A crise dos alimentos está tão presente no noticiário como nas estratégias das multinacionais de biotecnologia. Mesmo contra todas as evidências mostrando que os transgênicos não são necessários para garantir a alimentação humana, as empresas vêm usando a alta do preço dos alimentos para renovar suas promessas e campanhas de propaganda.
Recentemente o Dr. Doug Gurian-Sherman, pesquisador sênior da Union of Concerned Scientists, publicou artigo em um jornal americano criticando a “cultura dos exageros” ligada à promoção dos transgênicos. Para ele, após 20 anos de pesquisa e 13 de uso comercial da transgenia já é possível avaliar suas perspectivas futuras.
O pesquisador da organização científica baseada em Washington relembra que até o momento os transgênicos proporcionaram progressos mínimos para as grandes questões ligadas à produção de alimentos, como produtividade, tolerância a adversidades ambientais e aumentos da sustentabilidade agrícola. Além disso, ainda é preciso resolver o problema dos frouxos processos regulatórios de avaliação da segurança alimentar e ambiental dos transgênicos.
A agricultura é responsável por cerca de 70% da água consumida pelo ser humano. Somado a isso, a agricultura industrial é grande responsável pela degradação do solo e pela geração de poluição com agrotóxicos, fertilizantes e gases causadores do efeito estufa. A conclusão evidente é que esse quadro precisa ser revertido para que a produção de alimentos seja feita sem degradar o meio ambiente.
Para Gurian-Sherman é preciso ser claro em relação aos transgênicos. Até hoje nenhum transgênico comercializado aumentou a produtividade das plantações. Da mesma forma, não há nenhum transgênico no mercado que tenha sido geneticamente modificado para resistir a secas ou reduzir a poluição por fertilizantes. Nenhum.
Por outro lado, os conhecimentos gerados recentemente no campo da genética a partir de novos enfoques estão aumentando a versatilidade das técnicas de melhoramento genético sem a necessidade de se recorrer à transgenia.
Em muitos casos, afirma Gurian-Sherman, a ciência da agroecologia produz resultados equivalentes ou mesmo superiores, mas usando tecnologias mais baratas. O uso de inseticidas pode ser reduzido pela diversificação e rotação de culturas. A erosão dos solos pode ser controlada pela adoção de adubos verdes e de cobertura morta. Estas e outras práticas melhoram o solo, que por sua vez retém mais água e favorece os cultivos em períodos sem chuvas. Os sistemas de irrigação por gotejamento, por exemplo, são bastante eficientes e reduzem o consumo de água.
Muitos desses temas foram discutidos em publicação recente conveniada pela ONU e pelo Banco Mundial sobre o estado da pesquisa agrícola no mundo. Como conclusão, o relatório aponta que o papel dos transgênicos no aumento da segurança alimentar deve ser secundário em relação a outros enfoques.
O pesquisador conclui dizendo que até o momento as promessas infladas da indústria da biotecnologia não encontram respaldo científico e que a retórica por ela empregada obscurece nossas opções.
Para Gurian-Sherman, isto pode afastar investimentos no melhoramento genético convencional e na agroecologia, embora os resultados históricos mostrem que estes sim deveriam liderar a agricultura para alimentar o mundo.
O artigo citado foi publicado no jornal The San Diego Union Tribune (18/06/08).
(AS-PTA, La Biodiversidad, 07/08/2008)