A revista The Economist publicou no dia 21 de junho o relatório especial sobre energia "The power and the glory" (O poder e a glória), escrito por Geoffrey Carr. A segunda reportagem do relatório escolhida por Inovação explica que fazer captura e armazenamento de carbono significa recuperar e depois enterrar bem fundo o dióxido de carbono que é liberado para a atmosfera durante a queima do carvão. Segundo o texto, há dois grandes obstáculos para que essa se torne uma prática corrente: por um lado, ninguém sabe ainda se o carbono vai permanecer preso no solo; por outro, todo mundo já sabe que o processo é caro. O projeto FutureGen, baseado em uma estação de energia comercial de Illinois, nos Estados Unidos, serve de exemplo para a questão do custo: em janeiro deste ano, ele foi cancelado porque sua previsão de gasto havia passado de US$ 830 milhões para US$ 1,8 bilhão.
De acordo com a matéria, a etapa da "captura" do carbono "não é tão difícil". Uma possibilidade é fazer a fumaça resultante da queima do carvão passar por um banho de uma substância química chamada amina antes de ser liberada para a atmosfera. Em baixas temperaturas, o dióxido de carbono liga-se à amina; depois, basta aquecê-la para que ela libere o CO2 em algum lugar seguro. Outra possibilidade é reagir o carvão com água para que se produza uma mistura de dióxido de carbono e hidrogênio. Nessa mistura, o CO2 fica muito mais concentrado, o que facilita sua extração.
Todo esse processamento é caro, mas não há nenhuma razão para que ele não funcione, escreve o editor de ciência da Economist. A dificuldade está na etapa seguinte. O carbono é armazenado em rochas com poros e fendas, mas estas precisam estar sob uma camada de rochas não porosas, para não haver risco de vazamentos, e devem encontrar-se a mais de um quilômetro de distância da superfície. A essa profundidade, conta o jornalista, há pressão suficiente para transformar o CO2 no chamado "fluido supercrítico", que tem maior probabilidade de ficar preso no solo do que o dióxido de carbono em si.
A reportagem conta que existem apenas três projetos bem-sucedidos de armazenamento de carbono em andamento no mundo: um nos Estados Unidos, um na Argélia, comandado pela multinacional BP, e um na Noruega. No entanto, nenhum deles está ligado a estações de geração de energia elétrica por meio da queima de carvão. Segundo o texto, só nos Estados Unidos essas estações produzem 1,5 bilhão de toneladas de CO2 por ano. Para armazená-las no solo, seria necessário encontrar 1,5 mil locais adequados.
Para falar do custo do processo, o jornalista da Economist recorreu a um relatório publicado no ano passado pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT). De acordo com esse documento, a captura e pressurização do dióxido de carbono sairiam por US$ 25 a tonelada, enquanto o transporte do gás até o local de armazenagem custaria US$ 5 por tonelada. O relatório do MIT também sugere que as estações de energia elétrica movidas a carvão paguem US$ 30 por tonelada de CO2 emitida para a atmosfera. Esse valor, observa a reportagem, fica próximo do que já é cobrado na Europa e também do que é indicado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, sigla em inglês).
Por fim, o texto revela que mesmo os proponentes mais otimistas do processo de captura e armazenamento de carbono duvidam que essa seja uma alternativa viável antes de 2020. E conclui: até lá, pode ser que os climas físico e político do planeta sejam bem diferentes dos de hoje.
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Jornal Inovação/Unicamp, 30/06/2008)