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impactos mudança climática
2008-08-11

Em tempos de aquecimento global, os seis candidatos à frente nas pesquisas para prefeito da maior e mais caótica cidade do País têm idéias vagas e generalistas para o meio ambiente - que inclui políticas de saneamento, proteção de áreas de mananciais, qualidade e uso da água, combate à poluição do ar, ampliação de áreas verdes e manejo de lixo. Os problemas são complexos, atingem proporções gigantescas na metrópole e exigem recursos dos quais a prefeitura não dispõe.

Segundo o médico Paulo Saldiva, chefe do Laboratório de Poluição da USP, 12 pessoas morrem por dia em conseqüência direta da poluição do ar em São Paulo. Respirar na cidade reduz em um ano e meio a expectativa de vida - o paulistano tem 20% mais risco de ter câncer de pulmão e 30% de sofrer de doenças cardiovasculares. Além de vidas, a cidade perde R$ 342 milhões em dinheiro público, considerando-se apenas crianças, idosos, internações na rede pública - 7% do Orçamento da prefeitura.

Para universalizar o saneamento, segundo o Ministério das Cidades, seriam necessários R$ 18,7 bilhões - ou 80% do Orçamento da prefeitura, embora os recursos sejam majoritariamente do Estado. Os números são para a região metropolitana, mas, no que se refere a qualidade da água e despejo de esgoto nos rios, é impossível desvincular a capital de seu entorno.

Marussia Whately, coordenadora do programa De Olho nos Mananciais, do Instituto Socioambiental, critica os candidatos por não tratarem o meio ambiente como questão metropolitana, propondo ações integradas, como controle da ocupação dos mananciais e impermeabilização na cabeceira do Rio Tietê, que traz mais riscos de enchentes na capital.

Segundo ela, São Paulo desperdiça o equivalente a uma Guarapiranga em água por dia. Embora de competência da Sabesp, ela defende imposição de metas da prefeitura à concessionária - acabar com os vazamentos seria uma delas. Ela propõe, entre outras coisas, criar parques municipais em áreas estratégicas ainda preservadas - somente 2% da Guarapiranga é urbanizada.

Quando o assunto é lixo, os números são alarmantes. Com seus aterros esgotados, São Paulo gasta R$ 500 milhões por ano em coleta, transporte e disposição do lixo, enquanto poderia lucrar o mesmo com reciclagem e venda das 12 mil toneladas de lixo diárias que a cidade produz, além de gerar empregos, segundo Sabetai Calderoni, presidente do Instituto Brasil Ambiental e o autor de Os Bilhões Perdidos no Lixo.

O diagnóstico dos problemas de SP está na revista Grandes Reportagens - Megacidades, publicada pelo Estado no dia 3. Especialistas que contribuíram com a publicação agora avaliam as propostas dos candidatos à prefeitura, enviadas a eles sem nomes de candidatos. "Chama atenção a ausência de metas claras, que permitam avaliar até que ponto as ações podem ser implantadas. O que mostra desconhecimento da situação ambiental na cidade", diz Marussia.

A proposta de Marta Suplicy foi avaliada como a "mais abrangente e específica em ações" por Calderoni. Mas a candidata não explica onde buscará recursos. "Os 60 km de metrô e 290 km de corredores de ônibus demandam investimentos de U$ 5 bilhões", diz Saldiva. "E depende de parceria com o Estado, portanto foge de suas competências. O metrô começou na década de 1970 e tem pouco mais de 60 km. Impossível fazer o mesmo em uma gestão. O candidato deixa dúvidas sobre a exeqüibilidade do que propõe", completa Calderoni.

Saldiva elogia as propostas de ampliar o transporte coletivo sobre trilhos e corredores de ônibus e o uso de tecnologias limpas. E de redução das emissões, com inspeção de veículos e controle de diesel. Todos os especialistas também concordam com a necessidade de ciclovias, "mas essa é uma proposta recorrente nas campanhas, nunca efetivamente implementada, infelizmente", lembra Saldiva. Para ele, os candidatos evitaram tocar em questões polêmicas, como pedágio urbano.

Para Marussia, eles desconsideram questões graves, como contaminação do solo, problemas de áreas como no entorno do Ceagesp, drenagem e poluição das ruas, que na época das chuvas representa a metade da poluição que chega aos rios e represas. "A única menção é o programa córregos limpos, mas que ainda trabalha com um horizonte pequeno", diz. "E todos falam em criar parques e praças, mas não há áreas disponíveis na cidade. E os parques lineares, previstos no plano diretor, são pouco citados. Além disso, nenhum candidato fala da preservação da vegetação nas áreas de mananciais, só 20% ocupadas."

Para os especialistas, Gilberto Kassab e Geraldo Alckmin propõem poucas ações futuras. "A adoção de etanol em veículos leves não reduziria muito as emissões, já que os atuais, à gasolina, emitem pouco", expõe Saldiva, referindo-se à proposta de Alckmin. Calderoni observa que Kassab e Alckmin não apresentaram políticas de reciclagem. "(Kassab) fala de aterros, mas ainda que gerem energia são ultrapassados", diz Calderoni.

A proposta de Paulo Maluf de canalizar o Tietê e o Pinheiros e ampliar as Marginais foi duramente criticada. "Após investimentos de diversas gestões na recuperação dos rios, a proposta está na contramão do que se discute sobre sustentabilidade. É uma afronta, além de incentivar o uso do carro, propõe colocar a sujeira dos rios embaixo do tapete", diz Marussia, do ISA. Soninha e Ivan Valente tiveram as propostas elogiadas. "É impossível discordar do que propõem. Mas a forma de implementar as ações não é apresentada", diz Saldiva.

NÚMEROS

12 pessoas morrem por dia na Grande São Paulo em conseqüência direta da poluição do ar

R$ 342 milhões são gastos por ano com internações na rede pública

R$ 18,7bilhões é quanto SP precisa para universalizar redes de água e esgoto

R$ 500 milhões por ano é quanto a prefeitura gasta em coleta, transporte e disposição final do lixo 1


(Por Adriana Carranca, O Estado de S. Paulo, 11/08/2008)


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