Alguns defendem que orla seja usada para alavancar turismo e outros temem ‘privatização’
Faltou espaço nas galerias do plenário da Câmara de Porto Alegre para comportar os interessados no tema da audiência pública promovida ontem à noite: o polêmico projeto para a área do Estaleiro Só. O impasse, que divide opiniões entre os defensores do empreendimento como forma de alavancar o crescimento econômico da Capital e os que querem garantir a preservação ambiental, se fez presente o tempo todo, por meio de cartazes, aplausos e vaias.
O debate, solicitado pelo Clube de Mães do Cristal, durou três horas e meia. Além de parlamentares, moradores de bairros da zona Sul da Capital e ambientalistas ocuparam a tribuna do plenário para se manifestar.
A vice-presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), Sandra Ribeiro, questionou o impacto da obra. 'Estamos diante de uma agressão tanto dos empreendedores quanto do poder público, que estão pensando em viabilizar interesses econômicos', disse Sandra. Se aprovado, o projeto, que tramita na Câmara, possibilitará a construção de altos edifícios para moradia junto à orla do Guaíba. A área foi adquirida em leilão pelo grupo gaúcho BM PAR. A ambientalista também afirmou que não foram realizados para o projeto estudos de impacto ambiental e de vizinhança.
O arquiteto Nestor Nadruz, que integra o Conselho do Plano Diretor da região RP6 e coordena o Movimento Porto Alegre Vive, considerou que o projeto pretende 'privatizar' o espaço público junto ao Guaíba e prevê edificações que representarão 'barreiras visuais, com prejuízo solar e esgotamento de vias'.
Os manifestantes contrários ao projeto do estaleiro temem também a inviabilidade do trânsito no local. 'Esse projeto criará uma muralha de concreto e trará impacto irreversível ao trânsito', afirmou a vereadora Margareth Moraes (PT). O vereador Beto Moesch (PP) também se manifestou contrário ao projeto, defendendo a abertura de diálogo sobre o tema.
O presidente do Sindicato da Hotelaria e Gastronomia de Porto Alegre (SindPoA), Daniel Antoniolli, apoiou a iniciativa. Ele defendeu que as construções irão oportunizar ao setor a geração de emprego e renda e alavancar o potencial turístico de Porto Alegre.
(Correio do Povo, 07/08/2008)