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projeto orla do guaíba
2008-08-11

Eu sou do tempo em que o Guaíba era chamado de rio. Meu avô dizia que ele não podia ser rio, porque não tinha nascente. Era, portanto, um estuário. Agora é o Lago Guaíba, onde se contempla o pôr-do-sol mais bonito do mundo, na visão dos gaúchos. Um espetáculo que está com dias contados. E que reflete uma tendência mundial.

Li, recentemente, uma entrevista do arquiteto indiano P.K. Das, de Mumbai, onde moram 11 milhões de pessoas, 500 mil nas ruas, o crescimento econômico é de 9% ao ano, e as classes média e alta vivem o delírio das construções megalomaníacas: tornaram-se o símbolo da modernidade do planeta. "Vivemos uma euforia nas classes média e alta - disse o arquiteto - em torno do novo mercado. Eles ficam excitados com hipermercados, shoppings, cinemas multiplex, megahospitais e moradias de luxo, que chamo de colônias.”

Em Mumbai, ele coordena um projeto de desfavelização, envolve a construção de 20 mil moradias. Uma idéia que poderia ser implantada na zona norte da cidade, do outro lado do Guaíba, uma região abandonada e tomada por favelas, que é o retrato de quem entra na capital pela BR-116. Que tal a zona leste , onde se concentram populações de baixa renda, sem atrativos culturais de lazer, ou algo parecido. A ocupação avança nas encostas dos morros.

Barrados na entrada
Nada disso é atrativo aos negócios imobiliários emergentes. Esse pessoal gosta de vista espetacular, local de fácil acesso, mas com amplas possibilidades de restrições. Ou seja, só entra quem os donos querem. E, principalmente, querem impor uma visão do planeta, que está totalmente superada.

Obras que não estão adequadas à realidade ambiental, desvirtuam totalmente as condições naturais, sem um pingo de criatividade – sempre falam em torres, em quantidade extraordinárias de cimento o concreto, em muitos prédios interligados, diretamente ao centro comercial.

De preferência sem contato com o exterior, com a realidade da vizinhança, muito menos, com a entrada de estranhos no ninho. O que se costuma identificar como racismo econômico, segregação social, e outras definições de gênero. Enfim, só entra no baile quem tem grana prá gastar.

Por isso mesmo, vou logo sugerindo aos ilustres vereadores de Porto Alegre, cidade onde nasci, na rua José de Alencar, atrás do campo do Grêmio. Vendam o Guaíba, que facilitará o caso dos negócios imobiliários. Afinal, não é esse o objetivo? Por que alterar uma lei, participar de audiências públicas, onde certamente serão xingados muitas vezes, só para adequar projetos que já estão prontos na maquete, esperando o sinal verde da largada? É muito desgastante, muito estressante.

Votem logo pela venda do Guaíba. Dessa forma, tudo será possível. Prédios de 40, 50 , 100 metros. Quem sabe uma torre em forma de A, como a que está sendo construída em Luanda (Angola) de 380 metros, 70 andares, um hotel de luxo, com 1.400 quartos, centro comercial e apartamentos, que custam R$10.700,00 metro quadrado.

Tudo com senha
Ou então, poderíamos contar, com a experiência dos príncipes árabes em Dubai , onde recentemente esteve uma comitiva de empresários e autoridades gaúchas. Lá estão terminando de construir uma ilha artificial, com tudo o que é possível e imaginável, em matéria de luxo e desperdício.

É claro, que os habitantes da cidade ficarão um tanto privados da vista do pôr-do-sol, quer dizer, na verdade, todos aqueles que costumam freqüentar a orla do Guaíba e esperam ansiosamente pelo espetáculo, comprariam um passaporte eletrônico. A cada participação uma tarifa, tudo com senha digital, convites pagos pela Internet, sem trabalho algum. É só pagar e pronto.

A imagem do pior
Assim, definitivamente, o porto alegre dos inocentes casais açorianos, fundadores da atual metrópole, ficariam eternamente gratos à criatividade dos atuais mandatários – autoridades, empresários e os demais apoiadores da iniciativa de valorizar a orla. Tornando o que está abandonado – parece que é combinado – em um local de frenético movimento comercial e de muitos empregos. O resto é detalhe. Vias públicas engarrafadas, destruição do patrimônio público natural, poluição do já poluído lago.

Nunca esquecendo, que do outro lado, teremos a quadruplicação (vezes quatro) da fábrica de celulose. Então, multipliquem todos os gases que saem das duas chaminés por quatro, além do consumo de água, de energia, e dos resíduos.

Aliás, o Rio Grande do Sul, está colando na sua imagem de estado tradicional, de postura revolucionária em várias épocas históricas, o que existe de pior no avanço pela detonação do planeta : virou o paraíso dos transgênicos, existem cinco novas usinas movidas a carvão mineral planejadas – algumas em construção. Outras duas fábricas de celulose na zona sul, a metade favelada do RS. A completar: expansão das lavouras de eucalipto. É um cenário, cinzento definido para os próximos anos, usando uma linguagem totalmente simbólica e que não traduz o mínimo do impacto.

Seguindo na mesma linha de pensamento, raciocino que a atual secretaria estadual de meio ambiente deveria mudar de nome, passaria a ser, a secretaria dos negócios extraordinários da monocultura de exóticas. Uma idéia baseada no discurso do titular da pasta, certamente um grande ideólogo da silvicultura, plantado no local errado.

(Por Najar Tubino*, Eco Agência, 08/08/2008)
*O autor é jornalista.


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