Depois de solavancos técnicos e muitos atrasos, a Sadia se prepara para finalmente deslanchar seu programa de sustentabilidade na suinocultura amparado no mercado de créditos de carbono.
A empresa dará início em 2009 à venda no mercado internacional de seus créditos, até então "suspensos" por mudanças na metodologia de cálculo das emissões dos gases-estufa, que provocam o superaquecimento do planeta. "O pior já passou", diz Adriano Ferreira, diretor de Finanças da Sadia.
Pioneira na indústria alimentícia brasileira a entrar nesse mercado, a Sadia sofreu um forte revés no ano passado, quando o Conselho Executivo da ONU - órgão que rege o mercado de carbono - alterou a metodologia aplicada para a mensuração de gases das granjas de suínos e puxou o freio de muitos desenvolvedores de projetos.
"Passamos 2007 refazendo projetos. A mudança atrasou em um ano a entrega dos nossos créditos", diz o executivo, em entrevista ao Valor. "O custo de investimento dobrou e o potencial de emissão de gases caiu pela metade".
Agora, a Sadia tem um "estoque" de pouco mais de 800 mil toneladas de CO2 que poderá desovar em 2009. A maior parte desses créditos foram vendidos em 2006, no mercado futuro, ao European Carbon Fund (ECF), um dos maiores compradores de crédito de carbono do mundo ao lado do Japão. Até 2012, a empresa deverá ter emitido um total de 2,5 milhões de toneladas. O retorno previsto é de R$ 75 milhões a R$ 80 milhões.
Para levar adiante o programa, a Sadia contou com um financiamento do BNDES, já desembolsado, de R$ 60,5 milhões. Recentemente, obteve aprovação de um segundo financiamento do banco, de R$ 30,5 milhões, destinado ao projeto de carbono de sua maior unidade agroindustrial, localizada em Lucas do Rio Verde (MT).
"Começaremos a pagar o financiamento no ano que vem, então temos que começar a vender os créditos", diz Ferreira. Além disso, a Sadia estuda a viabilidade técnica para iniciar a geração de energia a partir dos dejetos dos animais.
"Queremos uma cooperação com empresas de energia. Já estamos mapeando esse mercado", afirma o executivo. "A idéia é no fim do ano que vem já começar a gerar energia para os produtores".
Os projetos de carbono estão em fase de validação e a expectativa é que até o fim do ano sejam registrados na ONU. Dos 3.247 produtores integrados da Sadia, 1.065 estão associados ao programa, representando 1.103 propriedades.
A comercialização de créditos de carbono na suinocultura é um nicho importante para países como Brasil, onde o rebanho é grande. Grosso modo, as granjas destinam os dejetos animais a lagoas cobertas onde o metano, o principal gás emitido, é canalizado e queimado, transformando-se em CO2, um gás menos nocivo ao ambiente. Cada tonelada de CO2 equivale a um crédito de carbono.
"Com o ajuste na metodologia, a forma de cálculo da redução das emissões tornou-se mais complexa e criteriosa", diz Paloma Cavalcanti, coordenadora do programa Suinocultura Sustentável Sadia. Isso teve dois impactos: a redução de quase 40% das emissões (0,5 tonelada de CO2 por suíno em terminação/ano) e investimentos maiores.
A burocracia no processo de registro dos créditos no Conselho Executivo, porém, está levando a Sadia a voltar-se também ao mercado voluntário de carbono, nos EUA. "Vamos fazer o inventário para saber o volume exato de créditos que teríamos ", diz Ferreira.
(Por Bettina Barros, Valor Online, 11/08/2008)