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política energética matriz energética hidrelétricas no brasil
2008-08-14

Nesta entrevista, José Goldemberg defende a construção de hidrelétricas na Amazônia, mas faz uma ressalva: “Elas são feitas em áreas muitos sensíveis, do ponto de vista ecológico, de modo que é preciso tomar muito cuidado, efetivamente, para que sejam construídas de uma maneira que não dêem origem a grandes impactos ambientais”. No entanto, para ele, a energia eólica pode ser mais desenvolvida no Brasil, principalmente nos estados do Norte e Sul. Goldemberg acredita, por isso, que “a solução é continuar no caminho das usinas hidrelétricas, que produzem grandes blocos de energia, e também investir na energia do bagaço”. A entrevista foi realizada com exclusividade, por telefone, pela IHU On-Line.

Na entrevista Goldemberg analisa a relação do aquecimento global com a produção de energia do país e alerta para as posições dos Estados Unidos e China, que são os grandes emissores de poluição e se negam a adotar medidas para reduzir essas emissões. “Politicamente, o Brasil se recusa a adotar medidas para reduzir as suas emissões e, ao fazer isso, legitima a posição da China, que também não quer reduzir as suas emissões e se tornou o grande emissor mundial, superando até os Estados Unidos”, afirmou.

José Goldemberg é pós-doutor em Física, pela Universidade de São Paulo - USP, onde desde 1955 é professor. Foi reitor da mesma universidade. Também é membro do Projeto BASIC da University of Sussex. É autor de Energia, meio ambiente e desenvolvimento (São Paulo: Edusp, 2003) e World Energy Assessment OVERVIEW 2004 Update (New York: United Nations Development Programme, 2004), entre outros livros.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - O Brasil está na contramão das soluções para o aquecimento global?
José Goldemberg –
A meu ver, o Brasil não está na contramão. Quem está na contramão são os grandes emissores, ou seja, a China e os Estados Unidos, que emitem, cada um deles, 25% das emissões globais. O Brasil, por sua vez, é o quarto emissor mundial. Acontece que, politicamente, o país se recusa a adotar medidas para reduzir as suas emissões e, ao fazer isso, legitima a posição da China, que também não quer reduzir as suas emissões e se tornou o grande emissor mundial, superando até os Estados Unidos. A posição do Brasil é, de fato, estranha porque ele teria facilidade para reduzir as suas emissões diminuindo o desmatamento da Amazônia.

IHU On-Line - O governo brasileiro está investindo muitos recursos, financeiros e naturais, na construção de grandes hidrelétricas em rios da Amazônia e no potencial nuclear, com a construção de Angra 3. Qual é a sua a visão sobre isso? Porque o Brasil não investe em energias alternativas?
José Goldemberg –
As usinas hidrelétricas são a melhor forma de produzir energia no Brasil, de forma que eu não vejo problema algum no fato de o país continuar investindo nas hidrelétricas, mesmo que seja na Amazônia. Evidentemente que as hidrelétricas da Amazônia são feitas em áreas muitos sensíveis, do ponto de vista ecológico, de modo que é preciso tomar muito cuidado, efetivamente, para que sejam construídas de uma maneira que não dêem origem a grandes impactos ambientais. Hoje, a maioria da energia usada no Brasil vem de hidrelétricas e, ao meu ver, deve continuar vindo das hidrelétricas. Agora, nós estamos falando de 20 milhões de quilowatts. São investimentos grandes em usinas grandes.

A usina de Angra dos Reis, na realidade, está numa posição marginal, porque a energia nuclear causa problemas ambientais. Quem tem dito isso não sou eu, mas o Ministério do Meio Ambiente. Angra 3 vai contribuir muito pouco para os problemas de energia do Brasil. Quando ela ficar pronta, vai produzir aproximadamente um milhão de quilowatts. Isso é cinco vezes menos do que vai produzir a Usina do Rio Madeira, que está sendo licenciada agora. E é também cinco vezes menos do que a energia que será produzida em São Paulo queimando bagaço de cana, que é renovável. O bagaço de cana é um produto agrícola e, portanto, embarcar no caminho da energia nuclear, que ecologicamente traz controvérsias e tem um custo muito elevado, me parece seguir fora do rumo que seria mais interessante para o Brasil.

