O debate sobre a silvicultura e a ampliação de plantas industriais, principalmente na Metade Sul do Estado, a partir da liberação e zoneamento de áreas para o plantio de eucalipto e da produção de celulose e madeira, tem sido intenso no Parlamento gaúcho nos últimos meses. O presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul (AL-RS), deputado Alceu Moreira (PMDB), e seu colega de partido, deputado Nelson Härter, têm realizado encontros, seminários e discussões com os diversos setores produtivos envolvidos com a silvicultura. Eles defendem que o Estado possui áreas disponíveis e clima favorável para a expansão desta cultura. De acordo com o presidente do Legislativo, o volume de recursos das empresas interessadas em investir neste setor é astronômico.
Revitalização de áreas esquecidas
"A planta da Aracruz Celulose, por exemplo, viabiliza o porto de São José do Norte, que é absolutamente desocupado hoje", afirma Moreira. Segundo ele, a conclusão do asfalto entre Mostarda e Tavares, permitirá "que os produtos cheguem ao porto, desde Vacaria, por um percurso muito mais barato e curto". Moreira entende que os projetos existentes de silvicultura permitirão que áreas até então esquecidas possam ser revitalizadas. "O que precisamos discutir aqui na Assembléia é uma discussão não apenas pelo viés do investimento, é preciso discutir juntamente a questão social e ambiental", diz o presidente do Legislativo.
Moreira defende que seja discutido "um fator de compensação para os locais onde serão plantadas grandes áreas". Defende, também, a necessidade de qualificação a mão-de-obra e a criação de "um projeto específico de financiamento para a indústria moveleira, para que parte desta madeira não se transforme apenas em papel. Queremos que tenha um desenvolvimento local". Destaca, ainda, a necessidade de o zoneamento ambiental demonstrar os reais danos que poderão ser provocados ao meio ambiente e a real extensão da área que poderá ser plantada.
Moreira diz ter certeza de que o "Rio Grande do Sul se transformará num dos grandes eixos de produção de silvicultura e de papel, gerarando milhares de empregos". Ele afirma que "a partir da mediação do Parlamento, será possível a convivência absolutamente harmônica das papeleiras com os outros processos de geração de riqueza, como plantios de oleaginosas, de trigo, a produção de gado de corte e outros, da mesma forma que estamos fazendo agora com a definição da área para a produção de cana-de-açúcar".
Crítica
Sobre a crítica dos movimentos sociais e ambientalistas de que a destinação de grandes áreas para a silvicultura traria benefícios apenas para as papeleiras, com a exportação do produto, Alceu Moreira diz que ela é legítima e bem-vinda, pois seriam esses movimentos os responsáveis por forçar a existência de um zoneamento.O presidente da Assembléia espera, no entanto, que os movimentos sociais realizem manifestações, dentro do que a lei determina, "e não através de invasões, vandalismos e atos absurdos". Para ele, trabalhar a proposta com ranço ideológico é um equívoco. "Entendo que é preciso respeitá-los, ouvi-los com atenção, mas é preciso deixar bem claro que, se não tivermos as papeleiras nessas áreas que representam menos de 3% do nosso território, o que teríamos lá? Que benefício social foi dado ao peão de estância de Livramento, Uruguaiana, Alegrete ou Bagé até agora? Ele está lá. E o bioma pampa? As áreas desertificadas que estão ocorrendo ao longo daquele território? Quem está trabalhando por elas? Então, precisamos perceber que há um contexto a ser analisado e podemos trabalhar isto pontualmente".
O presidente da AL-RS continua: "Se formos analisar que as papeleiras estão aqui porque outras áreas do mundo não as querem mais, pode ser verdade. Mas temos que ver que temos área disponível, clima propício e um tempo de produção curto. O que temos que fazer é, observando a crítica, trabalhar de maneira evolutiva, em cima de pesquisas e não em cima do discurso tambor, vazio. Com o programa Sociedade Convergente, este tema pode ser discutido na Assembléia pelas universidades, possibilitando a produção de um texto absolutamente confiável". Moreira afirma que não tem visto "os movimentos sociais fazerem qualquer tipo de exigência de compensação social. A Aracruz, por exemplo, está fazendo qualificação profissional em São José do Norte e não foram os movimentos sociais que exigiram. Os movimentos não podem ser massa de manobra de meia dúzia de pessoas; se é importante trabalhar a questão ambiental, é importante, também, trabalhar a questão social, para dar auto-sustentabilidade, gestão local, possibilidade de vida no lugar onde as pessoas estão vivendo a partir deste processo de investimento".
Sustentabilidade
O deputado Nelson Härter, relator da Comissão Especial de Florestamento e Reflorestamento da AL-RS, adota posição semelhante. Para ele, o Parlamento serve para mediar este processo e teve uma participação ativa no sentido de encontrar o equilíbrio necessário para manter a sustentabilidade no setor. "Podemos concluir que o setor florestal no RS não é só celulose e papel mas também gera energia e fabricação de móveis. Podemos observar, também, que é um setor que cumpre a legislação ambiental e que gera muito emprego". Segundo ele, existem no Estado, atualmente, nove mil indústrias em todo o setor florestal, incluindo o segundo pólo moveleiro do País, que geram mais de 300 mil empregos. "Acho que é um setor que está contribuindo para a economia do Estado e, especificamente, na Metade Sul, estamos recebendo o que há de mais moderno no mundo em termos de tecnologia, tanto do ponto de vista administrativo, educacional, ambiental, econômico e social quanto em termos de preservação da cobertura florestal nativa. Que será ampliada", ressalta.
Sobre as críticas dos movimentos sociais e ambientais, Härter afirma que a posição está embasada em um conteúdo ideológico. "Acho que isto não serve, temos que olhar a questão do ponto de vista da sustentabilidade, de forma imparcial. É um setor que gera emprego desde o viveiro, a plantação, a preparação das mudas, o transporte, os empregos indiretos que são gerados". O parlamentar informa que irá apresentar, em seguida, um trabalho a respeito do assunto, com todos os números levantados durante as audiências e debates realizados pela comissão especial no interior. "O setor mobiliza muitos setores, desde contratação de engenheiros, de empresas terceirizadas no setor de alimentação, segurança, transporte...Se olharmos toda a cadeia, veremos isto. É que tem pessoas que olham com um olho só, não enxergam o todo porque não querem. Isto faz parte da Democracia, as pessoas tem direito de se manifestarem, acho que o debate é positivo. Nosso papel é fazer esta mediação, buscar o equilíbrio, discutir, mostrar as exigências legais que devem e são cumpridas, que o trabalho é feito de modo transparente, e não de uma visão parcial e até em certas momentos truculenta a respeito desta questão".
(Por Gilmar Etelwein, Agência de Notícias AL-RS, 09/08/2008)