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política ambiental china chuva artificial
2008-08-08

Há mais de 30 mil chineses de armas prontas a atirar ao céu, canhões de defesa antiaérea carregados com cartuchos de iodeto de prata que têm as nuvens prometedoras de chuva como alvos. O objectivo não é declarar guerra ao céu, mas sim tentar afastar as chuvadas que poderão ensopar a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos.

A previsão meteorológica para 8 de Agosto fala de céu nublado em Pequim, 41 por cento de hipóteses de chuva e trovoada, com a temperatura a 30-32 graus, diz o Observatório Meteorológico de Pequim. "Excluímos a possibilidade de chuva forte e continuada, mas pode haver episódios de chuva", disse Wang Jianjie, subdirector do Observatório, numa conferência de imprensa. Mas os cientistas chineses foram mobilizados para bastante mais do que usar a mais moderna tecnologia, para garantir que o fogo-de-artifício abrilhante os céus de Pequim, mesmo com chuva.

Os senhores da chuva
A China é um dos países que mais investem na investigação sobre a modificação do tempo - não o clima, que são os fenómenos de muito longa duração no planeta, mas a meteorologia, que é o que vivemos dia-a-dia, a chuva matinal e o sol da tardinha. Num país com uma seca inclemente, sobretudo no Norte, as cidades até competem entre si pelas nuvens - que fertilizam com iodeto de prata e outros químicos, para formar núcleos à volta dos quais as gotas de água se aglomerem nas nuvens, até começarem a cair na terra.

Foram os Estados Unidos que iniciaram a investigação nesta área, depois da Segunda Guerra, mas desinteressaram-se do assunto - a incerteza sobre os resultados é muito grande. Afinal, se chover, terá sido por causa da intervenção humana? "A mais recente avaliação científica diz que há muito poucas provas de que as intervenções de modificação meteorológica aumentem, diminuam ou evitem a chuva", disse à agência Reuters Leonard Barrie, co-director de investigação da Organização Meteorológica Mundial.

A China só começou a tentar engordar as nuvens de chuva em 1958, mas está cada vez mais empenhada. "A China tem a maior operação de fazer chuva do mundo", à frente da Rússia ou de Israel, disse ao jornal USA Today Wang Guanghe, um cientista veterano do Instituto de Meteorologia da Academia de Ciências chinesa. O dinheiro investido na modificação meteorológica deve rondar os 100 milhões de dólares anuais, disse à revista Wired Bill Wooley, cientista da Agência para os Oceanos e a Atmosfera dos Estados Unidos.

O Departamento de Modificação Meteorológica de Pequim tem um quadro de colaboradores impressionante - 30 mil a 37 mil pessoas, em todo o país, muitos agricultores, que recebem cerca de 100 dólares por mês, segundo a Wired. Servem de guarda avançada na luta pela adequação da chuva aos interesses dos seres humanos - quando faz falta à agricultura, ou quando pode refrescar a temperatura, permitindo poupar no ar condicionado. Estes colaboradores têm armas antiaéreas, antiquadas mas aptas a inseminar as nuvens com iodeto de prata, quando a tal são instados. Isso para além do método mais tradicional, que implica usar aviões para espalhar esses produtos nas nuvens.

Chove sempre antes
"É curioso notar que chove sempre na véspera dos grandes acontecimentos. Seja um evento doméstico, ou a visita de um político estrangeiro, a chuva normalmente caiu sempre no dia anterior, deixando os céus azuis e o ar limpo, livre da neblina costumeira", dizia o repórter da ABC John Taylor. Não é nada incomum que as autoridades chinesas usem a tecnologia para tentar controlar a chuva - com produtos que arrefecem a água condensada nas nuvens, para diminuir as possibilidades de chuva, ou então inseminando as nuvens, para tentar que a água caia mesmo.

Portanto, não é de admirar que a China esteja a apontar toda a sua artilharia tecnológica para garantir que os Jogos Olímpicos sejam um sucesso também ao nível da meteorologia. É que, ainda por cima, as chuvas ajudam a limpar o ar da poluição que torna Pequim numa das cidades do mundo onde é mais difícil respirar.

Ozono e aerossóis a mais
Os dióxidos de enxofre e de azoto, ingredientes importantes da poluição atmosférica em Pequim, diminuíram muito, no esforço empreendido para os Olímpicos: as suas concentrações diminuíram em 60,8 e 10, 8 por cento, respectivamente, segundo a Agência de Protecção Ambiental de Pequim.

Actualmente, em causa estão sobretudo partículas de poluição em suspensão: os níveis aceitáveis pela legislação chinesa são três vezes superiores aos da Organização Mundial de Saúde. Estes aerossóis podem afectar quem tem problemas respiratórios - e, dizem alguns estudos científicos recentes, podem desencadear problemas cardiovasculares agudos. O ozono, que nas camadas mais elevadas da atmosfera protege a Terra dos raios nocivos do Sol, é ao nível do solo um poluente - e é um dos principais problemas de Pequim, actualmente, diz a revista Science.

Mas, apesar de todos os esforços investidos em Pequim para melhorar o ar e garantir o melhor tempo possível - há quem diga que é a maior experiência urbana alguma vez realizada, em termos ambientais -, a verdade é que muito estará nas mãos da sorte.

Pequim fica encurralada entre montanhas, que fazem com que a poluição e a humidade fiquem ali estagnadas, criando a bruma acinzentada que muitas vezes cobre a cidade. O que limpa esta neblina no Verão e torna a cidade mais agradável são ventos vindos do Noroeste - e é neles que reside a derradeira esperança das autoridades chinesas de terem bom tempo durante os Jogos Olímpicos.
(Por Clara Barata, Ecosfera, 08/08/2008)


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