A Comissão de Serviços de Infra-Estrutura (CI) do Senado aprovou nesta quarta-feira (13/08), em decisão terminativa, proposta para estabelecer que, até 2018, dez por cento do consumo anual de energia no país deverão ser proveniente de fontes renováveis, como as de matriz solar, eólica e biomassa. O autor do projeto (PLS 204/08), senador Renato Casagrande (PSB-ES), argumenta que os países líderes na corrida pela geração e consumo de energia renovável contaram com forte ação por parte dos governos para os avanços obtidos, quase sempre mediante a fixação de metas obrigatórias.
O texto determina que cada distribuidora de energia e cada consumidor livre (aquele autorizado a comprar energia elétrica de outro fornecedor que não a concessionária local) deverão comprovar anualmente o cumprimento das metas para cada período. Essas metas deverão ser escalonadas em regulamentação própria, até que seja atingido o patamar mínimo de dez por cento em 2018.
Em decisão unânime, os integrantes da CI aprovaram o parecer pela aprovação da matéria conforme relatório preparado senador Gilberto Goellner (DEM-MT).
A proposta também defende a retirada, da legislação vigente, da exigência de carga mínima de 500 kW (kilowatts) para os consumidores livres especiais. Nessa categoria, estão aqueles que, além de exercerem a opção de compra de energia elétrica de fornecedor distinto da concessionária, também são supridos por fonte renovável. A restrição de carga é vista como um obstáculo para a futura expansão da geração renovável, quando os preços tiverem baixado e o mercado estiver mais aquecido.
Meta possível
Na avaliação inserida na justificativa à proposta, Casagrande afirma que o desenvolvimento de fontes renováveis de energia é um grande desafio para o país. Para que o Brasil possa ocupar lugar necessário nesse mercado, conforme o senador, instrumentos e metas precisam ser estabelecidos. Segundo ele, a meta de dez por cento até 2018 não é difícil de ser atingida e pode até haver uma corrida por investimentos na geração se o governo garantir a compra dessa energia, conforme expectativas assumidas por especialistas do setor.
O autor destacou ainda que metas obrigatórias de geração e consumo foram adotadas pela China, país que espera chegar a 2020 com 15% de toda sua energia produzida a partir de fontes renováveis. Para 2010, a meta a ser alcançada é de 3% do total. Em decorrência dessa política, os chineses teriam chegado ao fim de 2007 com um incremento de 127% na geração de energia eólica.
Gilberto Goellner, em seu relatório, observou que chefes de governo de Estado e de governo de 191 países-membros da ONU assinaram em 2000 a Declaração do Milênio, documento que consagra entre seus fins o respeito à natureza. Em decorrência, entre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) está a sustentabilidade ambiental, o que somente será possível com o uso crescente de energias renováveis. Para ele, as condições do país são extremamente favoráveis nessa questão. Nesse sentido, afirma que o projeto de Casagrande oferece caminhos, ao estimular e simplificar processos de geração de energia por fontes renováveis.
Para garantir maior participação de energias renováveis na matriz energética brasileira, o senador Casagrande propõe modificações no corpo da Lei 10.848, de 2004, que disciplina o regime das concessões de serviços públicos de energia elétrica e institui a Anatel. Quanto à carga mínima para produção de energia independente - e que, por correlação, normalmente incide também sobre fontes alternativas renováveis - a modificação recai sobre a Lei 9.427, de 1996, com redação alterada pela lei que trata do regime de concessões no setor de energia.
(Por Gorette Brandão, Agência Senado, 13/08/2008)