cidade alemã de Augsburgo. Nos pés e nas mãos, ele tinha dedos que pareciam humanos, e exibia uma "natureza alegre", embora também fosse notável sua predisposição a ficar de costas para os espectadores. Com base em uma gravura dessa criatura, os biólogos acreditam que se tratava de um dril, um macaco africano parecido com um mandril pequeno. Mesmo hoje, mais de 450 anos depois, os drils são tão pouco estudados na natureza que, recentemente, quando uma equipe de biólogos topou com um bando deles na ilha de Bioko, na Guiné Equatorial, o assombro foi geral.

Maiores primatas de Bioko, os drils estavam se alimentando em uma figueira que crescia na Gran Caldera da ilha, uma imensa cratera 2 mil metros acima do nível do mar. Antes, naquela mesma manhã, os cientistas haviam avistado bandos (cada qual variando de cinco a 30 indivíduos) de macacos alvoroçados: cercopitecos-de-orelha-vermelha, colobos-pretos e colobos-vermelhos, estes últimos os primatas mais ameaçados de extinção na ilha.

Os biólogos consideram Bioko uma espécie de laboratório natural para o estudo de plantas e animais que evoluíram em condições de isolamento. A ilha está situada no golfo da Guiné, a 30 quilômetros da costa ocidental da África, e forma um arquipélago com outras três ilhas. Estas São Tomé, Príncipe e Annobón ficam em águas muito profundas, tendo sido formadas há dezenas de milhões de anos e colonizadas por plantas e animais da África que chegaram por acaso a suas praias. Bioko, por outro lado, esteve ligada ao continente africano durante todas as eras glaciais, das quais a mais recente remonta apenas a cerca de 12 mil anos. Como uma arca de Noé, a ilha abriga um isolado conjunto de subespécies que passou por evolução distinta daquelas no continente. Há ali sete espécies de macaco, incluindo o dril; quatro de gálago; duas de pequeno antílope, o duiker; uma de porco-espinho; uma de hírax arborícola; uma de rato-gigante; e três espécies de roedor anomalurídeo. Também se acha ali o linsang-africano, parecido com gato. Por outro lado, não há leão nem leopardo. Essa lista já incluiu o búfalo-vermelho, mas ele foi tão caçado que se extinguiu há um século.

Acrescente-se ainda orquídeas, caracóis terrestres, peixes de água doce, anfíbios, aranhas e insetos todos evoluindo distintamente de seus parentes continentais. No interior da ilha, matas, campos e florestas tropicais permanecem quase no mesmo estado em que estavam quando os primeiros exploradores portugueses desembarcaram em suas praias, no século 15: belas e quase intocadas. "É um dos lugares mais inalterados pelo homem que eu já vi", comenta a pesquisadora Gail Hearn, primatóloga da Universidade Drexel, na Pensilvânia, uma das participantes da expedição à Gran Caldera a sua 13a incursão pelas profundezas dessa floresta.

Gail fundou o Bioko Biodiversity Protection Program (BBPP, "Programa de Proteção da Biodiversidade de Bioko"). Todos os anos, no mês de janeiro, ela reúne equipes de cientistas e de estudantes americanos e guinéu-equatorianos para a realização de exaustivos levantamentos da biodiversidade local. Neste ano, uma equipe patrocinada pela National Geographic Society, a organização Conservação Internacional e a Liga Internacional dos Fotógrafos de Conservação (ILCP, na sigla em inglês) juntou-se a ela para realizar uma Rapid Assessment Visual Expedition (Rave, "Expedição de Rápida Avaliação Visual"), com duração de 12 dias e o objetivo de documentar a maior quantidade possível de macacos, assim como o resto da extraordinária variedade biológica existente em Bioko uma riqueza preservada graças à história da ilha, mas agora ameaçada pela caça ilegal.

No século 15, a flora e a fauna de Bioko impressionaram de tal modo o primeiro europeu a visitá-la, o explorador português Fernando Pó, que ele batizou a ilha de "Formosa". Em seguida, todos os europeus que desembarcaram ali tentaram implantar sua primeira colônia africana.

(Veja, UOL, 12/08/2008)


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