A disponibilidade de água está se tornando uma das principais questões globais. Diversas importantes bacias hidrográficas do planeta atualmente sofrem por conta da poluição de suas águas, sobre-exploração de recursos hídricos e pesqueiros, construção de inúmeras barragens, mudanças climáticas e introdução de espécies. Além disso, o uso da água aumentou mais que o dobro da taxa de crescimento demográfico no século passado.
Cerca de 70% de toda a água consumida no planeta tem relação com atividades de agricultura e criação de animais, o que torna essas atividades as mais danosas a mananciais hídricos. O impacto da agricultura é duplo: uma enorme quantidade de água doce é desviada para irrigação e, por outro lado, o escoamento desse líquido mesclado a pesticidas, fertilizantes e dejetos animais polui rios, lagos e regiões costeiras com agrotóxicos e nutrientes em excesso.
Bacias hidrográficas como do rio Ganges (Índia), rio Amarelo (China), rio Pó (Itália) e principalmente do rio Nilo (Egito), possuem grande percentual de água desviada para atividades de agricultura, comprometendo de forma extremamente perigosa os ecossistemas que dependem desses rios para sua manutenção.
O caso do rio Nilo é extremamente preocupante e pode ser tomado como exemplo. A agricultura irrigada na região cresce a uma taxa de 3% ao ano e, proporcionalmente, cresce o desvio de água do rio, o que gera inúmeros conflitos locais (Kameri-Mbote, 2007). Para remediar a situação, mapeamentos através de imagens de satélite estão sendo feitos e novas metodologias de modelagens de deltas estão sendo propostas a partir de modificações que vêm ocorrendo por conta das pressões antrópicas no delta do Nilo (Seybold et al., 2007).
Países que dependem das águas do Nilo estão concentrando esforços para minimizar impactos ambientais decorrentes de atividades de agricultura na região e diminuir os impactos econômicos que as atividades danosas ao sistema hidrográfico do Nilo ocasionam (Kendie, 1999).
No caso do Brasil, a bacia hidrográfica mais ameaçada é a Bacia do Prata (Formada pela confluência dos rios Paraná, Paraguai e Uruguai). A principal ameaça da bacia é a nova infra-estrutura a ser construída, incluindo barramentos e hidrovias. A bacia cobre cerca de 3 milhões de quilômetros quadrados e tem a agricultura e a pesca como principais atividades econômicas de impacto na região. Poluição e mudanças climáticas também ameaçam a região hidrográfica, onde vivem cerca de 100 milhões de pessoas.
É uma região de extrema importância biológica e os rios possuem complexos ecossistemas onde estão presentes peixes migradores de grande porte, economicamente importantes para o sustento de diversas famílias da região e diretamente afetados pela nova infra-estrutura de barragens e hidrovias propostas. A qualidade da água também é diretamente afetada pela mudança na conformação dos rios, onde proliferam macrófitas e microorganismos, já que a dinâmica dos rios é alterada por inúmeros barramentos em seqüência.
Os ecossistemas que sustentam a vida na Terra são extremamente frágeis e possuem uma gama de relações ecológicas extremamente complexas. Uma consciência cada vez maior de nossa dependência do mundo natural e dos recursos hídricos para manutenção da vida no planeta poderia ocasionar novos esforços para reverter o declínio dos ecossistemas e manter o acesso á água potável por parte da população mundial.
(Por Vânia Jofré Barragana(1) & Lucas Gonçalves da Silva(2), Ecoagência, 06/08/2008)
(1) Bióloga, Laboratório de Microbiologia – Universidade Federal do RS (2) Biólogo, Laboratório de Ecologia Aquática – Pontifícia Universidade Católica do RS.