Jovem ignorou o equipamento e inscreveu desenhos parecidos com letras
Quando instalou o sistema de câmeras de segurança em sua padaria e na casa de carnes, quatro meses atrás, Ernesto Trentin, 53 anos, tinha em mente coibir a ação de assaltantes. Pois o equipamento acabou flagrando uma cena que indignou o comerciante.
Por volta da meia-noite de quinta-feira passada, a câmera de vigilância da casa de carnes na Avenida Maurício Cardoso, bairro Hamburgo Velho, em Novo Hamburgo, flagrou um pichador em ação. Nas imagens, um rapaz equipado com rolo e tinta parecendo pintar símbolos que se assemelham a letras nas paredes da fachada. A seqüência de vídeos, com duração aproximada de três minutos, ainda mostra o momento em que o jovem recolhe o material em uma sacola e sai caminhando pela rua.
Quando chegou à loja, na sexta-feira, Trentin levou um susto. “Logo lembrei das imagens das câmeras de segurança e corri para o computador’’, conta. Apesar de ser a primeira vez que seu estabelecimento é alvo de vandalismo, o comerciante teme que, após pintar as paredes, elas sejam pichadas novamente. “Nem é tanto pelo prejuízo, mas pelo ato em si, que é um absurdo, não consigo entender o que os leva a fazer isso’’.
Trentin que já conseguiu identificar assaltantes em uma padaria de sua família por meio das mesmas câmeras – dessa vez, preferiu o silêncio. “Nesses casos, nem adianta denunciar, seguidamente a gente vê pichações por aí e nada é feito’’, argumenta.
O comandante do 3.º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel José Paulo da Silva, discorda da atitude de Trentin e diz que a população deve denunciar sempre. “É uma contravenção que deve ser combatida”, defende. Segundo Silva, tanto a BM quanto a Guarda Municipal têm autoridade para atuar nesses casos. “Ainda são poucas as denúncias, esporádicas, mas os resultados são positivos, inclusive com detenção dos suspeitos’’, afirma Silva. Pichar é considerado crime ambiental ou de dano ao patrimônio público ou particular. As punições variam entre multa e detenção de até um ano.
Uma forma de expressão?
Psicólogo e grafiteiro têm opiniões divergentes sobre o tema pichação. O psicólogo Luciano Bedin da Costa, que trabalha com meninos e meninas em situação de rua, considera um ato de assinatura, uma maneira que os jovens têm de se mostrar em uma sociedade na qual são chamados para diversas responsabilidades, mas ao mesmo tempo, não são ouvidos. “É uma maneira de dizerem ‘eu estou aqui, eu existo’.”
Grafiteiro há 13 anos, para Ice Ahvs o grafite é uma arte, a maneira mais original da juventude manifestar seus sentimentos. Entretanto, ele só defende as pinturas de protesto que tiverem um fundamento ideológico. “Se for apenas para autopromoção está errado.
(Por Luísa Medeiros, Jornal NH, 13/08/2008)