Em um movimento contrário aos novos paradigmas de sustentabilidade, países do Oriente Médio, cuja principal fonte de riqueza é o petróleo, buscam uma alternativa econômica construindo ilhas artificiais e investindo no turismo de luxo.
Pela primeira vez no Brasil, o engenheiro dinamarquês Thomas Gierlevsen, diretor de uma das maiores consultorias de arquitetura marítima do mundo, a COWI, conversou com nossa equipe e falou sobre os desafios de projetar cidades em ilhas artificiais em países como Emirados Árabes e Catar, durante um evento de arquitetura realizado em Florianópolis (SC).
CarbonoBrasil – O senhor não acha um pouco arriscado construir ilhas artificiais em um mundo que enfrenta problemas ambientais como o aquecimento global, com previsões de aumento do nível dos oceanos, por exemplo?
Thomas Gierlevsen – Não, porque estes riscos são levados em conta no processo de desenho das ilhas.
CB – Mesmo as piores previsões, como as dos cientistas do Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima (IPCC)?
TG – Sim. Qualquer projeto de engenharia em áreas costeiras tem que levar isso em consideração.
CB – O que o senhor entende por turismo sustentável, tema que se comentou muito aqui neste evento?
TG – Quando você trabalha com a natureza, constrói uma ilha artificial, por exemplo, ela precisa ser sustentável. Você não pode destruir um habitat, e os projetos precisam ser de longo prazo, devem durar mais de cem anos.
CB – E vocês consideram fatores como uso de energias renováveis em tais projetos?
TG – Isto entra em alguns projetos, mas esta não é minha área de atuação. Meu foco é a engenharia costeira. Existem muitas outras áreas para se considerar a sustentabilidade, como tratamento de lixo.
CB – A ilha é pensada para ser sustentável em todos os aspectos?
TG – Sim. Mas há muitas coisas que não são sustentáveis, como a refrigeração, com sistemas centrais de ar condicionado. Isto utiliza muita energia. Você verá muita coisa que não tem sustentabilidade, mas do ponto de vista da engenharia costeira, a ilha é sustentável.
CB – Para manter a ilha, então, há muitos fatores que não são sustentáveis?
TG – Sim, porque você está construindo uma cidade no deserto e, por isso, precisa de muita energia para manter a temperatura baixa no interior dos edifícios.
CB – E isto não é uma idéia um tanto “maluca”, construir estes imensos projetos que exigem um grande volume de recursos naturais em um movimento exatamente contrário ao desafio global, que é diminuir este consumo?
TG – É uma situação difícil porque nestes países, no Golfo, não há nada. É um deserto. Então se eles querem ter um país atrativo quando o petróleo acabar, eles precisam fazer algo, construir áreas atrativas para que as pessoas se mudem para lá, visitem. É muito diferente das sociedades que conhecemos na Europa e aqui, onde tudo é muito antigo, onde temos esta história antiga. Eles são sociedades modernas e precisam fazer algo para tornar a cidade atrativa.
CB – Então estas nações estão preocupadas em ter, no futuro, algum atrativo para movimentar sua economia, quando o petróleo acabar?
TG – Eu acho que sim, para isso também estão construindo indústrias, novos negócios, etc.
(Envolverde/Carbono Brasil, 13/08/2008)