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contaminação com agrotóxicos
2008-08-14

O bombardeio de agricultores com agrotóxicos lançados a partir de aviões está aumentando em Jaguaré, no norte do Espírito Santo. Agora, são usados dois aviões. Nenhuma providência foi adotada até o momento pelo governo do Estado, e também prefeitura, Ministério Público Estadual (MPES) e Ibama, para conter a contaminação da região e dos trabalhadores.

Segundo relato de Adalto Luciano Togneri, da coordenação do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) de Jaguaré, só os movimentos populares estão discutindo o problema da contaminação das lavouras e a ameaça aos agricultores. Não há providências na esfera pública, apesar de as denúncias estarem sendo feitas desde o início do ano.

Na região de Santo Antônio de Pádua, o lançamento de agrotóxicos por aviões está sendo feito diariamente, como na última semana. Os venenos são aplicados sobre cafezais, e é um coquetel formado por fungicidas, inseticidas, acaricidas, entre outros. Aplicados de qualquer forma, os agrotóxicos acabam atingindo as pessoas.

Agora são usados dois aviões agrícolas, um amarelo e outro branco. Os agricultores não têm precisão de onde é a empresa proprietária dos aviões. Investigam uma empresa com sede em Linhares, de onde partiriam os aviões em vôos diários.

Os movimentos sociais de Jaguaré trabalham para a realização de uma audiência pública que discuta o problema. Mas há omissão dos órgãos em todos os níveis. Inclusive do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), pois os venenos foram lançados próximo à Reserva Biológica de Sooretama.

Os agricultores já sabem que o próprio Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf) autoriza o uso de aviões para aplicação de agrotóxicos nas lavouras de café. As aplicações de venenos agrícolas com o emprego de aviões também foram realizadas em Vila Valério e Linhares. Em Vila Valério, até escolares foram atingidos. Também nestes casos não houve punição dos responsáveis.

A média anual de pessoas intoxicadas por venenos agrícolas no Espírito Santo nos últimos oito anos foi de 756, só dos que foram atendidos no Centro de Atendimento Toxicológico (Toxcen), da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Nos últimos oito anos o centro registrou 6.050 atendimentos de pessoas vitimadas pelos venenos agrícolas. Há subnotificação de casos.

Os agrotóxicos representam 14% do total de atendimentos. Os venenos agrícolas são os mais letais dos agentes causadores de intoxicações no Estado.

O governo do Estado, pela política que desenvolve na Secretaria de Estado da Agricultura (Seag), estimula o uso de agrotóxicos. O resultado é que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmou que o Espírito Santo é o estado que mais usa herbicidas no País. E o segundo lugar no Brasil no uso do conjunto dos agrotóxicos.

Dados do documento "Indicadores de Desenvolvimento Sustentável - Brasil 2008" referentes a 2005 apontam que, naquele ano, em cada hectare (área com 10 mil metros quadrados, equivalente a um campo de futebol), as empresas e os fazendeiros usaram 3,7 kg de herbicida. A quantidade tornou o Estado líder brasileiro no uso de herbicidas.

Se forem considerados todos os agrotóxicos aplicados, o Espírito Santo, com o uso de 4,7 quilos por hectare, fica atrás apenas de São Paulo, que consome 7,7 quilos por hectare, média de 2005. Neste ano, a média nacional foi de 3,2 quilos de agrotóxicos por hectare.

Os venenos usados na produção de alimentos intoxicam 500 mil brasileiros por ano, e 10 mil trabalhadores morrem anualmente no Brasil, contaminados pelos agrotóxicos. Dos intoxicados por venenos agrícolas, cerca de 10% ficam definitivamente incapacitados para o trabalho, o que totaliza uma perda de 50 mil trabalhadores/ano no País.

As transnacionais do agrotóxico faturam muito e em escala crescente: uma receita de US$ 5 bilhões em 2007, contra US$ 3,9 bilhões em 2006, e US$ 4,6 bilhões em 2004. Em 2005, o Brasil consumiu 365,5 mil toneladas de venenos agrícolas. O País é o quarto lugar no ranking mundial de consumo de agrotóxicos.

(Por Ubervalter Coimbra, Século Diário, 14/08/2008)

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