Para seguir adiante na construção da usina de Angra 3, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) vai ignorar a exigência do Ibama de uma solução definitiva para abrigar o lixo de alta radioatividade, segundo o jornal O Globo. A Cnen deve dar a licença para a usina até o fim do mês. Os rejeitos nucleares são guardados provisoriamente em piscinas (como na foto abaixo) e lá ficarão, segundo a Cnen.
A liberalidade do órgão, que deveria, em tese, ser o mais rigoroso com a empreitada nuclear, não causa espanto. A Cnen sofre com um conflito de interesses perigoso para o país. A comissão, que tem como missão fiscalizar e impor normas rigorosas para a construção e funcionamento das usinas, também é o mesmo órgão que promove a indústria.
A situação é basicamente a seguinte. A Cnen é uma comissão paga com nosso imposto para fiscalizar uma empresa estatal, a Eletronuclear. A Eletronuclear, por sua vez, pretende construir usinas nucleares com dinheiro público, e vai compensar o investimento com subsídios ocultos. A aventura nuclear de Angra 3 custará mais, oferecerá mais riscos e produzirá menos energia do que um parque de cataventos (energia eólica). Angra 3 também vai gerar menos energia do que as usinas de açúcar e álcool, que vão oferecer sua eletricidade produzida pela queima do bagaço de cana em um leilão federal nesta quinta-feira.
Tanto os parques eólicos quanto a eletricidade do bagaço de cana tem investidores privados que correm o risco por nós. Apesar disso, o governo prefere apostar em uma estatal nuclear cujos gastos – e agora as regras de segurança – nunca tiveram fiscalização independente.
(Por Alexandre Mansur,
Blog do Planeta, 12/08/2008)