Soja e maçã podem perder espaço para cana e banana, diz pesquisaO aquecimento global determinará mudanças significativas na agricultura catarinense. Com a elevação da temperatura, os campos do Meio-oeste, hoje tomados por lavouras de soja, se transformarão em áreas propícias para canaviais e cafezais. Pomares de frutas temperadas, como a maçã, podem se tornar inviáveis e dar lugar a bananas e outras variedades tropicais.
As alterações são previstas em estudo divulgado ontem por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Com base em projeções realizadas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas que indicam o aumento da temperatura global entre 1,4ºC e 5ºC para as próximas décadas, o documento traça cenários para a agricultura do país. As alterações causariam prejuízos na ordem de R$ 7,4 bilhões para o agronegócio brasileiro em 2020 e R$ 14 bilhões até 2070.
No caso de SC, o aumento da temperatura e a conseqüente alteração no regime de chuvas tornará suas terras mais propícias a culturas tradicionais no centro do país.
- A produção de frutas temperadas e soja ficam em risco, e a cana-de-açúcar e o café podem ganhar espaço - explica o chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária, Eduardo Delgado Assad.
Efeito positivo apenas para cana-de-açúcarO maior impacto é previsto sobre o cultivo de frutas temperadas. Essas variedades, que englobam maçã, uva e pêssego, precisam do frio para quebra da dormência e brotação de suas sementes. Em SC, o plantio de maçã ocupa área de 19,6 mil hectares com produção de 54% do total do país, cerca de 580 mil toneladas por ano.
- A cultura de frutas temperadas tornam-se inviáveis se a média de temperatura subir 1,5ºC - explica o o chefe do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Cepa) da Epagri, Airton Spies.
Para a soja, os riscos também existem, mas não são tão graves, como admite Assad. Já existem variedades do grão mais tolerantes ao calor.
O aquecimento terá efeitos positivos apenas na produção de cana-de-açúcar, que teria as condições de plantio mantidas no centro do país e seria estendida para o Sul.
(Por João Werner Grando,
Diário Catarinense, 12/08/2008)