Na contramão da tendência, município opta por veículo que não polui e prescinde de gastos com gasolina
Enquanto a Capital se prepara para extinguir o trânsito de carroças em oito anos, um município gaúcho renova sua frota. A prefeitura de Tapes entregará hoje 15 desses veículos, adquiridos com verbas do governo federal, para uso na coleta de lixo da cidade.
O serviço, realizado atualmente por dois caminhões do município, será executado pelas carroças na segunda-feira por meio da recém-criada Cooperativa Mista dos Carroceiros e Recicladores (Coopercare). Comprados com recursos do programa Catando Renda, do Ministério do Trabalho, cada veículo, produzido em uma fábrica de Sobradinho, custou R$ 1.850 e deverá atender a uma região da cidade diariamente, pela manhã. Os carroceiros usarão seus próprios animais.
– Tem gente que acha que estamos regredindo, mas há países de primeiro mundo que usam isso – afirma o coordenador do sistema de coleta e triagem de lixo, Luiz Carlos Aguiar, referindo-se a pequenas cidades francesas que adotaram o sistema por questões ambientais.
Além de não ser poluente, a prefeitura defende que a novidade irá diminuir custos de gasolina e manutenção dos caminhões, melhorar a coleta e gerar renda aos trabalhadores. Para não sujar as ruas, eles deverão recolher os dejetos de seus animais e, futuramente, uma espécie de fraldão para os cavalos poderá ser adotado. Manifestações de organizações protetoras de animais ainda não chegaram à administração municipal, mas o prefeito Sylvio Tejada Xavier (PDT) diz estar preparado para as críticas e planeja a contratação de um veterinário para cuidar dos animais.
A iniciativa faz parte de mudanças no destino do lixo em Tapes, que deverá criar um aterro municipal. Conforme os idealizadores, o sistema funciona para um município de 18 mil habitantes, mas não para a Capital, onde a votação da lei para o fim de veículos de tração animal, em junho passado, gerou grande polêmica.
– Porto Alegre tem muitas carroças, e o trânsito é muito diferente do nosso. É outra realidade – opina Tejada.
Trabalhadores festejam chegada do veículo
Na vida de Flávio Luiz Ribeiro Ferreira, 40 anos, e de seus 14 colegas, a novidade traz outras mudanças. Acostumados a usar o veículo para extração de areia de arroios e sangas para a construção civil, eles comemoram a renda extra que deverá entrar com o recolhimento de lixo. Luvas, botinas, jalecos e outros equipamentos de segurança farão parte do uniforme.
– É melhor até para a preservação da saúde da gente, não precisamos mais trabalhar na água. E para os cavalos, também será mais leve. Eles passam o mesmo trabalho que a gente na extração de areia – conta Ferreira, que preside a cooperativa.
Os caminhões continuarão a realizar a coleta na principal via da cidade, a Avenida Assis Brasil, e para reforço em épocas de veraneio, quando a Lagoa dos Patos atrai visitantes para o município. A solenidade está programada para hoje, às 11h, em frente à prefeitura, com a presença de um representante do Ministério do Trabalho. Além dos veículos e de outros materiais para os carroceiros, haverá a entrega de equipamentos para cooperativas de costureiras e de pescadores.
(Por Melissa Becker, Zero Hora, 07/08/2008)