Cientistas da Universidade de Harvard acabam de dar o primeiro passo rumo à personalização das células-tronco. Eles retiraram amostras de pele de 20 pessoas, cujas idades variam de 1 mês a 57 anos de idade e todas portadoras de doenças dos mais diversos tipos, que incluíam desde a distrofia muscular ao mal de Parkinson (leia o quadro). Por meio de uma técnica desenvolvida pela japonesa Shinya Yamanaka, professora da Universidade de Kyoto, os pesquisadores transformaram as células epiteliais em células-tronco pluripotentes induzidas (iPS).
“Com a ajuda de um vírus, injetamos quatro genes pré-definidos dentro dessas células, o que lhes tornou semelhantes às células-tronco embrionárias”, explicou ao Correio o austríaco Konrad Hochedlinger, co-autor da pesquisa e membro da equipe do médico George Daley. Os genes traziam uma “bagagem” ou um traço do distúrbio-alvo. “O maior potencial de aplicação dessa tecnologia é gerar modelos de doenças degenerativas, entender seu desenvolvimento a nível molecular e identificar drogas capazes de serem usadas em pacientes”, acrescentou.
Em tese, as novas linhas de células-tronco específicas para 10 doenças funcionarão como um repositório laboratorial, um acervo de informações sobre cada um dos distúrbios. “A idéia é recapitular, dentro da placa de Petri, o que ocorre de errado dentro de um paciente”, comentou Hochedlinger. De acordo com ele, a partir de agora será possível identificar os genes regulados de modo anormal na doença e abrir espaço para a fabricação de drogas capazes de amenizar os sintomas. Para garantir a segurança ética do processo, o cientista austríaco garante que as células iPS jamais serão reintroduzidas no doador e que seu uso vai se reumir à simulação de doenças. “Como as células foram geneticamente manipuladas, sua aplicação em tratamento pode ter efeitos nocivos”, alertou o pesquisador.
Perspectiva
Segundo Hochedlinger, os próximos passos da pesquisa incluem descobrir meios de produzir células iPS sem a necessidade de manipulação genética. Os cientistas acreditam que isso seria possível introduzindo-se proteínas nas células ou utilizando-se substâncias químicas para reprogramar as células epiteliais. “Um grande desafio será decifrar o defeito em um paciente”, reconheceu o austríaco. “Queremos pegar as células iPS de um paciente com esclerose lateral amiotrófica e cujos neurônios motores estejam morrendo, e transformá-las em novos neurônios, a fim de detectarmos os defeitos.” Essa linha de estudo, já perseguida por város laboratórios no mundo, seria o pré-requisito para a realização de testes com drogas. Em comunicado divulgado pela Harvard, George Daley comemorou a façanha: “Essas novas linhagens de células-tronco são valiosas ferramentas para atacar a raiz das causas das doenças”.
(Por Rodrigo Craveiro, Correio Braziliense, 09/08/2008)