A fusão da Aracruz Celulose com uma de suas acionistas – a VCP (Votorantim Celulose e Papel) – está bem próxima. O que antes era apenas especulação tornou-se fato concreto nesta quarta-feira (6). O grupo anunciou uma proposta de R$ 2,7 bilhões em 28% das ações do Arapar, pertencente ao grupo norueguês Lorentzen que criou a companhia em 1970.
De acordo com as informações divulgadas pelo site “Valor Online”, a VCP se propõe a pagar R$ 2,71 bilhões pelas 127.506.457 ações ordinárias que a Arapar possui da Aracruz (R$ 21,25 por ação). A proposta é o que faltava para a concretização da operação. Se tudo correr sem maiores problemas, a VCP será a nova controladora da Aracruz.
Desde o fim do poder de veto do BNDES de qualquer operação de venda para o capital estrangeiro, em abril, começaram as conversas de uma possível fusão da Aracruz Celulose por um dos seus sócios. Justamente, a divisão de celulose e papéis do grupo Votorantim aparecia como a maior interessada em tal operação.
No entanto, a possível fusão ganhou ainda mais corpo em junho, quando se encerrou o fim do acordo da Aracruz Celulose com o BNDES que impedia a alteração no comando societário. Cada sócio poderia ter apenas 28% das ações da companhia, divididos principalmente entre a VCP e os grupos Arapar e Safra.
Para fechar a operação, a VCP deve aguardar o posicionamento do Arainvest Participações (Grupo Safra), também integrante do bloco de controle, com 28% das ações ON, sobre se vai exercer ou não o direito de preferência ou de venda conjunta de sua ações.
O grupo Arapar é uma holding composta pela família Lorentzen, grupo Moreira Sales, família Almeida Braga (do banco Icatu) e Gávea Fund, de Armínio Fraga. No entanto, a proposta também representa a saída dos noruegueses da chefia da Aracruz. Empresa que eles trouxeram para o Espírito Santo durante a década de 1970.
O idealizador da Aracruz, Erling Lorentzen, recebeu um grande empréstimo do BNDES, livre de qualquer cláusula que a obrigasse, como era praxe no banco, a ficar com os custos da inflação, muito elevadas à época. O norueguês também conseguiu levantar todos os recursos disponíveis do Geres para aplicação, no período, na economia do Estado.
Para fechar essa relação, o BNDES ainda comprou ações da Aracruz, em uma maneira vista como forma de conceder um outro empréstimo privilegiado, evitando, assim, o que era o objetivo da empresa, o maior emprego de recursos financeiros no período relativo à construção do seu parque industrial. Tudo isso contribuiu para a construção de um modelo da empresa privada feita à custa do dinheiro público.
Além dos vultosos empréstimos, em condições mais “camaradas”, a empresa também recebeu mais na frente, para escoar a sua produção de celulose, da Portobras um porto privado no município, o Portocel, construído com recursos do governo federal e entregue à Aracruz por preço muito aquém do seu real valor.
Esse modelo chegou até mesmo à vila de casas construídas para abrigar seus funcionários mais categorizados. O bairro Coqueiral foi passado para as mãos do poder público, a prefeitura de Aracruz, que arcou com os custos de sua manutenção.
(Por Nerter Samora,
Século Diário, 06/08/2008)