Informações preliminares do estudo em andamento antecipam uma paisagem alarmante. De 124 pontos já visitados pelos pesquisadores no Planalto Norte e na Serra, 22% não apresentavam mais a vegetação original de mata de araucárias.
As informações atuais sobre as condições da floresta e a variabilidade genética da vegetação estão defasadas. De acordo com dados divulgados este ano pelo SOS Mata Atlântica, mas referentes a 2005, o Estado possui 23,87%, ou 23 mil quilômetros quadrados, da cobertura vegetal remanescente.
A idéia do inventário é mapear todas as áreas recolhendo amostras de plantas em 600 pontos escolhidos aleatoriamente espalhados pelo Estado a cada 10 quilômetros. Com esse material, que constitui a primeira meta do inventário, parte-se para os objetivos seguintes: integração dos bancos de dados de quatro herbários catarinenses, elaboração de um sistema de informações florestais georreferenciado, identificação genética das espécies ameaçadas e diagnóstico do potencial econômico, social e cultural das espécies nativas.
- O inventário é um retrato do que existe de vegetação no Estado. Não só quantidade, mas também a qualidade do que se tem - afirma Adriana Dias, coordenadora do projeto na Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (Fapesc).
A primeira fase do censo florestal começou em novembro do ano passado com a coleta do material no Planalto Norte e na Serra.
- Fizemos um levantamento detalhado, recolhendo amostras de ramos e medindo o diâmetro de 400 árvores com troncos acima de 10 centímetros em cada unidade amostral - explica o engenheiro florestal e professor da Universidade Regional de Blumenau (Furb), Alexander Vibrans.
Poucos são os locais com Mata Atlântica conservada
Vibrans coordena as equipes que fazem o trabalho de campo, com seis pessoas em cada grupo. Os pontos visitados por eles se estendem por quatro braços de mil metros quadrados cada. Esses locais são definidos como unidades amostrais todas as vezes que encontram uma área coberta por mata nativa.
- Fomos a 124 pontos, mas 28 deles não puderam ser estudados por não possuírem mais florestas. Metade desses pontos agora são áreas agrícolas e 14%, reflorestamento de pinus - diz Vibrans.
Além de não encontrarem a vegetação original em 22% dos locais, as equipes constataram que quase todas as unidades apresentam problemas de degradação.
- As áreas são usadas para pastoreio, exploração e roçado. A maneira mais rápida de acabar com uma floresta é colocar gado em cima. É isso que estão fazendo. O gado pisoteia o solo e come a vegetação que resta - explica o professor.
Poucos foram os locais com remanescentes da Mata Atlântica em bom estado de conservação.
- Vimos desmatamentos recentes. Ainda tem gente desmatando, e não é pouco - constata Vibrans.
Para ele, essa é uma tendência que deve ser observada também nas outras regiões.
- O Oeste, por exemplo, é ainda mais fragmentado e encontraremos, no mínimo, esse mesmo percentual.
(Por Tatyana Azevedo, Diário Catarinense, 10/08/2008)