IHU On-Line – E por que o Brasil não investe em energias alternativas?
José Goldemberg –
O Brasil até que está investindo em energias alternativas, mas elas, até hoje, não pertencem ao país. As energias alternativas trazem uma contribuição pequena. Há um programa do governo federal para produzir energia a partir do vento, das pequenas centrais hidrelétricas e usando bagaço. O intuito do programa é produzir três milhões de quilowatts. Isso é o que o Brasil precisa crescer por ano. A taxa de crescimento do país é tal que ele precisa crescer três milhões de quilowatts por ano. Portanto, mesmo que o Proinfa (Programa de incentivo às fontes alternativas de energia elétrica) fosse cumprido integralmente, e há anos está patinando, pois acabou saindo apenas parcialmente do papel, ele não resolveria as necessidades do Brasil. O país deve investir em energias alternativas e precisa fazer mais do que está fazendo, mas a solução não será por aí, efetivamente. A solução é continuar no caminho das usinas hidrelétricas que produzem grandes blocos de energia e também investir na energia do bagaço. A única exceção a isso é a energia eólica, que poderia ser desenvolvida muito mais no Norte e no Sul do país. Em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, há muitas possibilidades de acontecer isso. É difícil entender por que os estados do Norte não se lançam num programa importante para fazer sua utilzação.

IHU On-Line - O Brasil perdeu espaço na corrida pela energia eólica para países como Alemanha e EUA?
José Goldemberg –
Como o governo federal não deu ênfase suficiente para a energia eólica, o Brasil está atrasado em relação a países como a Alemanha e a Espanha, que estão conseguindo desenvolvê-la em grande escala. A perda maior é o fato de o país insistir em usinas nucleares que são mais caras do que outras usinas. Optar por isso é fazer um desvio do caminho correto.

IHU On-Line - Que contribuição os biocombustíveis podem trazer para solução do aquecimento global?
José Goldemberg –
Eles podem trazer uma grande contribuição, o que, no Brasil, já acontece. Se o país não usasse biocombustíveis, principalmente etanol, estaria emitindo 15% mais gases de efeito estufa do que está emitindo atualmente. Em São Paulo, 51% da gasolina foi substituída por etanol, de modo que é uma contribuição interessante em nível de Brasil. Em nível internacional, o etanol está substituindo aproximadamente 1,5% da gasolina usada no mundo, o que ainda é pouco, mas é uma contribuição que começa a ser significativa. Eu penso que esses programas de biocombustíveis vão se expandir rapidamente nos próximos anos.

IHU On-Line – Em relação ao aquecimento global, podemos considerar que estamos vivendo no limite ecológico do mundo?
José Goldemberg –
Se países como Estados Unidos e China não aceitarem limitações nas suas emissões, haverá modificações importantes no clima. Não será o fim do mundo, mas viveremos sob um clima diferente. Provavelmente, precisaremos fazer adaptações importantes em muitas áreas do mundo. Nós temos de contemplar o fato de que haverá modificações importantes. Por exemplo: se a Floresta Amazônica continuar sendo devastada, vai virar uma savana, uma espécie de cerradão. Além disso, o Nordeste vai praticamente virar um deserto. Isso porque já é um lugar quente e vai ficar mais quente ainda. Junto a isso, o regime de chuvas vai afetar, de uma maneira significativa, a região Centro-Sul.

IHU On-Line – Então, como o problema do desmatamento da Amazônia pode ser resolvido?
José Goldemberg –
Essa pergunta vale muito. Realmente a ação do governo federal (de todos) tem sido insuficiente nessa área. Esse é um problema extremamente difícil.

IHU On-Line – Em relação à Rodada Doha, como o senhor avalia a posição do governo federal?
José Goldemberg –
A Rodada Doha dizia respeito à liberação das trocas de comércio. Então, o Brasil poderia exportar sua produção para Estados Unidos e Europa, mas para isso esses países precisariam reduzir suas barreiras alfandegárias. Em compensação, o Brasil reduziria também as barreiras alfandegárias para certos produtos, como automóveis. Ou seja, o país exportaria mais etanol, o que é uma coisa boa do ponto de vista ambiental, mas precisaria abrir o mercado para carros estrangeiros, o que causaria um incômodo às indústrias automobilísticas. Assim, não foi possível chegar a um acordo. Eu vejo como um fator ruim que não tenha ocorrido acordo em decorrência das conseqüências para o clima, porque não fechar esse acordo significa não expandir o mercado do etanol.

(Instituto Humanitas Unisinos, 13/08/2008)


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