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Cia Siderúrgica do Atlântico cvrd thyssen-krupp
2008-08-14

Em outubro de 2006 é lançada no bairro de Santa Cruz, na Zona Oeste do município do Rio de Janeiro, a pedra fundamental da planta industrial de uma das maiores empresas do mundo no ramo de mineração, siderurgia e tecnologia de ponta no setor automotivo. Será a maior siderúrgica a ser instalada na América Latina. Cinco milhões de toneladas de placas de aço, 100% voltadas para exportação: 3 milhões de toneladas para os Estados Unidos e 2 milhões para a Alemanha. A energia prevista para viabilizar essa produção virá de uma fonte altamente poluente: serão 4 milhões de toneladas de carvão por ano, que chegarão de navio à empresa. Ao todo, nove milhões de toneladas/ano de matéria prima circulando pela bela Baía de Sepetiba.

Enquanto isso, cerca de oito mil famílias de pescadores que vivem no entorno já experimentam o sumiço do robalo, da corvina, do camarão. O lugar em que a empresa está fazendo a dragagem para garantir a acessibilidade dos navios ao seu porto é exatamente onde essas espécies fazem sua desova, garantem sua reprodução e, com isso, a fartura na mesa dessa gente que há gerações vive do que a Baía lhes presenteia.

Quanto ao grande argumento para atrair investimentos dessa monta, criar empregos... O próprio governo do Estado não sabe quantos postos ao certo serão criados. Com base no estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que mostra que a cada R$ 200 mil de investimentos é gerada uma nova vaga de emprego, a Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (SECT) anunciou no dia 10/06/08 que as obras do complexo siderúrgico do grupo alemão ThyssenKrupp e da Companhia Vale do Rio Doce vão gerar 35 mil vagas a partir de um investimento de R$ 7 bilhões. Só que a Secretaria de Obras do mesmo governo, em relatório disponível na página do órgão, afirma que serão gerados 10 mil empregos durante a obra e 3,5 mil empregos após seu pleno funcionamento. Só aí já haveria uma contradição nessas informações.

Ao mesmo tempo, denúncias já realizadas ao Ministério Público Federal apontam para mais de 80 mortes de operários durante a implantação da usina em Santa Cruz. Há questões graves também relacionadas ao impacto ambiental e à legalidade das obras que estão sendo realizadas a ritmo acelerado, para garantir sua inauguração em março de 2009. Recentemente (09/06/08) o Ministério Público Federal "recomendou ao Estado a suspensão das licenças ambientais dadas pela Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema) para as obras. Requisitos legais das licenças expedidas foram descumpridos, com destaque para a exigência do aval do Ibama ao empreendimento. Essa anuência é necessária devido à intervenção no entorno da Baía de Sepetiba, área de preservação permanente. A licença para desvio do canal de São Fernando, por exemplo, dependeria da autorização do Ibama para a retirada da vegetação nativa de Mata Atlântica" (1). Enquanto isso, as populações locais lutam para enfrentar essa espécie de Tsunami que é a implantação de fábricas desse porte em regiões de forte presença de comunidades e de biodiversidade.

Seria interessante também calcular quanto custa matar o local de desova de espécies marinhas. Quanto custa a destruição de manguezais, a escassez de peixe que compromete a vida daqueles e daquelas que vivem da pesca? Quanto valem a atmosfera e a água que serão contaminadas pela operação da CSA?

O atual modelo econômico quer transformar os alimentos, a energia e todos os recursos naturais em mercadorias para atender à ganância de lucros das grandes empresas transnacionais. O consórcio ThyssenKrupp/Vale é um dos empreendimentos cujas operações envolvem vários setores industriais, se apropriando da terra, das águas, dos minerais e da biodiversidade, privatizando o que é de todos e todas. E tudo isso, contando com o apoio financeiro do Governo Federal através de isenções fiscais (só em 2006 cerca de R$ 250 milhões) e de empréstimos públicos, como foi o do BNDES, da ordem de R$ 1,48 bilhão.

O que seria possível fazer com esses recursos? Que tipo de desenvolvimento poderia ser pensado para esta região do município do Rio de Janeiro, que é a mais pobre da cidade, e onde inúmeros conflitos fundiários (por falta de moradia) e ambientais (pela atuação das grandes empresas) gritam e denunciam a situação de superexploração em que vivem os trabalhadores daquela região?

A Baía de Sepetiba já sofre há anos a ação irresponsável de grandes empresas que a tratam como depósito de lixo. Ao invés de adotar políticas públicas que reparem os erros passados e busquem projetos limpos e includentes, os governos têm optado por continuar insistindo no modelo do passado: o primário-exportador baseado na exploração máxima da força de trabalho, energia e matéria prima baratas e abundantes, sem qualquer consideração com a justiça social e ambiental.

É preciso refletir se é desse tipo de emprego que os trabalhadores precisam. Outras fontes de vida e de trabalho estão sendo destruídas em nome do ‘progresso’. Ainda é tempo de reagir! (2).

Notas:
(1) Disponível em http://www.prrj.mpf.gov.br
(2) Entidades alemãs solidárias com as comunidades locais afetadas pelo projeto ThyssenKrupp conseguiram introduzir o caso numa discussão no Parlamento alemão. O Governo central terá que responder às perguntas do Parlamento nas próximas semanas.

(Por Sandra Quintela *, Adital, 13/08/2008)
* Socioeconomista do Pacs


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