A qualidade da água do Rio das Velhas melhorou desde 2004, quando os técnicos do projeto Manuelzão começaram o monitoramento, mas os afluentes que cortam a capital – o Ribeirão Arrudas e o Córrego do Onça – estão praticamente iguais àquele período. Membros da equipe do projeto vão apresentar os dados comparativos no Congresso Ibero-Americano de Controle de Erosão e Sedimentos, que ocorre de hoje a sexta-feira na capital. Segundo o biólogo Wander Ribeiro Ferreira, da equipe de biomonitoramento, Belo Horizonte hoje é a maior preocupação entre os 51 municípios por onde passa o rio. “Aqui o pior problema é esgoto, mas a população contribui para a piora, com lixo.”
Os dados parecem distanciar o Rio das Velhas da Meta-2010, proposta do Manuelzão e do governo do estado para navegar, pescar e nadar, até 2010, na extensão do rio que passa pela região metropolitana. “Estamos batalhando para isto, mas seria necessário começar a captação de esgoto imediatamente para conseguir em dois anos as esperadas condições”, acredita Ferreira.
Nas águas que passam pela capital mineira, diz o pesquisador, sobram principalmente minhocas aquáticas nomeadas oligochaetas e as larvas chironomidae. São tipos de “bentos” ou insetos aquáticos que servem para medir a qualidade da água. Os dois mais abundantes em BH são muito resistentes à poluição e indicam desequilíbrio do meio. “Seus predadores seriam os peixes, mas não há peixes suficientes, e os bentos se alimentam de matéria orgânica, muito presente em função do esgoto.”
Há quatro anos, a população de bentos na capital tinha o mesmo perfil. “É porque até tivemos as estações de tratamento de esgoto, mas elas ainda não funcionam plenamente, principalmente a estação do Onça, que é uma esperança grande para melhoria da água.” A assessoria de imprensa da Copasa informou que até 2010 as duas estações de tratamento podem estar operando com total capacidade, o que garantiria captação de 100% do esgoto da capital.
Sobreviventes
Em contrapartida, a análise dos insetos aquáticos mostram melhores níveis de qualidade em praticamente todos os outros trechos. Alguns tiveram respostas ainda mais significativas, como a nascente em São Bartolomeu, no distrito de Ouro Preto, e trechos em Curvelo e Corinto. Nas duas cidades, a descoberta recente de espécies de trichópteras e plecópteras, tipos de bentos que não sobrevivem em ambientes poluídos, foi uma conquista. “Antes, a gente nem catalogava esses organismos que são mesmo muito sensíveis a ambientes poluídos.” Para os pesquisadores, foram os trabalhos de conscientização da população que trouxeram mudanças.
Na região metropolitana, apesar de ainda não ter 100% de esgoto tratado, já houve melhoria em algumas cidades, como Jequitibá, a 65 quilômetros da capital, onde os pescadores anunciam a volta do dourado, depois de dez anos sem vê-lo na região. “O peixe está subindo mais o rio, o que significa melhoria da qualidade da água, mas a verdade é que os índices físico-químicos ainda estão muito abaixo do desejado”, afirma um dos coordenadores do Manuelzão, Rogério Sepúlveda.
(Por Bianca Melo, Estado de Minas, UAI, 05/08/2008)