Apesar de representarem problemas de segurança e funcionamento, instalações inadequadas ocasionam um desperdício de energia bem menor, quando comparado ao que resulta dos hábitos de consumo e de alguns tipos de iluminação e eletrodomésticos de baixa eficiência. Para estimar a perda média de energia ocasionada por incorreções em instalações residenciais, o engenheiro eletricista Ricardo Santos d’Avila reuniu em sua pesquisa dados disponibilizados por outros estudos e associações de fabricantes com resultados obtidos em experimentos realizados nos laboratórios da Seção Técnica de Altas Correntes do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da USP.
O cálculo foi feito considerando-se apartamentos de 50 até 100 metros quadrados que apresentassem inadequações em componentes das instalações (interruptores, plugues, tomadas, disjuntores e emendas) e na seção (calibre) do fio de cobre utilizado. A espessura do fio de cobre escolhido para uma instalação deve ser apropriada à corrente elétrica que vai passar por ele, como explica o engenheiro: “Fios de menor seção representam economia imediata, já que o cobre é um material caro, que vem sofrendo sucessivas altas de preço nos últimos anos. Apesar disso, fios muito finos usados para passagem de altas correntes ocasionam superaquecimento do material, o que pode trazer perda de energia e, principalmente, riscos à segurança”.
De posse dos resultados iniciais, d’Avila calculou a projeção de economia para um consumidor residencial que adequasse sua instalação às normas, em comparação ao valor gasto para realizar as modificações e concluiu que isso não representaria vantagem financeira ao usuário doméstico. “Considerando a pior situação encontrada nas avaliações realizadas, em que a perda de energia total da instalação fosse de 2,23%, um proprietário que consumisse em média 50 quilowatts-hora (kWh) por mês demoraria 120 anos para repor os custos com material e mão-de-obra”, explica.
Entretanto, baseado nos mesmos dados, d’Avila também fez projeções para a economia em grande escala, concluindo que tais adequações trariam uma redução de 97 mil quilowatts-hora (mWh) por ano para a cidade de São Paulo, por exemplo – diminuição que pode ser considerada representativa numa época em que motivações ambientais e problemas de infra-estrutura obrigam a sociedade a pensar em soluções para economia de energia.
Apesar de os hábitos pouco econômicos de consumo e os eletrodomésticos projetados sem esta preocupação causarem muito mais desperdício de energia do que problemas nas instalações, mesmo do ponto de vista individual há motivos suficientes para os proprietários de imóveis corrigirem as instalações elétricas. Primeiro porque atender às normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) constitui uma obrigação legal. Além disso, erros e improvisos podem causar mau funcionamento da instalação, e o mais perigoso: choques e incêndios.
Para o pesquisador, a questão da segurança de equipamentos e peças evoluiu bastante no Brasil, já que para que estes circulem no mercado devem levar o selo de segurança do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO). “O problema é que os materiais, mesmo certificados, passam sempre pela intervenção da mão-de-obra de eletricistas e operários, que muitas vezes não têm a qualificação necessária para realizar a instalação”, ressalta.
Para diminuir este problema, organizações de engenheiros, fabricantes, bombeiros e sindicatos têm promovido programas de orientação, qualificação da mão-de-obra e também de inspeções de instalações para diagnosticar erros e propor ajustes. Como exemplo, ele cita o Programa Casa Segura, uma parceria destes grupos que busca orientar a população sobre a necessidade de se modernizar as instalações elétricas.
Eletrodomésticos ineficientes
Hábitos pouco econômicos dos consumidores, como banhos demorados e com o chuveiro na chave “inverno” durante o verão, portas de geladeira abertas várias vezes ao dia sem necessidade, luzes — principalmente as incandescentes — acesas de dia, e máquinas de lavar roupas ligadas sem estarem cheias, precisam ser mudados. Mas eletrodomésticos ineficientes também têm grande parcela de culpa no desperdício de energia.
“O conceito de eficiência energética é ligado à conversão da energia: quantidade de energia utilizada para realizar trabalho – aquecimento, resfriamento, movimento, etc. – com as menores perdas possíveis. As perdas sempre ocorrem por questões físicas, em função das chamadas Leis da Termodinâmica”, esclarece o engenheiro, acrescentando que defeitos nas vedações e isolações térmicas destes aparelhos podem trazer o mesmo problema.
Perdas em outros condutores
Na mesma pesquisa, d’Avila também avaliou perdas em outros tipos de condutores, usados em instalações onde há maior gasto de energia, como indústrias e edifícios. Este é o caso dos chamados barramentos blindados, que são linhas elétricas pré-fabricadas para instalações industriais – por onde circulam, geralmente, elevadas correntes elétricas –, além propiciarem facilidades de implementação e utilização em instalações elétricas de imóveis comerciais e residenciais.
Mais informações: (0xx11) 3091-2564/2564, e-mail ravila@iee.usp.brEste endereço de e-mail está protegido contra SpamBots. Você precisa ter o JavaScript habilitado para vê-lo. , com Ricardo Santos d’Avila. Pesquisa orientada pelo professor Geraldo Francisco Burani
(Por Luiza Caires, especial para a Agência USP, 06/08/2008)