Biólogos do Centro de Biologia Marinha (Cebimar) da USP e do Instituto Terra e Mar localizaram no mar da região de Ilhabela, no litoral Norte de São Paulo, exemplares de Coral-Sol, do gênero Tubastraea. “Por se tratar de uma espécie invasora, já estamos empreendendo estudos para saber o quanto eles estão incidindo na região e o quanto poderão prejudicar o ecossistema local. O que se sabe até o momento é que ele compete diretamente com o Coral-Cérebro [da espécie Mussismilia hispida], que é nativo da região”, alerta o pesquisador Alberto Lindner, do Cebimar.
Até a década de 1980 esta espécie não ocorria no Brasil. Ela é originária dos mares do Indo-Pacífico e o primeiro relato de Coral-Sol no oceano Atlântico é de 1943. Segundo Lindner, a invasão teria ocorrido de forma acidental pelo próprio homem. “Algumas hipóteses levam a crer que espécies de Coral-Sol teriam se alojado em cascos de navios petroleiros e em algumas plataformas de petróleo”, conta o pesquisador.
No Brasil, o primeiro registro de espécies de Coral-Sol foi feito no final da década de 1980, em plataformas de petróleo na Bacia de Campos. Mais tarde, já no final da década de 1990, novos registros apontaram a espécie na Baía da Ilha Grande, no Rio de Janeiro. “Nesses casos também podemos aventar a hipótese de uma invasão por meio de navios petroleiros e plataformas. Afinal, trata-se de uma espécie que se aloja em estruturas não-naturais e na região da Ilha Grande há grande movimento de navios, além de um terminal de manutenção de plataformas de petróleo”, lembra Lindner. O Coral-Sol já foi encontrado também em Arraial do Cabo (RJ) e em uma plataforma de petróleo em Santa Catarina. “Mas até agora ainda não havia se alastrado pela costa do estado de São Paulo ou do sul do Brasil”, relata o pesquisador.
Encontro acidental
Em janeiro deste ano, o biólogo e instrutor de mergulho Gilberto Gardino Mourão, da ONG Instituto Terra e Mar, de São Sebastião, encontrou exemplares de Coral-Sol a uma profundidade de cerca de 15 metros no mar de Ilhabela. “Por meio de fotos, identifiquei tratar-se de uma espécie do gênero Tubastraea”, lembra o pesquisador. Mais tarde, Mourão coletou outros exemplares que estão sendo estudados nos laboratórios do Cebimar.
“Nos próximos dois meses faremos mergulhos para confirmar se essa invasão é apenas num ponto isolado ou se o Coral-Sol já se alastrou. A partir dessas pesquisas avaliaremos como lidar com a invasão”, relata Lindner. O pesquisador contará com Mourão e com alunos e técnicos do Cebimar, que o auxiliarão nas pesquisas. O objetivo é também determinar se há apenas uma espécie na região ou duas (Tubastraea coccinea e Tubastraea tegusensis), como foi reportado para a Ilha Grande.
Espécie nociva
Na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), o professor Joel Creed, do Departamento de Ecologia, vem realizando estudos desde 2000 sobre a situação de duas espécies de Coral-Sol que ocorrem no litoral fluminense, o Tubastraea coccinea e o Tubastraea tegusensis. “Na baía de Ilha Grande, por exemplo, a espécie está alastrada nos costões tanto da ilha quanto do continente. No canal da Ilha Grande há outras ilhas que também tiveram suas costas atingidas pelo Coral-Sol”, conta Creed.
Segundo o pesquisador, trata-se de uma espécie exótica e nociva ao ecossistema local. Por habitar regiões rasas, em média 10 a 15 metros, o Coral-Sol impede a fotossíntese de outros organismos marinhos. “Pelas fotos que vi de um exemplar coletado na Ilhabela, o coral pode ter entre cinco e seis anos”, estima Creed. Ele explica que a espécie leva, em média, um ano e 18 meses para se reproduzir. “Para corais, trata-se de um tempo rápido.”
Creed recomenda que seja realizado um levantamento e estudos sobre a incidência da espécie no mar de Ilhabela. Segundo ele, se a incidência for baixa, o ideal é que seja feita a extração imediata. “No litoral do Rio de Janeiro a situação é mais crítica”. De acordo com o cientista, para remover todas as espécies de Coral-Sol o custo será muito alto. “A situação chegou a um ponto em que talvez seja necessário financiamento de empresas responsáveis por plataformas de petróleo ou mesmo dos governos estadual, federal ou municipal”.
Para viabilizar a erradicação da espécie invasora, Creed coordena o Projeto Coral-Sol. A iniciativa, como ele explica, reúne pescadores e a comunidade dos locais atingidos pelo coral e os instrui para retirá-lo do mar. “Com o esqueleto dos corais, os ‘catadores’ podem fazer objetos artesanais e souvenirs. Trata-se de um projeto sócio-ambiental que ainda está nas suas primeiras etapas”, informa o professor.
Mais informações: (12) 3862-8400, com Alberto Lindner; e-mail: alindner@usp.br; (21) 2587-7328, ramal 30, com Joel Creed; e-mail jreed@uerj.br
(Por Antonio Carlos Quinto, Agência USP, 07/08/2008)