Pelo menos 30% dos resíduos destinados ao aterro da Caximba, que está com capacidade esgotada, poderiam ser recicladosPioneira na coleta seletiva de lixo, Curitiba sempre foi vista como exemplo para o restante do país por estar em constante busca da sustentabilidade. No entanto, dados fornecidos pela própria prefeitura mostram que nem metade do lixo da cidade com potencial reciclável é realmente aproveitada.
Das 2,4 mil toneladas que seguem diariamente ao aterro da Caximba, 30% poderiam ser recicladas. Convertendo a porcentagem em peso, são 720 toneladas de lixo que poderiam ser reaproveitadas, mais que as cerca de 550 toneladas recolhidas diariamente por catadores e pela prefeitura. Ou seja, a reciclagem poderia crescer 130%.
Esses números não significam apenas que Curitiba não pode mais ser considerada como modelo de cidade que recicla. Significa, também, que o próximo prefeito terá muito trabalho pela frente. Principalmente em tempos que se questiona a capacidade do aterro da Caximba – que está com a capacidade quase esgotada e têm vida útil estimada em menos de um semestre – e qual será o destino da montanha de lixo produzida na capital.
O professor de Engenharia Ambiental Carlos Mello Garcias, da PUCPR, diz que um dos desafios da nova administração municipal é conquistar mais adesão popular. “A reciclagem pode e deve melhorar, mas, para isso, é fundamental o engajamento dos cidadãos”, afirma. Ele lembra que, se em um passado não tão distante muito se apostou na educação – quem não se lembra da Família Folhas? –, hoje falta comunicação. “É necessária uma campanha mais intensa, considerando todos os níveis e nichos da população”, defende, lembrando que não basta alertar sobre a necessidade da separação, é preciso ensinar o que e como separar.
A forma correta de separar é, inclusive, uma das pedras no sapato de Curitiba, que anda mancando na caminhada rumo a um futuro sustentável. Representante do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, Marilza de Lima reclama que grande parte dos moradores não sabe como separar o lixo. “A maior dificuldade é que as pessoas colocam o material reciclável com orgânico. Se for material de boa qalidade, os catadores acabam até separando, mas, se não for, acaba se perdendo.”
Marilza conta ainda que a baixa remuneração e a falta de espaços para reunir o lixo coletado são grandes problemas, apesar de muito já ter sido feito. “Os atravessadores acabam ficando com a maior parte do lucro. Precisamos de mais apoio, só assim conseguiremos negociar direto com as empresas que reciclam.”
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Gazeta do Povo, 08/08/2008)